Recapitulando

Nas últimas crónicas tenho apresentado algumas sugestões para que a Amadora possa concretizar um verdadeiro plano para a banda desenhada.

A necessidade de um plano integrado decorre da ligação histórica da cidade a esta forma de linguagem, e decorre da própria identidade de uma com a outra: ambas são realidades jovens, dinâmicas, modernas e multiculturais. Em termos de grande objetivo, pretende-se que a Amadora seja vista, durante todo o ano, como a capital da BD.

Fazendo um resumo daquilo que já disse, entendo que o verdadeiro “motor” para todo o plano da cidade em torno da cidade deve ser o acervo de originais que possui, e entendo que não se pode contar com a equipa do festival para a construção e implementação deste plano. Considerando que, numa primeira fase de definição e implementação do plano, está sobretudo em causa a recolha e tratamento de informação e aspetos de comunicação e divulgação, e considerando que existe um lugar de coordenação do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, e que foi afetado ao CNBDI um elemento que desempenhava (para o festival) funções ao nível da comunicação e divulgação, parece que esta primeira fase pode ser assegurada, sem necessidade de contratação de novos meios humanos, pelo CNBDI.

Assim, como necessidades imediatas, criar-se-ia um portal para o projeto da cidade para a banda desenhada (na última crónica chamei-lhe “Amadora BD”), que seria atualizado durante o ano. Entre a informação a sistematizar está aquela que se liga à história da banda desenhada na cidade da Amadora, e a informação relativa aos originais existentes no CNBDI (autores, personagens, publicações).

Ao nível da atualização permanente, não se exige que se apresente tudo o que é notícia no mundo da BD. Basta que se sinalize o que é novidade no CNBDI, na Bedeteca, na Fanzineteca, no AmadoraBD, e em qualquer projeto ou iniciativa de BD que envolva a Amadora (a Presidente da Câmara tem apresentado diversas ideias que estão a ser pensadas).

Pode então partir-se para a definição do plano da Amadora para a banda desenhada, pelo executivo camarário. O executivo pode, para o efeito, socorrer-se da experiência e saber das pessoas que, na Câmara Municipal, têm trabalhado matérias ligadas à banda desenhada. Assim como pode constituir um grupo de trabalho (com pessoas que, fora da Câmara Municipal, têm trabalhado matérias ligadas à banda desenhada) que defina as linhas gerais do plano a implementar.

Num contributo que já avancei, tal plano incluiria idealmente uma publicação regular de BD, promovendo a ligação da Amadora à banda desenhada, e, em particular, os autores nascidos (José Ruy ou Jorge Miguel) ou residentes (Carnott Júnior, José Garcês ou Relvas) na cidade. A referida edição pode, pelo menos numa primeira fase, integrar o catálogo do festival, juntamente com a publicação dos trabalhos premiados nos concursos de BD e cartoon.

Numa segunda fase, como referi numa das últimas crónicas e como já tinha defendido a propósito da organização do festival, entendo que o projeto da Amadora para a banda desenhada deve gozar de maior autonomia ao nível da orgânica do executivo. Questiono se fará sentido a integração na divisão de intervenção cultural, e mesmo no departamento de educação e desenvolvimento sociocultural, de algo que se pretende que seja mais do que uma intervenção cultural: enquanto imagem de marca da cidade, a BD pode marcar presença no programa das escolas do concelho, na ação social, nos equipamentos municipais, na requalificação de espaços, etc., etc. Há uma dinâmica que pressupõe uma articulação com outros pelouros para além do da cultura.

O fundamental é que, independentemente da integração orgânica, a banda desenhada não fique presa em circuitos burocráticos, como parece acontecer hoje na Amadora (segundo resulta da entrevista de Nelson Dona ao aCalopsia) e como já não acontece em Beja, por exemplo.

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