Conversas Imaginárias 2015: Ponto de Encontro do Fantástico nas Artes

Se a décima edição do Fórum Fantástico se encontra adiada devido às obras no auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Telheiras, os fãs das vertentes mais eruditas da Ficção Científica e Fantástico nas artes reunirem-se no Conversas Imaginárias. Este evento não pretendeu substituir o Fórum Fantástico, mas manteve quente a chama do convívio entre os fãs num ano problemático para a convenção. O espaço da Fyodor Books, no Chiado, tornou-se pequeno entre participantes, público e visitantes ocasionais da livraria que se surpreenderam com o evento.

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João Barreiros, Rogério Ribeiro, Luís Filipe Silva e Carlos Silva no painel Universos Partilhados.

Rogério Ribeiro, um dos organizadores do evento, abriu as Conversas Imaginárias sublinhando o seu carácter de momento de encontro de fãs. Passou-se ao primeiro painel, Universos Partilhados, onde Carlos Silva, João Barreiros e Luís Filipe Silva falaram das suas experiências neste campo. Barreiros detalhou as agruras da fixação do mundo de Lisboa no Ano 2000, Filipe Silva e Barreiros contaram pormenores deliciosos sobre Terrarium, o romance a duas mãos que é o grande livro da FC portuguesa, e Carlos Silva falou sobre a estrutura do mundo em que assenta o universo Comandante Serralves, que se estende da literatura aos jogos e expressão plástica. Todos sublinharam que a maior problemática que aguarda os criadores de mundos partilhados é o desinteresse de leitores e editores no conto enquanto formato literário. Sobre Terrarium, romance cuja reedição sairá em breve pela Saída de Emergência, os seus autores observaram que esta nova edição não será igual à original, bem conhecida dos presentes no Conversas Imaginárias.

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António de Macedo, Rogério Ribeiro e David Soares no painel O Fantástico e o Real

No painel seguinte, um momento privilegiado, com dois participantes que dispensam apresentações. Regressado da Comic Con Portugal, onde recebeu o galardão Excelência na Escrita de BD, David Soares falou-nos da reacção dos seus leitores à sua obra, que descreve como criada de acordo com as suas pulsões e não à medida de mercados, bem como do carácter de nicho da banda desenhada portuguesa, que na sua opinião se tem mantido constante ao longo dos anos, apesar dos picos e quebras de interesse mediáticos.

Já António de Macedo, escritor e cineasta, falou das dificuldades em editar obras ligadas ao fantástico, referindo que os seus últimos romances têm sido rejeitados por editores que respeitando o estatuto literário e cinematográfico do autor, referem a falta de mercado para a literatura de género. Mas nem tudo são más notícias. Se Macedo tem três livros à espera de edição, a Saída de Emergência editará em breve um livro que colige os artigos sobre a história da literatura fantástica em Portugal escritos para a revista Bang!. Com a sua habitual humildade e bom humor, ainda nos revelou que, se tudo correr de feição, 2016 será o ano em que nos ecrãs de cinema estreará um novo filme seu, marcando o regresso deste veterano do Cinema Novo, com uma longa carreira dedicada ao cinema fantástico.

Recorde-se que Macedo já não filmava desde Chá Forte com Limão, filme de 1993, cansado das rejeições constantes dos organismos estatais de apoio ao cinema português, pouco dispostos a financiar um tipo cinema que se afastava das suas convenções. Gisela Monteiro partilhou o registo videográfico deste momento.

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Liga Steampunk (com Leonor Ferrão), Rogério Ribeiro, Ricardo Lourenço, Carlos Silva e Sérgio Santos no painel Iniciativas da Comunidade.

O painel Iniciativas em Comunidade: Colecção Barbante, Colecção Génesis, Liga Steampunk de Lisboa e Províncias Ultramarinas, e Revista H-Alt reuniu representantes destes projectos saídos de comunidades de fãs e leitores que dinamizam iniciativas próprias. Carlos Silva falou da Colecção Barbante da Imaginauta, um projecto de edição de ficção curta formalmente inspirado  na literatura de cordel que dá voz aos novos autores, focalizado em festivais e eventos literários para venda e divulgação. Ricardo Lourenço fez um resumo do Projecto Adamastor, que de 2010 para cá se tem dedicado à digitalização de literatura portuguesa e que lançou recentemente a Génesis, uma colecção dedicada às obras de ficção científica escritas em português, tendo já disponibilizado o clássico Lisboa no Ano Três Mil, de Cândido de Figueiredo, marco da proto-FC portuguesa. Sérgio Santos falou sobre o projecto H-alt, a interessante revista de ficção especulativa na literatura e banda desenhada cuja primeira edição saiu este ano em formato digital e que procura agora financiamento para edição em papel, enquanto prepara a segunda edição digital. Vestidos a rigor, Leonor Ferrão e outro elemento da Liga Steampunk de Lisboa e Províncias Ultramarinas falaram-nos do surgimento deste grupo de cosplayers que organiza eventos temáticos e divulga a estética steampunk nas convenções nacionais. A Liga montou um pequeno espaço de demonstração, onde expôs os fantásticos adereços manufacturados pelos seus elementos.
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Cristina Alves, João Barreiros e João Campos no painel Leituras do Ano.

A encerrar as Conversas Imaginárias, um painel clássico do Fórum Fantástico: as escolhas literárias, de banda desenhada, cinematográficas e de videojogos do ano. João Barreiros, escritor de ficção científica, Cristina Alves, do blog Rascunhos, João Campos, do blog Viagem a Andrómeda, e Artur Coelho, do blog Intergalactic Robot, partilharam as suas melhores experiências narrativas do ano. A lista de obras discutidas pode ser consultada na apresentação Escolhas Literárias das Conversas Imaginárias.

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Mostruário Steampunk da Liga Steampunk de Lisboa e Províncias Ultramarinas (com dois dos marcadores impressos em 3D).

Este evento encerrou com saldo positivo, e na expectativa que o próximo encontro venha a acontecer no espaço clássico do Fórum Fantástico. Alguns visitantes puderam levar consigo marcadores de livros temáticos impressos em 3D, uma actividade pensada para o Fórum que foi aqui revista de forma mais simples. Ponto de encontro de fãs, autores e criadores, trouxe numa tarde na Fyodor Books um pouco do espírito de partilha e discussão que costuma caracterizar o Fórum Fantástico.

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