Murena, Capítulo Oitavo: A Vingança das Cinzas

Título: A Vingança das Cinzas
Colecção: Murena
Argumento: Jean Dufaux
Desenho: Phillipe Delaby
Cor: Jérémy Petiqueux
Editora: Asa
ISBN: 9789892323497
Páginas: 56
Edição: Junho 2013

O maior problema, que um novo leitor, pode enfrentar ao ser confrontado com o oitavo volume de “Murena” é o facto de estar perante uma série em continuação. “A Vingança das Cinzas” marca também o fim de “O Ciclo da Mulher”, o segundo da série. Contudo o receio de não se compreender a trama acaba por se revelar infundado.

Jean Dufaux, o argumentista, resolve aquilo que poderia ser um problema com uma breve apresentação dos personagens principais: Nero e Murena, e dos papel que desempenharam na catástrofe que presenciamos, naquele que é o mais evento mais famoso da vida do Imperador Romano. Roma está a arder, foi Nero que o sonhou e Lúcio Murena que o executou.

“A vingança das Cinzas” é um fim de ciclo em vários aspectos. É fim da cidade de Roma que é destruída; é fim da vida de diversos personagens; é fim (aparente) da vida tranquila dos Cristãos no Trans Tiberium.

Dufaux criou um fresco histórico, detalhado, com múltiplas personagens que se entrecruzam. Para quem chegou, fica a ideia que existe muito sobre os personagens que não sabemos, só que esse facto em vez de nos levar a perder o interesse pela série despoleta a vontade de conhecer os álbuns que o antecedem. Em breves frases, Jean Dufaux, estabelece quem são as personagens e é capaz de nos dar uma ideia geral das suas motivações e objectivos. Através de curtas sequências narrativas somos apresentados a personagens que se despedem da série. Ficamos curiosos em saber quem são aquelas personagens de quem nos despedimos, do papel que tiveram na catástrofe que se presenciamos, mas ficamos a saber o suficiente para se compreender os eventos que se estão a desenrolar.

Por entre as diversas narrativas que se cruzam em “Murena”, Jean Dufaux é capaz encerrar histórias que vinham a desenrolar e introduzir novas narrativas, enquanto desenvolve fios narrativos pré-existentes. Por entre a intrigas que se desenrolam, somos brindados com a destruição de Roma de um modo espectacular onde os dramas de pessoas anónimas não está ausente.

Muito bem construído de um ponto de vista narrativo por Dufaux, o álbum é ilustrado de forma competente por Phillipe Delaby que conta com a valiosa colaboração de Jérérmy Petiqueux, nas cores.

O desenho de Delaby é minucioso, detalhado com uma atenção ao pormenor que vale a pena apreciar, mas convém realçar o excelente trabalho de colorização de Petiqueux, que adiciona um textura e volume que dão um força a um traço competente, que de outro modo poderia passar despercebido. Sem se limitar a uma única palete de cores Pitiqueux, demonstra uma versatilidade que lhe permite o uso de cores quente e frias num mesmo álbum, sem nunca deixar de existir uma coerência estética.

O traço de Delaby não é fraco, simplesmente é o género de traço que se espera de um trabalho histórico. É algo banal, contudo não deixa de ser competente, sobretudo devido aos enquadramentos; à planificação utilizada e a uma atenção pelo detalhe que enriquece o desenho. As múltiplas personagens são fáceis de destingir devido a variações de altura, peso, estrutura óssea, ao invés de se limitar de desenhar sempre a mesma personagem mas de modo ligeiramente diferentes, existe um variedade que acaba por reflectir a personalidade das personagens. Um pormenor que tem especial relevância num álbum que tem um elenco de personagens vasto.

A planificação de Delaby não é ousada, mas consegue um bom equilíbrio entre a utilização de grandes planos e de planos gerais, que permite transmitir a grandiosidade da destruição que presenciamos, mas sem se esquivar a mostrar as emoções do intervenientes. A atenção que tem ao detalhe nos cenários ajuda a criar um reconstituição acurada do período, o que enriquece a obra.

O rigor histórico não se fica pelo desenho, existindo uma adenda de Jean Dufaux, que permite ficar elucidado sobre alguns termos utilizados, e referências históricas que são feitas no álbum. É um dos pormenores que convida à releitura de “Murena”. Contudo, apesar de ser uma BD cuja acção se desenrola num período histórico, aos autores não pretendem ocupar o papel de historiadores, a História é um ponto de partida e não um ponto de chegada. O rigor histórico que existe na série serve só para alicerçar uma narrativa de ficção atractiva e cativante.

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