Entre os livros, o destaque vai para Jim Curioso. Bem servido por uma excelente exposição, o livro permite levar um bocadinho da magia do festival para casa. O sucesso do livro confirma que a melhor fórmula é livro + autor + exposição. Menção honrosa (por razões muito semelhantes) para O Baile, de Joana Afonso e Nuno Duarte, o livro que toda a gente procurava (e que já nem todos encontraram, porque se esgotou).
Entre os autores, destaco André Oliveira. É um dos grandes motores do atual momento da BD portuguesa, desdobrando-se em projetos extraordinariamente diversificados, sempre com a mesma disponibilidade e competência. O prémio para Melhor Argumento veio num momento de merecido reconhecimento, também por tudo o que está para além de “Hawk”. Menção Honrosa para Joana Afonso, incansável em filas de autógrafos sempre muito concorridas, e apresentando duas novidades na edição do festival em que é autora em destaque (ambas de grande nível).
Entre os editores, destaco a Polvo, sobretudo pela forma como soube renovar o espaço do stand ao longo do evento, beneficiando da vinda de autores com quem estabeleceu fortes ligações, como Alex Vieira ou Rafael Coutinho, mas também pelo elevado número de novidades editoriais. Menção honrosa para a Kingpin Books, cuja habitual boa estratégia permitiu este ano a gratificante surpresa do prémio para o melhor álbum de autor estrangeiro, com As Serpentes de Água de Tony Sandoval. Qualquer dos dois editores teve, também, um trabalho notável na promoção dos livros atrás destacados.
Entre as iniciativas, destaco as propostas de Nuno Saraiva: uma aula de desenho com modelo ao vivo para promoção de uma escola de artes, e uma “desgarrada ilustrada” que nos transportou para a “sua” Mouraria. O festival faz-se de novidade e de momentos memoráveis, e o contributo de Nuno Saraiva (onde se inclui a recriação da capa de um Batman satisfeito com as suas proporções anatómicas) foi excelente. Menção honrosa para a bem conseguida cerimónia de entrega dos prémios, que acolheu finalmente a velha ideia de Eduardo Conceição de distinguir duas cerimónias (mais curtas, em vez de uma única e interminável), sendo uma para os prémios infantis, e outra para os concursos e prémios nacionais de banda desenhada.
Entre os originais em exposição, destacam-se alguns que integram as mostras dedicadas aos super-heróis, especialmente os de Neal Adams, Frank Miller, Alex Ross e Moebius. Menção honrosa para os originais de Edmond Baudoin que integram a exposição central.
Entre os convidados internacionais, destaco exatamente Edmond Baudoin. Escrevo isto ainda antes da chegada do autor à Amadora, mas faço-o com toda a confiança depois de o ter conhecido pessoalmente aquando da sua primeira passagem pelo AmadoraBD. Para lá da banda desenhada, Baudoin é uma pessoa extraordinária, um ser humano exemplar. Menção honrosa para Joe Staton, que vinha com a lição bem transmitida por Lawrence Klein, e que se integrou rapidamente no espírito do festival, “autografando” muito mais folhas brancas do que livros, sempre com enorme entusiasmo e disponibilidade.
Em balanço da edição do festival, manteve-se o nível de 2013. Não é uma das melhores edições do evento, mas também não é das piores.
Dia 9, com o encerramento do festival, a Amadora começa a decidir se sai do mapa da banda desenhada até ao próximo mês de Outubro, ou se se mantém no mapa, assumindo um verdadeiro projeto que seja finalmente mais do que a mera construção de conclusões lógicas a partir de coincidências, ligações e reflexos entre diferentes edições do festival (ainda que seja um projeto necessariamente realista face, nomeadamente, às restrições orçamentais existentes). Veremos.
Hoje inaugurou-se a Bedeteca da Amadora. Esse projecto continuado pode ter nela um ponto focal mas é como acaba este artigo: veremos.
Queres desenvolver? É que eu tenho consciência que se inaugurou hoje a bedeteca – o Pedro também, e deverá abordar esse assunto – agora não vejo onde é que esse facto nega ou comprava o “veremos”.
O comunicado de imprensa sobre a bedeteca fala sobre “a aposta na Banda Desenhada, por parte da autarquia durante todo o ano”.
Ter um espaço dedicado exclusivamente à bd é muito bom mas se não se desenvolverem outras actividades acabamos por manter o marasmo.
A autarquia da Amadora já tinha um espaço dedicado exclusivamente à BD, e que desenvolvia actividades durante todo o ano: o CNDBI.
Agora passa a ter 3 espaços de referência: AmadoraBD, CNBDI e Bedeteca… em que medida é que estes espaços são complementares é algo que se verá. Agora única coisa que parece certa é que o “perigo” de extinção do AmadoraBD por agora não se coloca, creio.
A nível de um “plano” para BD é que ainda não se percebeu muito bem o que a CMA pretende em particular, ou qual é exactamente o ponto focal, ou quem coordena o projecto, do que tenho visto parece que a coordenação dos serviços (ABD, CNBDI e Bedeteca) é um supervisão autárquica como o que isso tem de bom e mau.
Muito obrigado pelos comentários. E sim, a bedeteca da Amadora e o plano da cidade para a BD são o assunto da crónica do próximo sábado.