Identidade

O Grupo Leya é um grupo editorial multinacional português, presidido por Miguel Pais do Amaral. Na sua origem, no final de 2007 e início de 2008, pretendia ser o maior grupo de língua portuguesa.

Definindo bases de operação em Angola, no Brasil, em Moçambique e em Portugal, agregou uma série de editoras, incluindo as edições Asa que, na altura, dominavam o panorama editorial de banda desenhada em Portugal.

A questão da sobrevivência das identidades agregadas nunca foi pacífica.

Fora da BD, as obras de Saramago, Sophia de Mello Andresen, Mário de Carvalho, José Eduardo Agualusa e outros acabaram por deixar o grupo.

Na BD, a Leya brasileira criou o selo Barba Negra, numa parceria com a editora independente com o mesmo nome, de Sandro Lobo. Nos anos de parceria, a editora foi nomeada para o Troféu HQ Mix (em 2011 e 2012, vencendo em 2012). Foi a editora de livros como Morro na Favela, de André Diniz, que em Portugal foi publicado pela Polvo, e não pela Leya.  Após o fim da parceria, Sandro Lobo acabou por não dar continuidade à Barba Negra.

Em Portugal, Maria José Pereira, o motor da edição de BD da Asa também acaba por deixar a Leya, e a Asa perde a posição dominante que tinha.

Ao mesmo tempo, tem sido sob a forma do fanzine independente BDLP que se tem afirmado a identidade da banda desenhada de expressão portuguesa, completamente à margem de projetos de mercado como o do grupo Leya.

Na Amadora, decorre mais uma edição da feira do livro, a tal que já não é o que era em termos de expressão e de número de livros, não deixando o Grupo Leya e o desaparecimento das identidades individuais das editoras que agregou de ter algumas responsabilidades neste declínio.

Na perspetiva de dar o próximo passo, a feira deste ano virou-se para as artes gráficas, acolhendo alguns stands de pintores e ilustradores. E foi neste caminho improvável que a banda desenhada volta a marcar presença. Num dos stands da feira, estão Fernando Relvas e Nina Govedarica, com uma oferta diversificada (entre os dez e os oitocentos euros) que inclui o novo álbum (Nau Negra – The Last Black Ship) e originais de banda desenhada, designadamente de L123. Mas também as belíssimas obras de Nina Govedarica – para diferentes preços -, que são as maiores responsáveis pela forte identidade do stand, e que até acabam por dar a impressão de que a BD apareceu um bocadinho “à boleia” da pintura.

Na cidade da Amadora, a BD deveria ter sido a primeira ideia para o passo seguinte da feira. Apesar de ter posto fim à vertente editorial do CNBDI, o município da Amadora, podia, ainda assim, ter contribuído para uma maior representatividade da banda desenhada naquilo que continua a designar por feira do livro. Para além de todo o catálogo de edições da Câmara em torno da BD, ao lado de Relvas podiam estar outros autores com livros e trabalhos originais. Para próximas edições, podem pensar-se projetos em parceria com entidades como o Clube Português de Banda Desenhada.

É que este foi o ano em que a BD portuguesa perdeu dois importantes palcos que conservavam a sua identidade: a Loja das Coleções e a Feira do Livro de Poesia e de Banda Desenhada.

Sobrevivendo heroicamente à ausência de mercado, a identidade da BD nacional necessita de condições para se afirmar através de projetos de continuidade.

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