Primeiro Balanço Do AmadoraBD 2015

Na altura em que decorre o último fim de semana do festival, já é possível identificar alguns destaques.

Entre os livros, o destaque vai para Kong the King, não sendo necessário alongar-me mais depois da crónica da semana passada.

Entre os autores, destaque (como era esperado) para Luís Louro e António José Simões. É muito comum vermos regressos de autores que estavam afastados da BD, em que os autores valorizam o distanciamento, e manifestam alguma desconfiança e tom azedo face à incerteza do modo como serão recebidos. Louro e Simões contrariam esta regra, e regressaram à BD da mesma maneira como sempre aqui estiveram: com entrega e disponibilidade totais (e com um belo álbum, já agora).

Entre as exposições, destaque para a exposição central (apesar de estar localizada num espaço marginal e insuficientemente identificado), que permitiu reunir belíssimos originais, e para a mostra dedicada a André Oliveira, num modelo que ultrapassa em muito a mera apresentação de desenhos na parede, e que devia ser a regra numa exposição de BD e não apenas em mostras dedicadas a argumentistas.

Entre os convidados internacionais, destaque natural para Tardi, que ainda pontuou a sua passagem pela Amadora com o notável espetáculo musical “Putain de Guerre”. Menção honrosa para Altuna, cuja falta de edição portuguesa nas últimas décadas não fez aumentar a distância da (merecida) admiração dos leitores portugueses.

Entre o que correu menos bem, merece alguma reflexão a desastrosa cerimónia de prémios, que veio repetir algumas falhas que já pareciam estar ultrapassadas. E sobretudo, merece reflexão a própria listagem de nomeados e premiados, muitas vezes confusa e pouco coerente (mesmo se a apresentadora acertasse os nomes de uns e outros, o que também não aconteceu). Apanhado de surpresa pelo diretor do festival, o membro do júri Luís Salvado foi “intimado” em palco a explicar porque é que Papá em África, de Anton Kannemeyer, é um álbum melhor do que A Arte de Voar (de Altarriba e Kim), Finalmente o Verão (de Jillian Tamaki e Mariko Tamaki), Habibi (de Craig Thompson) ou mesmo O Árabe do Futuro (de Riad Sattouf). E fez o seu melhor, mas não convenceu, porque em nenhum país do mundo é melhor do que os seus concorrentes (apesar dos seus méritos). Pessoalmente (e admito estar enganado), nem estou a ver a editora de Papá em África a enviar os seis exemplares exigidos no regulamento, existindo portanto a possibilidade de o álbum ter sido distinguido com base num melhor relato do que o de Luís Salvado na cerimónia, em lugar da leitura pelos membros do júri.

Já agora, destaque positivo para o mesmo Luís Salvado (e para Sara Figueiredo Costa), mas na iniciativa ligada ao retrato do ano editorial, muito bem conseguida e apresentada.

Destaque também para a bela cenografia da mostra dedicada a O Pugilista.

Finalmente, duas grandes opções do festival que merecem reflexão: a maior descentralização de sempre, que me parece positiva (mesmo se muita gente tem lamentado o facto de a mostra dedicada a Tardi estar patente na Bedeteca e não no espaço central do festival), e o desaparecimento do catálogo físico, que me parece uma má aposta, embora desconheça que razões podem ter levado a esta opção (designadamente o que significa em termos de redução de custos).


 

Nota do editor: Esta crónica era para ter sido publicada no passado dia 07 de Novembro, mas por motivos alheios à gerência só foi possível publicar agora.

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