Os Problemas Taxonómicos dos Prémios de BD da Amadora (PBDA)

Já é habitual os PBDA apresentam situações difíceis de compreender e para as quais existem soluções simples.

Lá voltamos nós aos prémios e às controvérsias desnecessárias! Embora não haja grandes críticas a fazer sobre os vencedores dos PBDA (Prémios de Banda Desenhada da Amadora) de 2023, existem questões relacionadas com a taxonomia e a concepção dos prémios que continuam a gerar conversa.

Para começar, deixem-me fazer um breve resumo das mudanças que ocorreram nos Prémios do Amadora BD desde a última vez que escrevi sobre eles, começando pelo facto de ter mudado a designação de Prémios Nacionais de BD (PNBD) para Prémios de Banda Desenhada da Amadora, algo que faz mais sentido e se aprova.

Outra alteração relevante diz respeito ao número de prémios atribuídos, que passara do 80 para o 8, antes existia um excesso existindo um número absurdo de categorias, onde se premiava tudo e qualquer coisa incluindo livros que não eram de BD, agora existem umas parcas cinco categorias, tendo sido eliminado palha desnecessária mas também a distinção individual para argumentistas e artistas.

No entanto, a redução no número de prémios a atribuir não resolveu totalmente as situações que deixa o público perplexo, e um dos culpados é a taxonomia, o sistema de categorização dos prémios, que por vezes apresenta nomes demasiado extensos e pouco esclarecedores, para além de faltar um conceito claro do que é suposto ser premiado e do que é suposto os prémios promoverem.

Existem categorias como “Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português”, “Melhor Obra Estrangeira de Banda Desenhada Editada em Português” e uma categoria chamada “Melhor Edição Portuguesa de Banda Desenhada” que levanta dúvidas quanto à sua finalidade. Seria mais sensato substituir este título por “Prémio Memória” ou “Melhor Reedição” (para obras com mais de 15/20 anos), mesmo que nunca tenham sido previamente editadas em Portugal. Dessa forma, haveria duas categorias para premiar álbuns novos (portugueses e estrangeiros) e outra para destacar a qualidade do material reeditado ou antigo que tenha sido publicado no ano anterior em Portugal.

A categoria “Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português” poderia ser simplificada para “Melhor Álbum de BD Portuguesa”, eliminando a palavra “autor” para evitar situações como a nomeação de “As Muitas Mortes de Laila Starr”, de Ram V e Filipe Andrade, nessa categoria. Este álbum foi concebido e editado no mercado norte-americano e não deveria concorrer numa categoria destinada a premiar trabalhos concebidos para o mercado português, ou, pelo menos, é isso que aconteceria num mercado minimamente desenvolvido.

É comum que os prémios sejam atribuídos com base no mercado para o qual foram produzidos, e não com base na nacionalidade dos autores. Por exemplo, “Watchmen” é da autoria de dois ingleses, mas é um clássico da BD norte-americana. “Judge Dredd” é um clássico da BD britânica, mas foi co-criado por um espanhol (Carlos Ezquerra). Alejandro Jodorwosky é chileno, mas as suas obras são clássicos da BD franco-belga.

Esses são apenas exemplos de uma realidade internacional que não é seguida por cá, devido a um chauvinismo pacóvio desnecessário. Esse chauvinismo manifesta-se na necessidade de querer premiar “os nossos”, mas mas não os enquadra na categoria adequada (melhor álbum estrangeiro), fruto (talvez) de uma mentalidade pacóvia de colocar os autores nacionais no mesmo patamar que os autores estrangeiros, mesmo quando há validação externa.

“As Muitas Mortes de Laila Starr” foi nomeada para quatro categorias nos prémios Eisner e foi uma das melhores obras editadas nos EUA. Portanto, não seria estranho vê-la nomeada para o prémio de “Melhor Álbum Estrangeiro Editado em Portugal”. É importante destacar que duas das nomeações que o álbum recebeu foram individuais para Filipe Andrade, porque, lá fora, o que importa não é a nacionalidade, mas sim trabalhar para o mercado norte-americano.

Para além desta questão que já é velha e perdura, também queria salientar que os prémios poderiam ser expandidos com a adição de mais categorias, como “Melhor Argumentista” e “Melhor Desenhista”, pois há quantidade e qualidade para justificar essa inclusão. Também poderia ser criada uma categoria para a “Melhor História Curta”, uma vez que também há qualidade e abundância nesse segmento.

Após essa análise, críticas e sugestões, aqui fica uma lista de potenciais prémios e uma nova taxonomia:

  1. Melhor Álbum de BD Nacional / Português: obra concebido para o mercado nacional, independentemente da nacionalidade do autor.
  2. Melhor Argumentista: autor a trabalhar, mesmo sem remuneração, para o mercado nacional, independentemente da sua nacionalidade.
  3. Melhor Desenhista: autor a trabalhar, mesmo sem remuneração, para o mercado nacional, independentemente da sua nacionalidade.
  4. Melhor Álbum de BD Estrangeiro: obra produzida inicialmente para outro mercado, independentemente da nacionalidade do autor.
  5. Melhor Reedição / Prémio Memória: reedição ou obra publicada há mais de 15/20 anos, independentemente da sua proveniência.
  6. Melhor História Curta – independentemente de ser uma edição “profissional” ou “amadora”.
  7. Melhor Fanzine / Edição Independente – para premiar fanzines ou edições de baixa tiragem.”

Após estas sugestões, encerro a minha contribuição para este peditório que já cansa.

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