Crítica: Águias de Roma IV

Uma crítica de Gabriel Martins ao quarto volume da série histórica de Marini.

Enrico Marini é um nome que dispensa apresentações no mercado de Banda Desenhada francófono. O desenhador é bem conhecido pelos seus trabalhos em “Gypsy”, “Estrela do Deserto” ou “O Escorpião”, contudo, se como desenhador não tinha provas a dar, como argumentista a história era outra. É aqui que nos surge “Águias de Roma” aquele que será o seu trabalho mais pessoal, uma vez que o autor está encarregue, pela primeira vez, do seu argumento também.

Em “Águias de Roma” Marini debruça-se sobre a batalha real da Floresta de Teutoburgo, a qual envolveu um enorme massacre entre forças romanas e dos povos germânicos, cujo domínio por parte de Roma vinha a ser cada vez maior. A fim de contar esta história, que decorre no ano 1 A.C., o autor utiliza o ponto de vista de duas personagens fictícias, as quais vão estar directamente envolvidas nos acontecimentos que irão conduzir à batalha mencionada.

O romano Marco e o bárbaro Ermanamer tinham tudo para ser inimigos, mas quando o segundo é trazido – ainda criança – como refém para Roma, acaba por formar fortes laços de irmandade com o primeiro, ao crescerem juntos na mesma casa. O problema é que por vezes o sangue é mais forte e quanto mais um Ermanamer adulto interage com o seu povo, mais sente a necessidade de se revoltar contra Roma, particularmente quando lhe é profetizado que será aquele capaz de unir os povos da Germânia contra o império tirano. É claro desde o início que “Águias de Roma” se irá focar no confronto entre estas duas personagens, cujas origens acabarão sempre por separá-las no futuro, voltando a colocá-las em campos opostos. Por mais que Roma mude, Marco será sempre seu filho, enquanto Ermanamer enteado.

Depois de um terceiro tomo mais focado no percurso de Marco, este quarto dedica-se a Ermanamer e à execução do seu plano contra Roma. Existe uma certa ironia e satisfação ao vermos Ermanamer aplicar o melhor que a educação romana lhe providenciou contra os próprios. Ele é um homem de convicções fortes que está preparado para sacrificar tudo pela sua missão, característica que o torna num guerreiro ainda mais ameaçador.

Nos primeiros dois volumes notam-se algumas fragilidades no argumento, os diálogos de Marini não impressionam e a trama é muito previsível. No entanto, a segurança do autor tem vindo a aumentar há medida que avançamos na série, algo bem notório neste e no volume anterior. Apesar do confronto entre grandes amizades não ser um tema de todo original, a forma como Marini o tem trabalhado em torno destas duas personagens tem sido suficientemente estimulante para nos manter interessados no seu desenvolvimento e conclusão.

Porém, se o confronto entre estes dois “irmãos” é um dos cernes da história, é com algum receio que vejo a possibilidade de Marini vir a demonizar Ermanamer – tendo em conta alguns desenvolvimentos neste quarto volume. Tanto Marco como Ermanamer são um bom retrato de dois homens separados por uma guerra entre os seus povos. Tornar um deles moralmente superior ao outro será lamentável em termos de desenvolvimento narrativo.

Onde o autor nunca deixa de impressionar é no seu retrato de Roma. Tanto a nível de traço como de cor, os cenários de Marini estão ao seu melhor nível. Neste volume há uma predominância na acção, que claramente nos está a aproximar cada vez mais da batalha final. Assistir a combates entre o exército romano e hordas germânicas pelo seu lápis e pincel são momentos de uma tremenda beleza sangrenta.

Com a edição deste quarto número, resta-nos esperar que a ASA continue a apostar na colecção. Não só porque “Águias de Roma” se encontra num nível superior ao que começou, mas também porque Marini planeia encerrar a história já no próximo volume.

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