História do AmadoraBD: 1996

O AmadoraBD de 1996, mais do que um festival de autores, foi um festival de nações. Em destaque estavam, além de Portugal, o Brasil, a Finlândia, os Estados Unidos da América, a ex-URSS e, sobretudo, o Japão.

O AmadoraBD de 1996, mais do que um festival de autores, foi um festival de nações. Em destaque estavam, além de Portugal, o Brasil, a Finlândia, os Estados Unidos da América, a ex-URSS e, sobretudo, o Japão. Para além disso, de Espanha veio Miguel Angel Martín, de França vieram Fred e Crespin e da Grã-Bretanha veio Hunt Hermeson. Ainda de assinalar as pequenas exposições do suíço Derib e do argentino Quino.

[pullquote align=”right”]A edição portuguesa de obras de autores japoneses iniciou-se nesse ano de 1996 e os editores apostavam forte.[/pullquote]Entre tantas nações, unidas pela BD, o Japão era o que mais se destacava. A edição portuguesa de obras de autores japoneses iniciou-se nesse ano de 1996 e os editores apostavam forte. O programa “especial Japão” incluía, além da exposição, animação diária, ligação à Internet, passagem de filmes de anime e presença de autores em debates e sessões de autógrafos. O Japão também “tomou conta” da área comercial, entre edições portuguesas, originais ou traduzidas noutros idiomas, posters e outros produtos derivados. Foi a verdadeira pré-história dos eventos que, atualmente, celebram manga, anime e cultura japonesa.

Apesar de tudo, a Fábrica da Cultura vinha habituando o público do festival a exposições de originais, e o facto de a exposição japonesa apresentar apenas reproduções diminuiu o impacto da “invasão nipónica”.

A fraca produção nacional de 1996 obrigou o festival a aventurar-se como editor, reunindo em álbum – “O Síndrome de Babel e Outras Histórias” – cinco histórias de BD que apresentavam a cidade da Amadora como ponto de partida. Victor Mesquita, Nuno Saraiva, Luís Louro, Jorge Mateus e Diniz Conefrey foram os autores escolhidos para a obra que acabou por representar, ao lado da editora Pedranocharco, a oferta do Festival em termos de exposições nacionais.

À entrada da Fábrica da Cultura estava a exposição dedicada a Miguel Angel Martín, bastante reservada e com letreiros de “para maiores de 18 anos”, não fossem repetir-se as reclamações que Manara originara na edição anterior. O espaço dedicado à obra de Fred mostrava-se também algo discreto, não disfarçando a falta de originais. Logo a seguir, entrava-se no espaço de produção nacional. A Pedranocharco expunha os trabalhos de José Carlos Fernandes, Borges, Zeu e do Fantasia Estúdios. Depois, numa grande área compartimentada por enormes caixotes de carga, estavam as vozes e olhares de Mesquita, Saraiva, Louro, Mateus e Conefrey.

O espaço dedicado à obra do singular Hunt Emerson era dos cenograficamente mais animados e coloridos, antecedendo uma mostra de super-heróis (centrada sobretudo nos anos sessenta e setenta) e a curiosa exposição finlandesa (que os autores representados se encarregaram de decorar ao vivo). Uma muito interessante mostra de cartoon da ex-URSS obrigava o visitante a fazer vários ziguezagues, antes de “mergulhar” nas cores fortes do universo de Michel Crespin. A exposição dos “manga” japoneses inventariava muitos autores e tendências. Finalmente, o espaço que em 1995 apresentara “Peter Pan” estava bastante melhor aproveitado, com a colectiva “2Xbrasil”. Os trabalhos participantes nos concursos de banda desenhada e cartoon foram apresentados num tímido princípio de piso superior, recebido com algum receio pelos visitantes.

Os autores presentes foram Victor Mesquita, Nuno Saraiva, Luís Louro, Jorge Mateus, Diniz Conefrey, Fred (França), Hunt Emerson (Inglaterra), Miguel Ángel Martin (Espanha), Michel Crespin (França), JAL (Brasil), Priscilla Farias (Brasil), Natsumi Ueyama (Japão), Ryoji Minagawa (Japão), Tarmo Koivisto (Finlândia), Toshifumi Onodera (Japão), Vladimir Mochalov (Rússia), Yasuhito Yamamoto (Japão), Ari Kutilla (Finlândia), Bill Wray (E.U.A), Ilpo Koskela (Finlândia), Jope Lempi (Finlândia), Victor Borges, António Jorge Gonçalves, José Garcês, José Ruy, Nuno Artur Silva

Quanto a prémios, o Melhor Álbum Português não teve vencedor, mas três menções honrosas: Trilogia com Tejo ao Fundo, de Victor Mesquita (Asa); Alice, de Luís Louro (Asa), e Filosofia de Ponta, de Júlio Pinto e Nuno Saraiva (Contemporânea). O troféu para o Melhor Álbum Estrangeiro Editado em Portugal distinguiu Os Círculos do Poder, de Christin e Mézières (Meribérica-Liber). O troféu Honra distinguiu Vasco Granja.

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