Mais do que uma afirmação sobre a pintura, o Prémio Nacional de Cultura e Artes representa o reconhecimento da banda desenhada angolana entre outras formas de expressão artística, bem como o reconhecimento de um grande trabalho de afirmação, que vem sendo construído pelo Núcleo de Jovens Angolanos de Banda Desenhada, passando pela iniciativa do Luanda Cartoon, e pelas pontes que têm sido estabelecidas com a banda desenhada portuguesa.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes é uma prestigiada distinção que pode abrir outras portas ao projeto desenvolvido pelo núcleo. Atribuída em noite de gala (a que nem faltou Anselmo Ralph), na presença de diversos representantes do governo angolano e de outras entidades públicas, a distinção engloba estatuetas, diplomas de mérito, e um prémio financeiro de três milhões e meio de kwanzas por disciplina.
Os autores Olímpio de Sousa, Lindomar de Sousa e Tché Gourgel têm sido presença frequente nos festivais portugueses, sobretudo no Amadora BD. Olímpio e Lindomar integraram, em 2010, o “Encontro Lusofonia: Nona Arte em Língua Portuguesa”, surgido da iniciativa de Nelson Dona e que contou com a presença de quatro países (Angola, Brasil, Moçambique e Portugal) representados por autores e especialistas. Já com o contributo de Tché, deram sequência às pistas do Encontro, sobretudo no fanzine BDLP, em resultado da boa ligação entre o angolano Estúdios Olindomar e o português Grupo Extractus (muito por ação de João Mascarenhas). O fanzine seria distinguido com diversos prémios em diferentes países. Mas esta sequência também tem sido garantida através dos festivais. Não apenas pela presença dos autores angolanos nos festivais portugueses, e não apenas pela presença de autores portugueses no Luanda Cartoon, mas pelo desenvolvimento da fórmula do Luanda Cartoon a o nível local (Lubango Cartoon, Benguela Cartoon, …).
O Prémio Nacional de Cultura e Artes reforça esta dinâmica, e distingue uma certa identidade angolana, bem exemplificada no texto de apresentação da personagem do Cabetula, a mais famosa criação dos irmãos Sousa, que tem sido um dos rostos do projeto: “Meu nome completo é Cabetula Cambuinje Adão (Até que é um nome leve), sou natural de Catete, por isso é que sou bué vivo, não gosto de dizer a minha idade, sou fruto da bela imaginação do Lindomar e do Olímpio, meu signo é ratazana, minha música preferida é Kú duro. Já fui roboteiro, batuqueiro, deputado, médico, agora sou kunanga. Sou bilingue (falo duas línguas: português e calão) mas a preferida é o calão, gosto muito de utilizar o calão, mas ai de mim se o Lindomar ou o Olímpio me apanham!…É que eles não gostam, são muito exigentes, só que eu já estou bué acostumado. Gosto muito de cretcheus (garinas, bijucas, damas, miúdas boas) de todo o tipo: escuras, latonas, lapampas, morenas, quilombas tudo vai, até porque eu não sou “pelista”(racista). Gosto do copo (álcool) de preferência kimbombo; gosto de ambientes duvidosos (festas, óbitos e maratonas). Se és homem serás meu avilo (amigo, kamba), se fores moça corres o risco de “passares na mulumba”.”