Lisboa Não Aguenta Com Ele!

Cinco anos depois da primeira edição, o AniComics começa a atrair cada vez mais pessoas, sobretudo atrás das iniciativas ligadas à cultura japonesa.

Reportagem: Sara Pereira | Maria João Miranda: Fotografia

[quote cite=”André Oliveira”]”O Anicomics cresce de ano para ano, o que é sempre bom.” [/quote]Como estava prometido, cá está a reportagem detalhada sobre o AniComics, concluindo a cobertura que o aCalopsia efectuou do evento. Traz imagens novas e opiniões e declarações, ainda não publicadas, dos intervenientes.

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A Mini Con do Mário

Já muito se escreveu sobre o AniComics e as opiniões sobre o mesmo não são, de todo, unânimes. No entanto, cinco anos depois da primeira edição, o festival começa a atrair cada vez mais pessoas, sobretudo atrás das iniciativas ligadas à cultura japonesa.

[pullquote align=”right”] “Nunca abandonarei a BD no AniComics. É a minha paixão. E é o meu evento”[/pullquote]O AniComics, embora se assuma como festival de anime e comics, como aliás o próprio nome indica, tem-se mostrado mais com um formato convenção (como a célebre Comic Con americana), em que as exposições, ao contrário de um festival de BD, têm um papel quase secundário e o enfoque é dado à área comercial e às actividades paralelas, como os videojogos e o cosplay.

Ao formato de “feira” do AniComics não deixa de ser alheio o facto de ser um evento organizado por uma loja – a Kingpin Books de Mário Freitas. “É só mais um evento do género, com a única particularidade de servir para escoar stock de uma só loja. De resto cinco estrelas” menciona Rudolfo, autor de Molly e do colectivo QCDA, que esteve em destaque no evento com apresentação do projecto e exposição de originais. Apesar desta ter sido a primeira vez que esteve no AniComics, costuma marcar presença em outros eventos para dar concertos, ou apresentar o seu trabalho.

A importância que o cosplay tem vindo a adquirir deve-se, segundo Mário Freitas “à adesão e à relevância que cada um dos nichos tem dado ao festival”, sendo claro o interesse crescente do público ao cosplay, cada vez mais presente e menos tímido. No entanto, a BD estará sempre presente no evento: “nunca abandonarei a BD no AniComics. É a minha paixão. E é o meu evento”, acrescenta.

O AniComics teve este ano em exposição trabalhos originais de André Pereira, Osvaldo Medina & Inês Falcão Ferreira, Joana Afonso, João Sequeira e do colectivo QCDA (Afonso Ferreira, André Pereira, Rudolfo e Zé Burnay) – que apesar de presente passava bastante despercebida – à sessão de autógrafos, bastante concorrida no primeiro dia, ou ao workshop de ilustração de Osvaldo Medina e de BD/manga com Carlos Pedro, não esquecendo as apresentações de várias obras nacionais e do ano editorial da Kingpin), a banda desenhada portuguesa esteve bem representada, embora estivesse ofuscada pelas iniciativas de influência nipónica.

Dança nada tem a ver com BD, tal como o Cosplay não tem a ver com BD. Mas ambos têm tudo a ver com a cultura japonesa, parte integrante da programação do festival. – Mário Freitas

Mas que não se pense que o Japão apenas esteve em Telheiras através do cosplay, embora este seja, por razões óbvias, de todas as iniciativas, a que chama mais a atenção. Workshops de japonês, de skits de e de perucas, concurso de dança J-pop/K-pop , e um dos eventos mais importantes para os praticantes– a eliminatória portuguesa do Eurocosplay. Até na cafetaria havia “cup of noodles” para aconchegar os estômago ao longo do dia. Houve ainda tempo para o primeiro painel de dobradores de sempre do AniComics, com três “vozes” conhecidas dos fãs de anime dobrado em português: João Loy, que deu voz a Vegeta em Dragon Ball Z, Rui Quintas (Brock em Pokémon, entre outros personagens) e Bárbara Lourenço (Hinata, em Naruto), que além de “seiyuu” é ainda vocalista de algumas theme songs das versões portuguesas de animes.

[dropcap]A[/dropcap] cultura japonesa está, cada vez mais, na moda – e isso reflete-se naquilo que é procurado nas bancas de vendas. No pátio que serve de hall entre o auditório e a biblioteca propriamente dita, esteve uma tenda de merchandising. Peluches e mangas são os mais procurados e nota-se um padrão interessante: o que melhor saída tem ou é relativo a obras mais recentes, como o videojogo Pokémon X & Y ou o manga Attack on Titan, ou é relativo a obras que me atrevo a catalogar como “intemporais” por nunca terem sido verdadeiramente esquecidas, como Doraemon, Evangelion ou dos filmes oriundos dos estúdios Ghibli.

A Mangueira do Rudolfo

[dropcap]S[/dropcap]ábado foi dia consagrado às apresentações de novas obras da banda desenhada nacional com a presença dos respectivos autores, com os lançamentos do segundo número de Living Will, do álbum F(r)icções e da antologia QCDA #1000, bem como a antevisão do ano editorial da Kingpin Books com a presença, entre outros autores, de André Pereira, David Soares e Mário Freitas.

[dropcap]L[/dropcap]iving Will, retoma a história do velho William contada por André Oliveira (Hawk, Kingpin Books) e ilustrada por Joana Afonso (O Baile, Kingpin Books) numa edição Ave Rara. Depois de, no primeiro número, Will se decidir a amarrar as pontas soltas deixadas ao longo de 82 anos, neste é dado “o primeiro passo na missão auto-imposta por Will. A meu ver, é um exercício algo melancólico, com uma abordagem forte ao passado e com muitas imagens de flashback”, explica André. Uma viagem a ser lida pelo menos duas vezes, uma para apreciar a arte de Joana Afonso, outra para seguir caminho com Will, desta vez feito em tonalidades de azul, que o autor refere ter surgido de forma instintiva: “quando o escrevi, tudo me sugeria o azul e, assim, decidi respeitar esse instinto”.

No entanto, André explica que, apesar do primeiro número ter dado predominância aos tons de vermelhos, as cores escolhidas para os sete números de Living Will “não terão forçosamente de constituir as cores do arco-íris”, um fenómeno natural com uma “forte referência” ao longo da história. “Não sei se inicialmente disse isso, mas se assim foi rapidamente percebi que tal não seria lógico ou viável”. O terceiro está concluído e em fase de produção e será lançado, “como prometemos anda no ano passado”, no AmadoraBD 2014.

[dropcap]E[/dropcap]ditado pela El Pep, F(r)icções, é um album de Nuno Duarte, vencedor do Prémio Nacional de Banda Desenhada atribuído pelo AmadoraBD em 2013 na categoria de Melhor Argumento pelo álbum “O Baile”, e João Sequeira que, entre outros trabalhos, publicou o ano passado Psicose, com argumento de Miguel Costa Ferreira e editado pela El Pep. A apresentação do álbum contou com a presença do editor Pedro Pereira, mais conhecido como Pepedelrey.

F(r)icções é um álbum que parte da adaptação de quatro contos de Nuno Duarte por João Sequeira, com temáticas díspares que passam pela sátira, o western, a fantasia ou o policial noir.

João Sequeira tinha adaptado, em 2010, o conto “Sem Escape” de Nuno Duarte para BD, aparentemente para a gaveta. Acabou por mostrar o resultado a Pedro Pereira, na Tertúlia BD de Lisboa. “O Pepe gostou, mostrou ao Nuno, ele gostou e propôs juntar mais três histórias curtas para o Pepe publicar”, conta João Sequeira. A sequência natural foi criar um álbum de histórias curtas, baseadas em textos pré-existentes de Nuno. De destacar a ideia de, em alguns dos contos, como “O Pistoleiro Que Gostava de Dançar”, terem sido criados quadros largos para dar a ideia do Cinemascope dos westerns antigos. Nuno Duarte conta que o projecto “foi uma nova abordagem à forma de escrever uma BD, mas que me deixou extremamente satisfeito”, que passava “pelo João ler o texto e me propor uma escolha de arranjo gráfico, que depois analisávamos e decompúnhamos em formato sequencial, dando eu retoques nos textos para os passar para uma linguagem mais tradicional de BD”.

[dropcap]A[/dropcap] apresentação de QCDA #1000, uma edição da Chilli Com Carne, realizada por Mário Freitas da Kingpin Books, contou com a presença dos Quatro Chavalos Do APOPcalipse (Afonso Ferreira, André Pereira, Rudolfo e Zé Burnay) e acabou por dar um destaque inesperado à “mangueira” do Rudolfo, quando Mário perguntou sobre o tamanho da dita do Rudolfo. Uuma referência a uma frase que o autor disse em 2012, num concerto que deu em Lisboa, em que partiu uma mesa de mármore e ainda rematou com um “Lisboa não aguenta com a minha piça.A audiência do AniComics teve direito a uma resposta mais polida, com um simples: “Lisboa não aguenta com ela”.

Apesar da inexistência de relação directa entra a mangueira de Rudolfo e o QCDA – que ilustrou usando materiais mais convencionais – foi um momento de humor que não estava no programa de uma apresentação da antologia em formato A3, com um conto de quatro páginas de cada um dos autores acima mencionados. Um cocktail heterogéneo que aborda “a prevenção do acne existencialista ao comentário da sociedade mágico-equestre contemporânea, passando pela exploração das várias correntes de arquitectura necromântica e pela análise comportamental de altas patentes do exército quando confrontadas com criaturas lendárias”.

Esta é uma experiência que talvez se possa repetir, mas não num futuro muito próximo. Contudo “a possibilidade de uma colaboração entre os quatro chavalos, mesmo que noutros moldes, nunca está posta de lado. Aliás, falamos sobre isso regularmente”, indica André Pereira.

De momento, os autores estão concentrados nos seus projectos a solo.

Rudolfo com a antologia bimestral Molly, um projecto que chegou a pensar editar durante o Anicomics. Contudo, o autor considera que teria mais sentido lançar num evento como a Feira Morta – por exemplo – por considerar que o público generalista do Anicomics iria “curtir” mais do seu Magical Otaku. A antologia Molly só será editada no final deste mês.

André Pereira está actualmente a trabalhar em Safe Place (com Paula Almeida); Zé Burnay tem estado a publicar o webcomic Witch Gauntlet. Sobre o que Afonso Ferreira, o quarto chavao, anda a fazer é que não temos conhecimento de momento, mas esperamos ter novidades em breve.

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Serpentes e Lugares Seguros

[dropcap]U[/dropcap]ma das novidades da antevisão do ano editorial da Kingpin Books, de Mário Freitas, é o facto de voltar a apostar nos autores estrangeiros (após um álbum de excertos do colectivo TX Comics e de Off Road de Sean Murphy) com As Serpentes de Água, de Tony Sandoval – autor que esteve no Anicomics em 2012 – a ser editado no início de Maio e I Kill Giants de Joe Kelly e J.M. Ken Niimura, a ser editado em Setembro.

[dropcap]O[/dropcap]svaldo Medina (vencedor do Prémio Nacional de BD para Melhor Desenho, no AmadoraBD 2013) está este ano em destaque com a edição do álbum a solo Kong, The King que será editado até “meados de Novembro”, e a reedição de Franco, Agente do CAOS: Nova Ordem (Editor’s Cut), com argumento de Fernando Dórdio, e Fórmula da Felicidade, com argumento de Nuno Duarte (F[r]icções, O Baile) a acontecer no final de Outubro. “Fórmula da felicidade”, que tinha sido editado anteriormente em dois volumes, vai agora ser reeditado num só volume de 92 páginas, num formato um pouco menor que o original, perto do utilizado em SuperPig: O Impaciente Inglês.

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[dropcap]O[/dropcap] sucessor de “Palmas Para o Esquilo“, álbum escrito por David Soares, coma arte de Pedro Serpa é “Sepultura dos Pais“. Um álbum que reúne o argumentista com André Coelho, com quem já tinha colaborado em “É de noite que faço as perguntas”. O álbum será editado no final de Outubro.

[dropcap]A[/dropcap]ndré Pereira estava a planear editar Safe Place pelo Clube do Inferno mas, ao colocar algumas páginas online, Mário Freitas ofereceu-se para publicar esse projecto pela Kingpin Books, pelo que o fanzine virou mini-álbum em formato grande com 24 páginas.

[pullquote align=”right”] “Acabou por enriquecer a história e de expandir o mundo de uma forma inesperada.”[/pullquote]Safe Place conta com a colaboração de Paula Almeida, que fez duas ilustrações e desenha uma história curta de três páginas escrita pelo André Pereira. Esta história curta foi por sua vez inspirada pelas ilustrações que ela lhe apresentou, o resultado final é uma simbiose entre a história inicial de André, a interpretação que Paula fez dela e o seu imaginário pessoal.

A colaboração com Paula Almeida surgiu, segundo André Pereira “porque, no momento de ilustrar o Safe Place, eu comecei a desejar ser capaz de desenhar exactamente como ela; fazia sentido com as fontes de inspiração da história e acho que teria ficado mais bonito. Lembrei-me por isso de a convidar para uma pequena participação no livro, que ela aceitou, e que acabou por enriquecer a história e de expandir o mundo de uma forma inesperada” para o jovem autor. A experiência correu tão bem que André deixa em aberto a possibilidade de voltarem a trabalhar juntos, numa sequela.

Safe Place será editado no final de Maio durante o Festival Internacional de BD de Beja, evento onde a maioria dos autores presentes no AniComics vão estar presentes, e deverão existir outras novidades editoriais.

[dropcap]P[/dropcap]ara encerrar o programa de BD portuguesa para o dia foram apresentados os nomeados dos Prémios Profissionais de Banda Desenhada 2014, onde a Kingin Books teve um terço das nomeações (13 em 29), Dog Mendonça e Pizzaboy: Requiem teve quatro e André Coelho três.

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A Festa do Cosplay

[dropcap]N[/dropcap]o que toca a cosplay, desengane-se quem acha que é coisa para miúdos – apesar de ter estado presente uma cosplayer com apenas quatro anos, mas já com muito “animal de palco” e que mereceu uma menção honrosa na hora de escolher os finalistas do concurso. Cosplay é também para gente crescida, sobretudo pelo trabalho que requer. Falámos com uma das concorrentes, Catarina, que alcançou o segundo lugar com um cosplay alusivo ao anime Kill La Kill, que contou que a katana usada no skit foi feita de raiz e que, por ser uma arma, há que escondê-la enquanto a levam para o carro e, depois, para o recinto. Muitos dos fatos, senão a maioria, são feitos por quem os utiliza depois nos concursos ou, simplesmente, para vestir no evento. Afinal, são dois dias em que podem encarnar os seus personagens favoritos, como se tivessem novamente quatro anos…

[dropcap]O[/dropcap] cosplay é levado muito a sério e quem conhece o meio sabe que sim; polémicas à parte, o segredo e o perfeccionismo é a chave para um bom fato e, claro, um bom skit.[pullquote align=”right”]  De resto, finjo muitas vezes que sou arrogante e inacessível.”[/pullquote] Que o diga Tiago Penim, que no AniComics concorreu à eliminatória do Eurocosplay sob o nome Tiago Brandão, para não ser reconhecido: “O cosplay ainda não estava terminado, eu sou extremamente orgulhoso” e estava a manter a identidade em segredo porque contava participar na eliminatória portuense do Eurocosplay “sem que a concorrência soubesse quem eu era”. Só não contava ficar em segundo lugar, substituindo a vencedora, Inês Gomes, caso esta não possa estar presente em Londres na final.

Entre cosplayers experientes, outros nem por isso, houve lugar para uma estreia com que a maioria não contaria de certeza: o polivalente organizador do Anicomics, Mário Freitas, que vestiu a pele do vilão Xorn. Uma estreia não, um regresso: “já não fazia [cosplay] desde 1979 quando a minha tia-avó me costurou um fato de Homem-Aranha. De resto, finjo muitas vezes que sou arrogante e inacessível”. A experiência foi, segundo conta, “fantástica e já andava há dez anos a matutar em como faria um dia de Xorn”.

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Uma questão de dimensão

[dropcap]O[/dropcap] AniComics, aos cinco anos de idade, já caminha pelo próprio pé e parece já querer sair da casa onde nasceu. Mas tirar o evento da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro (BMOR) seria benéfico ou, pelo contrário, implicaria uma perda de identidade?

Mário Freitas considera que a insistência em fazer o evento na BMOR é “fundamental à identidade do AniComics, pela proximidade e intimidade”, opinião partilhada por David Soares, que sente que “um espaço maior, mas mais homogéneo, tornaria o evento menos especial”.

Também André Oliveira sente que o AniComics iria perder a sua “mística”: “Boa parte do ambiente que se vive no festival ano após ano vem de ter a ’casa cheia’ e todos os espaços e recantos da biblioteca pensados para um propósito, sempre com animação ou algo para ver e fazer. (…) Mudar para uma localização maior nesta altura levantaria uma série de questões em termos de custos e logística. A menos que o Anicomics passasse a ter mais apoio por parte de entidades culturais ou da própria Câmara de Lisboa…”

[pullquote align=”right”]“Um espaço maior, mas mais homogéneo, tornaria o evento menos especial”[/pullquote]David complementa que “a dimensão não é um problema, porque o espaço oferece outras possibilidades que transcendem a mera disposição espacial”, o que acaba por trazer vantagens, “como ser muito variado, simultaneamente aberto e fechado e nas proximidades de zonas de restauração atractivas”. Rudolfo não considera que o problema da casa seja o tamanho, mas o facto de ser “confusa, principalmente pela parte dos autógrafos dos autores e workshops ficar num sítio mesmo remoto”, no segundo piso da biblioteca.

Por outro lado, algumas vozes pedem que se deixe a BMOR em prol de um local maior, onde não haja tantas limitações de espaço face ao crescimento no número de visitantes – no ano passado, houve uma média de 800 pessoas por dia. Este ano, apenas no primeiro dia, estava cerca de um milhar, o que reflecte um crescimento de 25% de um ano para o outro. No todo, foram 2300 pessoas nos dois dias, pelas contas da organização, que contou com a ajuda de voluntários – foi o AniComics onde mais candidaturas houve, com 70 interessados nas 40 vagas disponíveis.

André Pereira defende que o evento “já tem uma dimensão que obriga a um espaço maior. O auditório já não aguenta com a enchente” e o número de bancas de vendas e de artistas leva a que acabem “por ficar dispersas pelo edifício, acho que ganhavam em estar concentradas num só local”. André não fecha os olhos às vantagens de levar o AniComics para um espaço maior e considera que o número cada vez maior de visitantes e participantes e consequente falta de espaço “são sinais de que o evento está a crescer, imagino que a mudança para um espaço maior vá ser um passo natural no futuro próximo”.

[dropcap]O[/dropcap]nde se sentiu verdadeiramente que estava muita gente para pouco espaço foi no auditório. Com uma capacidade de cerca de 150 lugares sentados, esteve completamente cheio em ambos os dias, e o facto de não haver lugares marcados deu azo a alguma confusão na hora de entrar e durante os intervalos, na zona da cafetaria, em frente às portas do auditório. Um dos participantes, ao encarar tanta gente à espera de novo sinal para que começassem a entrar, comparou o local a uma “zona de respawn” – uma determinada zona no cenário de um vídeojogo multiplayer onde os jogadores reaparecem depois de serem mortos, quando se ligam ou quando se teletransportam

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[pullquote  align=”right”]Um espaço que “se revelou exíguo para tantos participantes”[/pullquote]Num post algo revoltado com o tamanho mas, principalmente, com a organização relativamente ao auditório, a autora do blogue Não Me Apetece Estudar, que participou no concurso de cosplay, conta: “Vesti-me e fui ter com o meu pai, que veio de propósito de Santarém com a minha pequena irmã macaca para ver o meu skit. (…) E é claro que não conseguiram lugar no auditório. Fui saber se os deixavam entrar… ‘Tivessem chegado mais cedo’. (…) O meu pai, que veio de propósito, que pagou bilhete e tudo o mais, que tem idade para ser vosso pai também, quiçá até vosso avô, não aguentou uma hora e meia de pé, foi-se sentar e nesse momento perdeu o meu skit. E é claro que se zangou comigo, com a miúda, com toda a gente e se foi embora todo revoltado”.

Já no blogue Intergalactic Robot, o autor rotula a experiência de tentar entrar no auditório como uma “missão impossível”, num espaço que “se revelou exíguo para tantos participantes” que se acotovelavam “nos espaços de atelier e comerciais”.

[pullquote align=”right”]“Bom tempo também tem as suas desvantagens…”[/pullquote]A maneira, inédita no AniComics, que a organização encontrou para contornar a capacidade limitada do auditório foi instalar ecrãs pelo recinto da BMOR, directamente ligados ao que se passava em cima do palco. Uma ideia que foi bastante bem conseguida, apenas me fazendo apontar as localizações – os ecrãs de exterior reflectiam a luz (bom tempo também tem as suas desvantagens…) tornando muito difícil ver o que era transmitido, e o facto do ecrã colocado na zona comercial, já de si bastante apertada, ter tornado a sala ainda mais claustrofóbica, com os espaços de passagem apinhados. Ainda assim, foi um grande ponto a favor na edição deste ano.

Independentemente dos condicionalismo e do modo como a organização os planeia contornar, uma coisa parece certa, para o ano vai haver mais uma edição de um festival peculiar que já conquistou um espaço próprio.

DSC_0307 [hr] As fotografia da cobertura do Anicomics efectuada pelo aCalopsia são da autoria de Maria João Miranda, cujos trabalhos podem seguir a partir de: https://iglinks.com/mmmaryjaneee.

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15 Comments

    1. says: Bruno Campos

      Não, existem existem duas, por acaso o título já estava definido (à falta de melhor) antes de ter descoberto a Mini Con Portugal no twitter 🙂

      Mas neste caso não é um título irónico, é mais pelo modelo ser semelhante ao de uma Comic Con, e pessoalmente eu preferia meia dúzia de Mini-Cons durante o ano que uma MegaCon 😉

  1. says: Mário Freitas

    Eu esta perdoo, por ser ao Rudolfo: “É só mais um evento do género, com a única particularidade de servir para escoar stock de uma só loja.”… Quem conhece bem a programação e espírito do AniComics, sabe que é tudo menos “só mais um evento”. E quem conhece a minha política de gestão de stocks, sabe que não acumulo monos para encherem 36m2 de stand, ou seja, bem mais de metade do que ali estava tinha sido encomendado de propósito para o evento, tal como acontecerá agora com o IberAnime de Maio.

    1. says: Bruno Campos

      O Rudolfo não precisa de advogado de defesa, mas como subscrevo a opinião dele…
      Sim, é “só mais um evento” de BD, de Cosplay, existem quem prefira o AniComics, quem prefira IberAnime, quem prefira Beja, quem goste mais do AmadoraBD quem goste mais do Morta, e por aí fora.

      E serve para escoar stock da Kingpin, quer esteja em armazém ou seja encomendado. Pessoalmente eu teria dito que é um evento que tem a particularidade de servir para rentabilizar uma loja.

      1. says: Mário Freitas

        Lá está, Bruno. Essa tua visão é de quem, manifestamente, não percebe a filosofia do evento.

        1. says: Bruno Campos

          Eu não vejo qual é a dificuldade em perceber que a filosofia de um evento (AniComics), organizado por um empresa (Kinping Books) visar o lucro. Nem vejo qualquer problema de o evento geral lucro.

          É o tipo de iniciativa privada que faz falta na BD nacional, se existissem mais uns 3 ou 4 eventos “patrocinados” por Livrarias de BD em moldes similares, o mercado da BD nacional era capaz de ser mais saudável.

          1. says: Mário Freitas

            Não tem qualquer problema, mas é altamente reducionista. Se fosse pela mera rentabilização do evento, não teria gasto quase 2500EUR (cerca de 25% do orçamento do evento) para contratar a transmissão dos shows do auditório para o exterior. Eu faço o AniComics pelo gozo pessoal que me dá, por sentir que sei fazer um evento que proprociona verdadeiro entretenimento às pessoas, tendo perfeita noção que é IMPOSSÍVEL agradar a gregos e troianos.

            De resto, o que dizes é muito bonito, mas conheces mais algum “lojista” com a capacidade organizativa e versatilidade que eu tenho? Lembro-me de alguns que tentaram, mas que pararam por “dar trabalho a mais”… A sério, organizar um evento dá trabalho? Coisa surpreedente.

  2. says: Mário Freitas

    O ano passado estiveram cerca de 900 pessoas por dia, este ano cerca de 1150, prefazendo as tais 2300 no total. Foram vendidos 1100 bilhetes, cerca de 65% dos quais para os 2 dias, para além de cerca de 230 pessoas credenciadas, entre organização, voluntários, autores, cosplayers, dançarinas, pessoal dos stands e da gaming zone, press, convidados e afins.

    1. says: Bruno Campos

      O que levanta a questão se faz sentido manter o AniComics num recinto em que o auditório tem um lotação de cerca de 150 pessoas quando só em pessoas credenciadas existem 230…

  3. says: Bruno Campos

    Uns breves apontamentos relativamente a dois comentários que o Mário realizou mais acima. Não gosto de avaliar “capacidades” organizativa e “versatilidades” alheias, e existem uma altura em que a versatilidade, o ser um homem dos sete-ofícios até pode ser contraproducente pois existem situações em que só é possível uma expansão dos projectos com o delegar de responsabilidades e, quiçá, protagonismo.

    E existem outras questões que também são importantes para organização de eventos, que é o investimento e retorno, e até que ponto é que esse retorno é significativo para justificar o investimento monetário e de tempo.

    Quando cerca de um quarto do orçamento de um evento vai para a transmissão do que se passa no auditório para o exterior, não será altura de equacionar o recinto em que o evento se realiza? Ou, então, equacionar as parcerias que poderiam minimizar essa despesa significativa.

    Por vezes a grande diferença “entre desejos e realidades possíveis” são os desejos, prioridades pessoais, de quem tem toma as opções.

    1. says: Mário Freitas

      Bruno,

      Não vou estar aqui a escalpelizar a organização e estruturação do AniComics, mas acredita que já foram equacionadas, ponderadas e pesadas muitas mais coisas do que alguma vez te passariam pela cabeça. Acredita que não tens noção (não tens mesmo) de tudo o que envolve organizar um evento da dimensão que o AniComics já atingiu.

      De resto, agradeço a ampla (e ímpar) cobertura que o AniComics recebeu da parte da aCalopsia, prova inequívoca do reconhecimento da importância e impacto que atribuis ao evento, e que atraiu certamente para o teu site muito mais atenção do que tinha ocorrido até ao momento e que, aqui e ali, tens feito por merecer.

      Obrigado e um abraço.

      1. says: Bruno Campos

        Eu não estava particularmente interessado em escalpelizar a “organização e estruturação do Anicomics”, já os modelos de pequenos eventos semelhantes tenho interesse.

        A cobertura do Anicomics será semelhante para outros eventos.. havendo tempo, disponibilidade e colaboradores… o que nem sempre pode ser possível. Existindo essas condições a ideia será sempre dar a melhor informação possível para quem não foi poder ficar a conhecer.

        Não deve é voltar a haver um “dossier” final como este, que era capaz de ter resultado melhor como 5 artigos individuais. São detalhes que terão de ser revistos no próximo evento.

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