Hector Lima: “É bem difícil conseguir remuneração com antologias”

Roteirista das pistas de dança e DJ de banda desenhada, Hector Lima é o coordenador da Inkshot, antologia de BD de autores brasileiros, editada nos EUA pela Monkeybrain e, disponível em qualquer parte do globo com ligação à internet.

Roteirista das pistas de dança e DJ de banda desenhada, Hector Lima é o coordenador da Inkshot, antologia de BD de autores brasileiros, editada nos EUA pela Monkeybrain e disponível em qualquer parte do globo (com ligação à internet) através da ComiXology.

Esta é uma pequena entrevista sobre esse projecto.

Chaka Sidyn: Como surgiu a Inkshot?

Hector Lima: A Inkshot surgiu de uma “ideia maluca sem noção” [era esse o título o email que enviei ao Pablo Casado] de mostrar como o mercado estadunidense poderia conhecer mais autores brasileiros de BD

Quem é o Pablo Casado e qual era a vossa relação?

O Pablo co-escreveu comigo a SABOR BRASILIS. Era conhecido meu de fóruns de BD e me entrevistou para o site Universo HQ. Nos aproximamos por afinidade de ideias e objectivos.

Tu já vinhas realizando alguns projectos a solo que tinham a ambição ser editados nos EUA. Porquê resolveste investir o teu tempo no projecto de uma antologia?

Porque, desde a época dos fóruns e lista de discussão de que participava, achava que juntos poderíamos fazer mais para chegar em outras paragens, só que faltava direcção. A Inkshot é uma espécie de teste e agora consolidação de algumas das ideias editoriais que eu defendia: distribuição digital, variedade de estilos e gêneros etc.

O projecto do Inkshot surge em 2008, o editorial foi escrito em 2010 a Inkshot foi editado pela Monkeybrain
este mês, em 2013. A que se deve este processo de 5 anos?

Ela estava pronta para ser publicada em 2010, ano em que eu mandei o pitch para algumas editoras. a IDW aceitou, por meio do selo Desperado do Joe Pruett – editor com gosto por antologias. Chegou a estar disponível para pré-encomenda na Amazon mas nunca na Diamond. A IDW decidiu não investir no lançamento por receio, devido à quantidade de autores desconhecidos, e pelo momento ruim, 2010 não foi um ano muito bom para a BD americana.

Antes da Monkeybrain chegaste a abordar outras editoras, como por exemplo a Image que tem publicado algumas antologias bem sucedidas?

Quando ela foi cancelada pela IDW o Joe Pruett disse que enviaria para a Image para ajudar, não cheguei a ter resposta sobre isso.

E como é que surge a Monkeybrain?

Eu já estava acompanhando a movimentação da MonkeyBrain e seus lançamentos digitais, compro regularmente alguns de seus títulos lançados pela ComiXology. Mesmo eles não aceitando oficialmente propostas “secas” resolvi arriscar e mandar no final de 2012. O livro já estava pronto mesmo e lançar em formato digital não teria os mesmos riscos que uma edição impressa.

O autor Dan Goldman ajudou na recomendação e o editor Chris Roberson adorou. Aos poucos fomos programando o lançamento.

Existem planos para uma edição impressa pela Monkeybrain?

A Monkeybrain começou uma parceria com algumas editoras após seu primeiro ano de vida e lançou colectâneas de alguns títulos mais bem-sucedidos em versões impressas. As parceiras são por exemplo com a Image e… IDW. Não há planos ainda, acho que vai depender de como forem as vendas digitais da Monkeybrain

Porque motiva é que a Inkshot é editado como um só volume em vez de uma mini-série que permitia ter um preço mais convidativo?

Pois, não sei. Acho que a melhor resposta para essa pergunta seria que uma das inspirações da Inkshot são os anuários de design. Achei que funcionaria melhor como um bloco único.

Nesse caso, a opção por ser um volume único foi vossa e não da Monkeybrain?

O volume único foi ideia minha, já chegou na Monkeybrain assim.

O Inkshot vai ter versão em português?
Havia uma editora no Brasil interessada mas por incrível que pareça não tenho todas as histórias em Português. Para traduzir seria um investimento. Foi um dos problemas de ter demorado tanto tempo.

A tradução da histórias não foi da responsabilidade dos autores?
Uma parte sim, outra parte fui eu e no fim a tradutora Anna Lim adaptou o que precisava e revisou tudo

Quanto pessoas é que estiveram envolvida na produção da antologia, sem contar os autores?

Seis pessoas: a tradutora, Felipe Sobreiro [capista e letreirador de algumas histórias], Pablo Casado [editor-assistente de roteiros e letreirador de algumas], George Schall e Felipe Cunha [diagramadores e designers] e eu.

Como é que foi feita a selecção dos autores?

Eu mandei um e-mail a todos os autores e outros se ofereceram. Foi só isso, mas com um detalhe: incentivei os roteiristas a mandarem material. E formei pares com desenhistas. No Brasil temos uma tradição forte de autores que façam tudo, mas acredito haver escritores com ideias boas mas sem saber como se publicar, como formar uma parceria com um desenhista.

As história publicadas na Inkshot são muito curtas, os autores tinham alguma limite mínimo e máximo para as suas histórias?

De 3 a 5 pranchas. esses eram o máximo e o mínimo

Isso não deixa pouco espaço para um argumentista desenvolver uma história? 

Poderiam ter sido mais páginas para menos autores, mas como ninguém seria pago de antemão a ideia seria mostrar o que cada um conseguiria fazer em poucas pranchas, o que muitos podem fazer sem comprometer muito do seu tempo. Se uma pessoas quer entrar no mundo da produção de BD e não consegue fazer nem 3 pranchas é melhor repensar.

A Inkshot surge só para mostrar o trabalho dos autores brasileiros nos EUA, como um portefólio colectivo, ou tem aspirações a publicação regular que permita aos autores desenvolverem o seu trabalho e serem remunerados?

Mostrar um panorama geral ao mercado dos EUA. É bem difícil conseguir remuneração com antologias… e não pretendo fazer outro volume da Inkshot, a menos que seja um a cada 10 anos.

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Mas uma publicação com menos autores e mais regular não faria sentido? Por exemplo um revista mensal ou trimestral com 3 historias de 8 páginas?

Em outra proposta faria, dentro da proposta de lançar um livro grande, inspirado em anuários, o formato em que a Inkshot foi lançada faz mais sentido. E ela já cumpriu parte do seu papel, que era revelar novos autores.
Sidney Gusman, coordenador editorial da Mauricio de Sousa Produções, viu um embrião da Inkshot em 2009 e convidou alguns de seus autores para participar dos álbuns em homenagem à carreira do pai da Turma da Mónica.

Não se pode dizer que tenha sido um mau começo!


A Inkshot está à venda na ComiXology, podem seguir os trabalhos individuais do Hector Lima no seu site ou através do Twitter. Podem encontrar mais informações sobre a Inkshot aqui.

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