Esse reconhecimento, no passado dia 18 de outubro de 2023, foi celebrado com uma Sessão Solene, presidida pelo Ministro da Cultura, Dr. Pedro Adão e Silva, e com a participação de especialistas em banda desenhada, ao lado do Cinema e da Dança. Além disso, a cerimônia introduziu dois novos membros, Penim Loureiro e Paulo Monteiro, no seio da Academia.
No entanto, essa notícia gerou uma série de reações mistas, com algumas vozes críticas questionando a necessidade e o significado desse reconhecimento. Afinal, o que representa tornar a BD uma das Belas Artes em Portugal?
No blogue Notas Bedéfials, Nuno Neves expressa seu cepticismo em relação a essa mudança, levantando questões sobre a relevância do reconhecimento pela Academia Nacional de Belas Artes. Ele observa que a BD já tem uma história rica em Portugal, datando do século XIX, com obras pioneiras como “Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa”, publicado por Bordallo em 1872. A BD enfrentou desafios significativos ao longo dos anos, incluindo estigmas de infantilidade, censura e rótulos de sub-cultura antipedagógica. No entanto, a BD sempre desempenhou um papel importante na cultura popular e na literatura portuguesa.
Para Neves, o reconhecimento pela Academia parece desnecessário, considerando que a BD já está bem estabelecida em Portugal, com um mercado de edição próspero, festivais dedicados e autores reconhecidos internacionalmente. Ele acredita que a verdadeira promoção da BD acontece quando instituições como o Plano Nacional de Leitura a apoiam, ou quando as autoridades locais financiam festivais e residências artísticas.
No entanto, a opinião de Paulo Monteiro, um dos novos membros da Academia Nacional de Belas Artes, destaca o valor desse reconhecimento. Ele considera que a incorporação da BD nas Belas Artes é um passo importante, pois confere um estatuto de “Arte maior” à BD, ajudando a combater preconceitos que muitas vezes a cercam. Além disso, ele argumenta que esse reconhecimento pode levar a uma mudança na percepção da BD e de seus autores, conferindo-lhes um estatuto mais respeitável e mais reconhecimento na cena cultural contemporânea.
Penim Loureiro, outro membro da Academia, observa que a instituição está se esforçando para abraçar a BD como parte de seu patrimônio cultural a ser preservado. Ele incentiva a comunidade da BD a se unir para aproveitar as oportunidades geradas por esse reconhecimento e colaborar com a Academia na promoção da BD em Portugal.
Em última análise, a inclusão da Banda Desenhada nas Belas Artes em Portugal é uma mudança significativa e emocionante, independentemente das opiniões divergentes. Representa uma evolução cultural e uma abertura à diversidade de expressões artísticas, abrindo portas para o reconhecimento da BD como uma forma de arte respeitável e valiosa em Portugal. Este é, sem dúvida, um marco na história da BD no país e um passo em direção a uma compreensão mais ampla de sua importância na cultura contemporânea.