Odisseias: O Autor Português de Banda Desenhada

Na sequência da minha crónica sobre críticos e divulgadores de BD, alguns valiosos comentários sublinharam a necessidade de olhar também para o que é, hoje, o autor português de banda desenhada.

A última vez que fiz esse exercício foi em 2002, quando comissariei a exposição central do AmadoraBD, dedicada ao tema “Odisseia”. A exposição era uma mostra coletiva de autores portugueses, pretendendo englobar as mais representativas tendências gráficas e narrativas do panorama nacional.

Dividia-se em diferentes núcleos. A nova imagem da BD portuguesa reúnia António Jorge Gonçalves, Dan Maia, Esgar Acelerado, Pedro Nora e Rui Ricardo. BD para o grande público integrava José Carlos Fernandes, Luís Louro, Luís Pinto-Coelho, Pedro Massano, Ricardo Ferrand e Rui Lacas. A Renovação dos Clássicos era o núcleo que englobava Augusto Trigo, Eugénio Silva, José Garcês, José Pires e José Ruy. Pontos de Referência para o Século XXI reúnia Diniz Conefrey, Felipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha e Nuno Saraiva. Finalmente, A Opção do Autor-editor apresentava David Soares, Gonçalo Garcia, Horácio Gomes, Isabel Carvalho e J. Mascarenhas.

A integração no AmadoraBD levava a, de acordo com a linha editorial do festival da Amadora, concentrar o panorama editorial português nos livros de banda desenhada, ignorando outros suportes como os fanzines. A internet não tinha ainda, em 2002, grande expressão como meio.

Em 2016, como é que evoluíram aqueles diferentes núcleos? Se hoje me pedissem que organizasse uma mostra “Odisseia II” (assente na mesma linha editorial), qual seria o retrato do autor português de banda desenhada a apresentar?

Na nova imagem da BD portuguesa, integrava Álvaro, André Caetano, Joana Afonso, Marco Mendes e Osvaldo Medina.

BD para o grande público integrava Pedro Leitão, Ricardo Cabral e Rui Lacas, mantendo José Carlos Fernandes e Luís Louro.

A Renovação dos Clássicos passava a integrar Fernando Relvas, Luís Diferr, Pedro Massano e Victor Mesquita, mantendo José Ruy.

Pontos de Referência para o Século XXI passaria a centrar-se no momento atual de argumentistas, destacando André Oliveira, David Soares, Filipe Melo, Mário Freitas e Nuno Duarte (neste núcleo, haveria a preocupação de incluir autores não apresentados nos outros, como André Coelho ou João Sequeira).

A Opção do Autor-editor passaria a chamar-se a Opção Alternativa, apresentando Paulo Monteiro, Diniz Conefrey, Francisco Sousa Lobo, José Smith Vargas e Pepedelrey.

Finalmente, justificava-se um núcleo com uma seleção de autores que trabalham para o mercado norte-americano, de Filipe Andrade a Jorge Coelho, passando por Ricardo Venâncio.

Na edição de 2002 do AmadoraBD, o retrato do autor português de banda desenhada foi construído a partir daqui num texto que João Miguel Lameiras escreveu para o catálogo do festival.

Em 2016, o retrato seria certamente muito diferente.

Na sua base, a banda desenhada portuguesa é uma BD de autores. Nem de séries, nem de personagens, nem de linhas editoriais. Quando, por mera coincidência, temos momentos de muitos e bons autores, temos um bom momento na banda desenhada portuguesa.

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