Marvel: Freitas não lava as mãos mas não pode falar

Após rumores, desmentidos e confirmações sobre o cancelamento das edições Marvel da Panini, existe uma espécie de confirmação oficial

O editor-assistente, José Hartvig de Freitas, fez o comunicado na secção de comentários do blogue As Leituras do Pedro, o que é sempre mais prático (para informar a malta) do que enviar um comunicado aos diverso meios de divulgação. Embora reconheça que agora até faz mais sentido do que quando foi revelado o plano editorial da Panini para Portugal em 2014, afinal agora é uma questão de defesa da honra!

Hartvig de Freitas começa por esclarecer que quem pensa não tem interessse em publicar mensais o está a confundir com outra pessoa, passando depois por uma viagem do tempo até aos primórdios da Devir.

Estive à frente das edições Devir durante os 6 anos em que se publicaram comics mensais, fui eu que fiz força dentro da empresa para que o projecto fosse feito (com uma ajuda que devo sempre agradecer do José Rui Fernandes da Mundo Fantasma, que foi o primeiro a ter a ideia e a sugerir a ideia à Panini, na altura), batalhei para que se tentassem encerrar o melhor possível os arcos de história depois de se tomar a decisão de cancelar os regulares, e quando finalmente se deixou de editar comics na Devir (com algumas excepções), deixei a empresa. É tão simples como isso.

Quem considera que um produto quando é mal divulgado é lógico que não venda – acusão repitada várias vezes sobre a revistas da Panini Espanhar – tem uma resposta simples do ex-editor-assistente: “sem querer ofender, penso que não sabe do que fala.”

Curiosamente, para justificar a má divulgação das revistas da Marvel, Freitas recorre ao passado longínquo.

A Devir fez um investimento muito grande nos mensais no seu lançamento, e que resultou bastante bem. Durante alguns anos vendeu razoavelmente, mas por vários motivos essas vendas foram deslizando e cerca de 2004 a Devir perdia dinheiro com os mensais. Nessa altura continuou-se durante um par de anos porque 1) para manter o canal de distribuição (bancas) aberto para outros produtos (trades) era preciso continuar a distribuir os comics para saber quais os melhores pontos de venda e porque 2) indubitavelmente os comics criavam leitores para os trades; aliás, parte do boom da BD dos anos 2000 teve a ver com o lançamento dos mensais da Devir, que recuepraram alguns dos leitores dos formatinhos, e também pela mudança da qualidade do papel, formato, etc… captivaram leitores novos (de franco-belga ou outros). Mas quando as vendas baixaram o suficiente para os comics perderem mais dinheiro, deixou de compensar e teve de cancelar. Tão simples quanto isto. Na altura fizeram-se vários planos possíveis de relançamento, com investimentos em pub, etc… mas não nos devemos esquecer que a Devir é uma empresa brasileiro-portuguesa-espanhola, e que existem muito projectos em competição ao mesmo tempo e os recursos são escassos. Na altura achou-se (penso que com razão) que a Devir não tinha capacidade de fazer esse investimento e que ele provavelmente não seria eficaz. Isso leva-nos à conversa sobre o formato dos comics mensais e se ele é adequado ou não para o nosso mercado. Talvez não seja, mas isso é outra conversa.

Curiosamente a má divulgação das edições da Panini não é abordade. Mas enfim, passemos para outros assuntos.

Panini: não lavo as minhas mãos, apenas tenho acordos de confidencialidade e não posso falar em público. O Cesário não viu nenhum dos emails que mandei à Panini, portanto não sabe se lutei ou não para manter as revistas mensais (a equipa editorial da Panini Comis Espanha lutou MESMO ferozmente, mas a decisão foi da administração, penso eu) ou para fazer um esforço para mudar outras coisas. E eu não “continuo a ter autorização da Panini para fazer HCs”, tem a Levoir, e tem porque pagou os respectivos direitos e adiantamentos e apresentou um projecto credível, tal como o leitor poderia ter se fizesse o mesmo. Essa “autorização” vem exclusivamente daí e de mais lado nenhum. E não sei como é que diz que faço algo com pouca vontade, aliás, você ne, me conhece.

Para que conste: a Panini contratou-me EXCLUSIVAMENTE para tratar das traduções, revisões, e textos de apoio dos comics. Nunca tive qualquer intervenção na escolha dos comics e livros, nem no número de livros a editar ne nada. Deram-me um plano para a mão e disseram-me: é isto. E mais tarde disseram-me que não estava a corresponder às expectativas e que iria ser cancelado. Nem nunca cheguei a falar com quem tomou a decisão, embora tenha falado (e muito!) com a direcção editorial que partilha a maioria do incómodo e decepção dos leitores portugueses.

Curiosamente, fica por mencionar algo que o supostamente era “coisa de Freitas”: a divulgação que (parece que) seria feita a meias entre Espanha e Portugal, onde a responsabilidade seria de José Hartvig de Freitas. No inicio das edições ainda chegou alguma informação adicional do lado português, depois passou a só estar disponível a informação que vinha de Espanha.

Mas, seguindo em frente! Passemos para a situação da Levoir editora onde Hartivg de Freitas também é editor ou, melhor dizendo, coordenador editorial de colecções de Marvel e DC Comics.

A escolha dos livros aqui é feita por mim, com a ajuda de outras pessoas, pela Levoir e pelo cliente da Levoir, o Público, e é aprovada ou não pela Panini, que também sugere ou por vezes “impõe” algumas escolhas ou veta outras. E quando o cliente diz que gostaria mais disto ou daquilo, ou se pede mais material novo e menos clássico, ou o que quer que seja, tem de se negociar. Ou quando a Panini quer que se edite um certo “core” de histórias que eles acham que são importantes estarem em PT para servirem como “referência”, idem. Etc… Uma escolha como a de uma lista de livros para uma colecção da Levoir é algo que já foi MUITO discutido, negociado, e que nunca é a melhor opção de qualquer um dos intervenientes. E normalmente temos tido em conta a opinião dos leitores, mas aqui a coisa é muito subjectiva, e a minha opinião é que é impossível agradar. Por exemplo, Avengers Forever surgiu SEMPRE como uma das histórias mais referenciadas pelos fãs, em fórums, emails enviados à Levoir (e a mim), em todo o lado. Confesso que não teria sido uma escolha minha, mas na Levoir o “ruído” que os leitores fizeram à volta deste livro fez com que a Levoir e o Público tivessem insistido bastante nele. mas agora que saiu andam muitos fás por aí a dizerem que era melhor ter sido outra escolha, etc… blablabla. No fim, alguém tem de decidir e ninguém fica satisfeito a 100%.

Contos de Fadas Marvel, edição que publica os primeiros trabalhos de autores portugeses para a Marvel, e X-Women que publica uma história ilustrada por Manara (entre várias, menos memoráveis) tem sido dois dos títulos incluidos na colecção Universo Marvel mais críticados e cujos critérios de selecção são dissecados por Hartivg de Freitas.

Por acaso, no Manara e no Contos de fada, os motivos foram outros. O Manara, simplesmente porque Portugal é um país de edição de BD europeia, e toda a gente concordou que um livro com Manara na capa ia relançar um pouco a colecção, tal como o do Moebius o fez há dois anos atrás. O “Contos de Fada” tinha outra ideia atrás, que era a de uma exposição sobre o trabalho dos portugueses que trabalham para a Marvel, para a qual existia uma espécie de OK prévio do festival da Amadora (dado em inícios de Maio). Mas como a Amadora pura e simplesmente deixou de responder a solicitações até à última semana de Setembro, para finalmente nos dizer que não (com comentários aliás, do género “Ah! Havia um livro planeado para essa exposição? Que giro, se calhar podíamos fazer para o ano, então”), o projecto caíu, A ideia era essa exposição servir de âncora a um artigo grande no Público exclusivamente sobre essa expo e sobre o livro. Não é que se tenha feito o livro POR CAUSA disso, mas poique quisemos encaixar um livro mais no final da colecção que motive alguma comunicação adicional, e que fosse motivo de relançar o interesse na colecção, porque como dizia o Pedro Cleto, as colecções começam a vender x, e depois vão-se esboroando irreversivelmente a menos que se faça mais comunicação – e a menos que essa despesa já esteja prevista antes do lançamento do volume um, procura-se fazer barulho sem gastar dinheiro. Neste caso, foi um livro que eu quis bastante fazer, porque é algo muito diferente do normal, mais do género do que a DC faz com os Elseworlds, e achámos que era interessante os leitores verem essa faceta, para além de que é um trabalho muito bem e bem feito. Mas neste em livro em particular, a Levoir também fez um investimento extra, já que aceitou aumentar o número de páginas dele para se incluir um caderno especial sobre o Making of do livro. Na verdade, aos poucos vou-me dando conta de que essas coisas pouco ou nada adiatam, tal como o editoriais, porque suspeito que ninguém lê os editoriais, e ninguém liga aos dossiers especiais…

Contos de Fadas era a grande aposta de Levoir para o AmadoraBD e foi um dos tópicos abordados na entrevista realizada com Nelson Dona, director do festival, publicada aqui no aCalopsia, onde são revelados em mais detalhe os motivos da organização ter abdicado dessa exposição.

Sobre a estranha vida das edições Marvel em Portugal, falaremos mais em detalhe em breve, agora que parece ser definitivo que a Panini abdicou de editar as revistas portuguesas deixando histórias a meio.

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15 Comments

  1. Gostava só de clarificar algumas coisas. As minhas atribuições no projecto da Panini Comics cá NUNCA incluíram a divulgação ou o envio de materiais para blogues ou para onde quer que fosse. Para que fique claro, sempre fui pago à página de comic publicado nas revistas mensais, e mais nada (aliás, a minha relação contratual sempre foi com a Fénix, o estúdio espanhol que fazia a produção gráfica das revistas, e eram eles que me pagavam, não a Panini, pelo que claramente não tinha nada a ver com a promoção).

    Na fase inicial do lançamento, fui eu que procurei montar uma lista de blogues e sites para a Panini divulgar o material, e voluntariei-me para escrever alguns textos de apoio e notas de imprensa que não chegaram a ser usadas (trabalho que ofereci na altura e nunca cobrei). E no início acabei por ser eu a enviar os materiais para esses sites e blogues, antes de passar essa incumbência para quem de direito, a Panini.

    Como Editor Assistente da Panini não me compete fazer presses ou comunicados pessoais sobre os projectos, por isso acho que comentar publicações em blogues é um local razoável para dar uma opinião, sobretudo quando o meu nome é citado directamente. Quanto à divulgação de planos editoriais e outras coisas, apenas divulguei o que me foi autorizado pela Panini. Quando fui autorizado a falar de livros até ao final do ano, fi-lo (e preparei inclusive um pequeno texto que acabou por não ser enviado). Quando me pediram para não comentar mudanças de planos editoriais, não comentei.

    Relativamente à questão da divulgação e da venda: tenho uma opinião pessoal sobre as condições que são necessárias para o sucesso das vendas de comics em bancas, e acho que no nosso mercado talvez não estejam reunidas, E a divulgação tem sempre em frente um inimigo, a erosão natural das vendas, que sem um esforço novo de marketing é contínua, cada colecção e ano vendendo cada vez menos. O que significa que um investimento de publicidade igual em anos diferentes, acaba por ser maior (em termos relativos) porque as vendas em anos seguintes baixaram. E nem todas as editoras têm a capacidade financeira de investir mais e “apostar” que esse investimento vai resultar (na Devir decidiu-se não fazer isso, p.ex. havia outros projectos, e uma crise). Era apenas isso que queria dizer que quem acha que é só uma coisa linear, investir para divulgar dar mais vendas, não sabe do que fala.

    1. says: Bruno Campos

      Se não lhe competia a divulgação de materiais para divulgação então alguém na Panini estava mal informado. Que o envio de fichas técnicas (autores, sinopses e material republicado) foi-me indicado ser uma atribuição sua. Motivo pelo qual só eram enviadas de Espanha as capas e páginas de amostras.

      Não faz qualquer sentido um plano editorial de uma editora ser anunciado numa secção de comentários de um blog ou site (seja ele qual for), esse é o tipo de informação que deveria ser enviado a todos os meios de publicação.

      Em pessoa envover-se num projecto que não acredita ter condições para ser bem sucedida parece-me algo… para o absurdo. Em particular quando existem pessoas que até podem ter opinião diferente sobre a existência de condições para o sucesso de edições em bancas.

      Os problemas da divulgação não é a erosão natural das vendas, é uma maneira de combater a erosão natural das vendas, sendo que existem outras medidas que a nivel editorial já “resolvidas” pela editora mãe, nomeadamente através de eventos designados a suscitar o interesse dos leitores, captando novos leitores ou aqueles que deixaram de comprar as revistas.

      Apesar de as colecções da Levoir e as revistas da Panini serem comercializadas em bancas são duas situações distintas.

      A erosão da colecções da Levoir por ser explicada, também, pela saturação dos leitores do formato “sortido de histórias sem ligação” com muito principios sem fim. Quem compra uma colecção da Levoir já deverá ter reparadado que muitos volumes são parte de uma colecção, de uma história, que nunca irão ler, ou terão de aguardar por uma futura colecção para ler a continuação. Por exemplo: Guardiões da Galáxia de DnA ou Capitão América de Brubaker. O modelo actual das colecções da Levoir é que poderá estar em falência e necessitar de ser revisto apresento realmente colecções, com uma coerência a nível narrativo e cronológico.

      É impossível um publicação regular de Marvel (ou DC Comics) sem a existencia de outros título que permitam a publicação regular da história prinicipal dos personagens.

      A Devir, ou melhor dizendo: a equipa editorial – da qual o Freitas era parte, para não salientar responsável – da Devir abdicou das publicações regulares de Marvel, por ser incapaz de as rentabilizar. Já foi mencionado várias vezes que as revistas derão prejuízo e foram um erro, e parte do desinvestimentos nas revistas mensais da Marvel deveu-se ao facto de as edições para livrarias se ter revelado mais rentável.

      Discordo em absoluto disto: “quem acha que é só uma coisa linear, investir para divulgar dar mais vendas, não sabe do que fala.” Até concedo que não é linear, mas a divulgação de um produto é essencial para o seu sucesso, quem pensa o contrário… dá vontade de usar um termo pouco simpático, em particuolar se tivermos em conta como o mundo moderno está saturado de publicidade designado a captar o dinheiro do público para os mais diversos tipos de produtos.

      Já agora, queria salientar, que divulgação é uma palavra que abrange vários aspectos para além da publicidade me televisão e outdoors, apesar também incluir estes aspectos. Lançar um produto para o mercado e esperar que ele se venda a si próprio é quase um suícidio e uma estúpidez completa, embora seja uma boa maneira de um projecto falhar. E sim, eu sei que existem produtos com grandes campanhas publicitárias que também falham, agora não é isso que valida o argumento de que um projecto falhou (também) por falta de divulgação.

  2. “Se não lhe competia a divulgação de materiais para divulgação então alguém na Panini estava mal informado. Que o envio de fichas técnicas (autores, sinopses e material republicado) foi-me indicado ser uma atribuição sua. Motivo pelo qual só eram enviadas de Espanha as capas e páginas de amostras.”

    Como lhe disse, a minha relação contratual nem era com a Panini, era com a Fénix, nem nunca fui responsável pela divulgação. Fi-lo durante uns três meses, e depois isso passou a ser feito pela Panini. Nunca ninguém me pediu mais nada nesse campo (aliás, inicialmente fui eu que voluntariei esse serviço numa fase inicial(.

    “Não faz qualquer sentido um plano editorial de uma editora ser anunciado numa secção de comentários de um blog ou site (seja ele qual for), esse é o tipo de informação que deveria ser enviado a todos os meios de publicação.”

    Creio que não leu a minha resposta toda.

    “Em pessoa envolver-se num projecto que não acredita ter condições para ser bem sucedida parece-me algo… para o absurdo. Em particular quando existem pessoas que até podem ter opinião diferente sobre a existência de condições para o sucesso de edições em bancas.”

    Fiz apenas a observação de que as condições para o sucesso em banca talvez não estarem reunidas em Portugal. A Panini é uma empresa grande e se alguém poderia fazer o investimento que possibilitasse esse sucesso, seria a Panini com certeza. Não falo ideia da razão pela qual não foi feito, e como apenas falei com o lado editorial da empresa (exclusivamente com o Alejandro Martinez, nunca ninguém me explicou porquê (e não foi por falta de ter questionado e dado sugestões). Aliás, nunca recebi qualquer explicação sobre as razões que levaram ao cancelamento.

    “A Devir, ou melhor dizendo: a equipa editorial – da qual o Freitas era parte, para não salientar responsável – da Devir abdicou das publicações regulares de Marvel, por ser incapaz de as rentabilizar. Já foi mencionado várias vezes que as revistas derão prejuízo e foram um erro, e parte do desinvestimentos nas revistas mensais da Marvel deveu-se ao facto de as edições para livrarias se ter revelado mais rentável.”

    Não é exactamente isso. A partir de certa altura as vendas baixaram e começou-se a perder dinheiro. A empresa tinha muitos outros projectos, e face ao colapso geral da distribuição de bancas na altura, e às dificuldades gerais no mercado (cerca de 204-2005, que se foram prolongando até hoje na situação actual de duopólio artificial de distribuidoras), decidiu-se deixar as bancas (com excepção de alguns títulos ocasionais, como p.ex. no lançamento de filmes, etc…) e focar-nos exclusivamente em livros. Plano que não foi bem acatado na altura pela Panini, o que em última instância levou a que a Devir perdesse o interesse em editar as BDs (pela mudança de condições contratuais). Lembro que a Devir está muito ligada à BD em geral, mas esta não deixa de ser uma área muito minoritária da empresa, e que eu era apenas um de muitos sócios, e os comics da Marvel apenas um de muitos projectos espalhados por 5 países.

    E eu responsável da equipa da Devir, ponto. Com o input e o mandato dos meus sócios, claro. E quando a empresa tomou a decisão de cancelar os números regulares para bancas, fui também parte dessa decisão. Não se pode andar mais do que um certo tempo a perder dinheiro.

    “Discordo em absoluto disto: “quem acha que é só uma coisa linear, investir para divulgar dar mais vendas, não sabe do que fala.” Até concedo que não é linear, mas a divulgação de um produto é essencial para o seu sucesso, quem pensa o contrário… dá vontade de usar um termo pouco simpático, em particuolar se tivermos em conta como o mundo moderno está saturado de publicidade designado a captar o dinheiro do público para os mais diversos tipos de produtos.”

    Se discorda em absoluto, não pode conceder que é. Além disso, eu não disse que a divulgação não é essencial – e para que fique claro, na minha opinião o problema NÚMERO UM do falhanço da Panini Comics foi o facto de ter havido ZERO de divulgação (não me custa dizer isto assim, mandei pelo menos 10 emails sobre o tema para a Panini Espanha) – apenas disse que a relação entre dinheiro investido e divulgação efectiva não é nada linear.

    “Já agora, queria salientar, que divulgação é uma palavra que abrange vários aspectos para além da publicidade me televisão e outdoors, apesar também incluir estes aspectos. Lançar um produto para o mercado e esperar que ele se venda a si próprio é quase um suícidio e uma estúpidez completa, embora seja uma boa maneira de um projecto falhar. E sim, eu sei que existem produtos com grandes campanhas publicitárias que também falham, agora não é isso que valida o argumento de que um projecto falhou (também) por falta de divulgação.”

    Acaba de resumir mais ou menos sucintamente a minha opinião sobre o falhanço da Panini e do seu lançamento de comics em Portugal. Eu não acho que o projecto falhou (também) pela falta de divulgação. Acho que falhou (sobretudo) por falta de divulgação. A falta de possibilidades de compra de números atrasados é o culpado número dois, e importante também. Levei meses a receber emails de pessoas a dizer que tinham acabado de descobrir que estavam a sair as revistas e a perguntar onde podiam comprar os atrasados.

    “Os problemas da divulgação não é a erosão natural das vendas, é uma maneira de combater a erosão natural das vendas, sendo que existem outras medidas que a nivel editorial já “resolvidas” pela editora mãe, nomeadamente através de eventos designados a suscitar o interesse dos leitores, captando novos leitores ou aqueles que deixaram de comprar as revistas.”

    “Resolvidas” parcialmente. Se estivessem resolvidas a sério, as vendas de comics não seriam tão baixas nos EUA hoje em dia. Aliás, acho que se pode dizer (com mais ou menos exactidão, consoante os meses e os eventos), que nunca se venderam tão poucos comics nos EUA como hoje em dia. Basta ver os números de vendas mensais. A erosão tem sido constante, desde os anos 60 até agora (não sei como era antes), tirando um ou outro boom ocasional, este ou aquele pico, mas a curva é claramente descendente. Em parte compensada por mais variedade, novas editoras etc… mas a tendência é clara. E Portugal é um microcosmo, acontece aqui o mesmo que nos outros sítios noutra escala, em ponto pequeno.Os 40 000 do Mundo de Aventuras deram lugar aos 20 000 da Abril/Controljornal, aos 6000 dos números iniciais da Devir, aos 3000 dos números finais e aos… ??? da Panini. Não sei quais eram os números, nunca me foram comunicados. São menos que 3000 garantidamente.

    1. says: Bruno Campos

      Tendo em conta que está no mercado há mais de duas décadas envolvidos nos mais distintos projectos, e tendo dados concretos sobre as vendas de Marvel (quer pela Devir quer pela Levoir) estranho o facto de não ter a certeza sobre se estão reunidas ou não condições em bancas para existirem aí revistas de BD da Marvel.

      “na minha opinião o problema NÚMERO UM do falhanço da Panini Comics foi o facto de ter havido ZERO de divulgação”

      Ainda bem que já andamos a chegar a um consenso! Porque o termo “linear” que utilizou é uma boa maneira de utilizar a semântica para diluir a afirmação de que os problemas de vendas estão em muito casos ligados à ausência de divulgação. Quer dizer, quem faz (como o Freitas) uma correlação entre divulgação e vendas afinal até sabe do que fala, ao contrário do que o Freitas tinha dado a entender de modo “linear” anteriormente!

      As vendas de comics nos EUA tem aumentado nos diferentes canais, e apesar de os números do Direct Market serem inflacionados pelas capas alternativas, e serem vendas a logistas e não ao consumidor final, sugiro uma leitura do Comichron para ter uma noção do aumento de vendas. A quebra que se deu com o implosão do Direct Market na década de 90 (causada pela especulação) já foi parou à algum tempo, embora exista quem começe a temer uma nova implosão derivado ao aumento artificial de vendas com as capas alternativas e incentivos aos livreiros para adquirem produtos que podem depois ser incapazes de escoar.

      Na comparação de números do Mundo de Aventuras para a Panini falta a Goody, e basicamente estamos a comparar o incomparavel, em primeiro lugar porque existem produtos com caracteristicas diferentes (MA, A/C, Devir, Panini, Goody) convem ter em conta que as vendas de Disney, Marvel e DC na Abril/Controljornal não tinham as mesmas tiragems, ou pelo menos as mesma vendas. Depois as tiragens da Goody em alguns casos são superiores às da Devir e semelhantes às da A/C (em alguns casos, em outros são inferirores). Tiragens e vendas não são idênticas, agora as tiragens da Devir até são compreensiveis, mas a Panini ter menos de 3.000 exemplares de tiragem só vem dar razão à argumentação que efectuei em outro local, sobre os problemas da distribuição.

      A Devir quando surgiu foi para editar revistas para as bancas e falhou nesse campo. Agora é um bocado irrelevante estar a falar sobre o que motivou as quebras nas vendas, em particular porque isso implica ter um grande memória, ou ir fazer pesquisa para analisar que vão para além dos problemas com a distribuição. O plano editorial da Devir era no mínimo caótico, e foram cometidos diversos erros a nível editorial, sendo que a melhor prova o facto de a Devir de hoje só ter “herdado” da Devir inicial “A Pior Banda do Mundo”, sendo que até séries que supostamente venderam bem como “Hellboy” deixaram de ser aposta da editora.

      Eu li bem o que o Freitas escreveu, e acredito que conhece melhor o contrato que celebrou com a Panini (ou o Estúdio Fénix) do que eu. contudo (como já tinha dito), do lado espanhol foi justificado o não envio de determinadas informações por isso serem “cosas de Freitas”, o que em espanhol quer dizer quer eram “coisas de Freitas”. Por isso é que menciono que do lado de lá existia quem considerasse que tinha “essa obrigação”. Pode ser algum problema de comunicação, mas o mail (pergunta) que enviei e o que recebi (e ainda tenho) é bastante claro na resposta.

  3. “Tendo em conta que está no mercado há mais de duas décadas envolvidos nos mais distintos projectos, e tendo dados concretos sobre as vendas de Marvel (quer pela Devir quer pela Levoir) estranho o facto de não ter a certeza sobre se estão reunidas ou não condições em bancas para existirem aí revistas de BD da Marvel.”

    Porque é impossível ter a certeza de coisas desse género, claro. Suspeito (mas é a MINHA opinião) que os comics regulares se dão bem onde existe uma rede razoável/boa de lojas especializadas que conseguem absorver uma quantidade de revistas que justifique a impressão, e que comprem a firme (em geralmente em sistema de pré-encomenda). É o caso da maioria dos países europeus onde ainda se distribui comics em banca. No caso da Devir, as vendas directas (FNACs e lojas especializadas) representavam um quarto do total das vendas nos últimos anos do projecto. Só que o quarto que ia para mercado directo representava 1200-1400 (1000 na fase final) ou por aí de vendas. E o restante, para ir para bancas, necessitava de uma tiragem duas vezes a três vezes superior. P.ex. para vender em bancas 3000 era preciso imprimir uns 6-7000 (mais os 1000 a 1200 para o mercado directo). Se o mercado directo tivesse conseguido absorver p.ex. uns 2000 ou 2500 (como em Itália ou Espanha, onde até representam números superiores), já justificava manter as bancas.

    “Quer dizer, quem faz (como o Freitas) uma correlação entre divulgação e vendas afinal até sabe do que fala, ao contrário do que o Freitas tinha dado a entender de modo “linear” anteriormente!”

    Se ler com atenção post que fiz no site do Pedro Cleto sobre a linearidade ou não da divulgação, verá que foi feita no contexto de se estar a discutir a divulgação ou não feita pela Devir.

    “As vendas de comics nos EUA tem aumentado nos diferentes canais, e apesar de os números do Direct Market serem inflacionados pelas capas alternativas, e serem vendas a logistas e não ao consumidor final, sugiro uma leitura do Comichron para ter uma noção do aumento de vendas.”

    Talvez, e os números que lá estão indicam pelo menos uma estagnação, e não uma continuação da erosão. Gostava de saber se os dólares indicados são ajustados ou absolutos. Porque os preços médios não são os medianos, e os comics caros podem ter desequilibrado essa conta.

    “Na comparação de números do Mundo de Aventuras para a Panini falta a Goody, e basicamente estamos a comparar o incomparavel, ”

    Estava a falar EXCLUSIVAMENTE de super-heróis e de nada mais. Mundo de Aventuras, A/Cj, Devir e Panini foram as editoras que editaram comics de superheróis regulares em Portugal (estou a esticar um pouco o conceito no caso da Mundo de Aventuras, mas enfim).

    “Tiragens e vendas não são idênticas, agora as tiragens da Devir até são compreensiveis, mas a Panini ter menos de 3.000 exemplares de tiragem só vem dar razão à argumentação que efectuei em outro local, sobre os problemas da distribuição.”

    Tiragem e venda são números completamente diferentes, e é melhor tirar 3000 e vender 2500 do que tirar 15 000 e vender 4 000.

    Por isso é que os números que coloquei são de VENDAS e não de tiragens. A Devir vendia 3000-3500 de uns 6-7500 de tiragem. Não faço ideia de quanto a Panini TIROU de exemplares, mas quando disse que suspeitava que vendia bem menos de 3000 estava a falar de vendas efectivas. Portanto só indirectamente tem a ver com distribuição. A A/Cj tanto quanto sei, chegou a vender acima de 20 000 exemplares, mas de certeza que precisava de distribuir uns 30 a 40 000 para isso.

    “A Devir quando surgiu foi para editar revistas para as bancas e falhou nesse campo”

    Porquê? O projecto de bancas durou seis anos, e durante uns 3 ganhou dinheiro, permitiu a publicação de mais de 200 revistas e muitos, muitos álbuns (e abriu o caminho para esses álbuns), durou mais do que o da A/Cj portuguesa, e muito mais do que o da Panini. Se a ideia é poder ter revistas e títulos em português, foi de longe o projecto que teve mais sucesso. Houve muitas razões para o seu cancelamento, e uma delas foi a quebra de vendas (natural) em bancas, que também foi potenciada pela guerra de distribuição que havia na altura.

    “O plano editorial da Devir era no mínimo caótico, e foram cometidos diversos erros a nível editorial, sendo que a melhor prova o facto de a Devir de hoje só ter “herdado” da Devir inicial “A Pior Banda do Mundo”, sendo que até séries que supostamente venderam bem como “Hellboy” deixaram de ser aposta da editora.”

    Completamente incorrecto. A Devir perdeu os direitos de editar séries da DC por causa da guerra editorial que ocorreu no Brasil (caso Ediouro Pixel etc… versus Panini, etc…), em que os direitos de Portugal acabaram por ser dados a editoras brasileiras depois de promessas que estes iriam trabalhar o mercado português. A Devir afastou-se dos livros da Marvel porque a Panini não renovou um exclusivo tácito que existia com a Devir, de dar à Devir uma direito de preferência sobre os títulos, e anunciou a sua intenção de licitar os títulos da Marvel a quem quisesses dar mais. Mesmo com um compromisso da Devir de que editaria pelo menos 12 livros por ano, não foi dado nenhuma preferência à Devir, pelo que a Marvel deixou de ser estratégico para a Devir. Sem a DC, que representava uma boa fatia da edição da Deir, deixou de fazer sentido de manter um departamento editorial dedicado, e por isso cancelou-se (não quer dizer que não se tenham cometido erros a nível editorial, livros que não se deviam ter editado, outros que deviam ter sido feitos e assim por diante, claro mas isso acontece em todo o lado). Ou seja, num espaço curto, a Marvel deixou de ser estratégica, apareceu o risco de andarmos a concorrer para certos livros com outras editoras, o que limitava a edição a livros mais ou menos autoconclusivos, e perdeu-se a DC. Desaparceu 80% do catálogo. Deixou de ter interesse para a empresa. Ponto.

    Já não sou sócio da Devir há alguns anos, mas observo que depois de um período com muito poucos lançamentos, a Devir nestes últimos dois, três anos, tem editado mangá, graphic novels, Walking Dead. Não é tanto como dantes, mas para uma actividade que nunca representou a principal actividade da empresa, e sempre foi minoritária na sua actividade, não me parece mau.

    “Eu li bem o que o Freitas escreveu, e acredito que conhece melhor o contrato que celebrou com a Panini (ou o Estúdio Fénix) do que eu. contudo (como já tinha dito), do lado espanhol foi justificado o não envio de determinadas informações por isso serem “cosas de Freitas”, o que em espanhol quer dizer quer eram “coisas de Freitas”.”

    Meu caro, escusa de teimar nisso. Explique-me como é que eu era pago pela Fénix, que apenas trata da produção e da legendagem e grafismo, e supostamente era responsável por divulgação do que quer que seja, sem sequer ser pago por isso? E se a Panini aprova os conteúdos dos comics, e recebe PDFs antes de irem para a gráfica, aliás, o que lhes permitia enviar as pgs de amostra do interior para blogues, como é que não seriam eles responsáveis por enviar o resto da informação? De um plano editorial que eles é que definiram? Nunca ninguém me pediu esses materiais à parte para envio, e claro, se tivessem pedido eu enviava. Mas na verdade, estavam na posse da Fénix sempre, e passavam pela aprovação da Panini… eles tinham-nas. Sugiro que envie um email ao Alejandro Martinez para esclarecer as coisas, porque não sei com quem terá falado em Espanha.

    1. says: Bruno Campos

      Em Portugal não existem lojas especializadas ou qualquer coisa que seja semelhante a um mercado especializado, o que existem são diferentes canais de comercialização, os quais podem ser divididos em 4 categorias embora sejam na realidade só dois: bancas e livrarias. Mas fica aqui a divisão mais detalhada:

      1 – Bancas
      2 – Livrarias (convencionais chamemos-lhe assim)
      3 – Grandes superficies comerciais (Continente, Jumbo, etc)
      4 – Cadeias de distribuição (FNAC, Bertrand e pouco mais)

      Existe um quinto canal (as lojas especializadas em BD) que regra geral não vendem BD editada em português limitando-se quase só a BD importada.

      Falar de um mercado directo em Portugal não faz qualquer sentido, em particular se for para fazer qualquer tipo de paralelismo com o “Direct Market” norte-americano que regra geral funciona com compra a firme e não à consignação. Em particular quando não existe em Portugal um cadeia de lojas de BD, uma distribuição só para lojas de BD e nos canais de distribuição que existem (fora das bancas) o pagamento a firme também é uma excepção, ou então existe um regime intermédio.

      Existem produtos – nomeadamente revistas – que derivado às suas caracteristicas só são viáveis em bancas, podendo ser também comercializadas em grandes superficies ou cadeias de distribuição, mas não se adequam às livrarias, em particular porque as distribuidoras operam em bancas ou nas livrarias, e não em ambos os mercados. As grandes superficies e cadeias de distribuição por vezes trabalham com distribuidoras de ambos os “mercados” ou permitem ao editor colocar lá directamente.

      Falar do Mundo de Aventuras como uma publicação de super-heróis é mesmo esticar (e muito) o conceito. Foram poucas as edições dessa revista que apresentaram histórias de super-heróis, e os números que as publicaram tiveram sempre vendas inferiores a outras edições. Esse facto motivou a escassez desse material nessa publicação e o abdicar de as publicar. Agora é provavel que os personagens que vendiam 40 000 exemplares hoje vendam menos que super-heróis.

      Eu tenho consciência que vendas e tiragens são duas coisas bem diferentes, mas os números de vendas reais são mais dificieis de aferir do que o das tiragens. Sendo que no caso da A/Cj (por exemplo) os 20 mil exemplares que menciona são de tiragem e não de vendas, e isso tenho a certeza, porque as revistas tiveram nos últimos números tiragens inferiores 10/15 mil exemplares.

      É óbvio que é melhor ter tiragens de 3000 e vender 2500 do que ter tiragens de 15 000 e vender 4 000, agora as bancas não são livrarias e são um local onde é suposto serem comercializadas publicações regulares (diárias, semanárias e mensais) que custumam ter uma fonte de receita que minora as sobras elevadas: publicidade. Uma tiragem elevada pode permite ajustar a tiragem às vendas reais, e colocar as publicações nos pontos de venda onde têm procura. Uma tiragem menor vai sempre estar em menos pontos de venda e ter mais dificuldade em encontrar público.

      O pecado capital da Panini em termos de tiragens, terá provavelmente sido esse: considerar que a revistas poderiam ter as mesmas tiragens das colecções da Levoir vendas semelhantes, tendo esquecido-se de que seriam publicações que iram para as bancas sem o apoio de um jornal.

      A partir do momento em que admite que existiu uma quebra de vendas está justificado o facto de afirmar de que o projecto da Devir para as bancas falhou.

      A quebra de vendas que as publicações em bancas têm, é uma quebra que existe em qualquer publicação regular (em qualquer canal de distribuição) sendo que é da competência do editor criar pontos de entrada e motivos que recuperem os leitores perdidos ou tragam novos leitores para as publicações. Isso é trabalho do editor, em particular quando só está a publicar material que é um selecção de trabalho já publicado em outro país.

      Sem ver o seu contrato não vou conseguir explica-lo de certeza, sem ter conhecimento de eventuais acordos extra contrato ainda menos. Eu não estou a teimar em nada, estou simplesmente a reafirmar um facto. Sendo que lhe é extremamente fácil de saber com quem falei na Panini, uma vez que a informação que me foi prestado, foi na sequência de um mail enviado em triplicado.

      Nesse mail que foi enviado simultaneamente para Espanha e Portugal, foi solicita a informação adicional que já mencionei, do lado português (Hartvig Freitas) não veio resposta e depois disso nem informações da Levoir.

      Do lado espanhol, um contacto não deu resposta, outro passou a enviar informação complementares (que não eram as solicitadas mas) que sempre eram úteis. Já lhe reduzi as hipóteses a duas pessoas.

      Não me lembro se tenho aqui o contacto de Alejandro Martinez, mas tenho a certeza de o seu nome nunca ter sido mencionado quando lhe solicitei determinas informações, quer no mail que mencionei acima, quer em outras enviados unicamente para si.

      Já agora relembro-lhe que algumas destas informações por vezes até falham na Levoir: Ficha técnica (quem escreveu, desenhou, etc e tal), quais os títulos republicados. O tipo de informação que consta em qualquer publicação e cujo envio facilitava a vida a quem divulga os trabalhos, antes da sua publicação. É um bocado dificil de compreender porque é que quando uma publicação já se encontrar aprovada pelo detentor dos direitos, traduzida, com maquetes feitas, enviada para as gráficas e em alguns casos até impressas… porque raio é tão complicado ter acesso a uma informação básica que até facilitava a vida a quem faz divulgação e, na maioria dos casos, ou aguarda pela edição chegar às bancas ou tenta adivinhar que material é que vai ser editado.

  4. É possível que tenha razão e que o mercado US tenha recuperado da implosão dos anos 90. Este artigo é interessante, e com as devidas ressalvas aponta para isso. Mas claramente o efeito não é só (ou sequer maioritariamente) pelos eventos ou esforços da DC e Marvel, mas pela diversificação do mercado.

    TILTING AT WINDMILLS: Dissecting the 2012 BookScan Numbers
    http://www.comicbookresources.com/?page=article&id=43773

    Era interessante haver números deste género para o nosso país.

    “…On the one hand, it’s the lowest number of units we’ve been able to track over ten years; on the other hand, it’s the fourth largest year in terms of dollars sold. Now, as we’ll see in a little bit, a really insanely large amount of that can be put on the shoulder of one book (“The Walking Dead”), so it’s hard to say this is a “healthy” result (even if it’s pretty awesome for Robert Kirkman and Charlie Adlard!) for the market as a whole….”

    1. says: Bruno Campos

      Eu sei que tenho razão na recuperação da implosão dos anos 90… e tenho plena consciência que o mercado livreiro (a que o Bookscan se refere) é um dos responsaveis.

      No mercado livreiro (norte-americano) a Marvel e a DC tem menos força do que no mercado directo (direct market, não confundir com bancas que foram abandonadas à muito), sendo que no mercado livreiro a DC até costumava ter mais peso do que a Marvel, em virtude da Vertigo, contudo derivado a mudanças contratuais que afastaram autores para outras editoras (nomeadamente a Image) a Vertigo perdeu força quer no DM quer no mercado livreiro.

      As vendas do DM tem crescido, apesar de existir erosão natural nas vendas de revistas regulares. com algumas excepções, algo que as editoras tentam contrariar com manobras de markting ou histórias.

      Recomendo a leitura de:
      http://comichron.com/

      ou de “sales charts” no Beat:
      http://comicsbeat.com/category/sales-charts/

      Apesar de as revistas de Marvel e DC (e a maioria dos restantes títulos norte-americanos) serem comercializados no Mercado Directo, elas são feitas à semelhança das publicações regulares para bancas, são na sua maioria produtos feitos para um consumo mensal. Sendo que a narrativa interligada dos Universos Marvel e DC acaba por ser uma das caracteristicas que impede que tenham a mesma força no mercado livreiro, como os números do bookscan comprovam, e o motivo porque existem produtos concebido especificamente a pensar nesse mercado.

  5. Para a Devir fez sentido falar durante uns anos de “mercado directo”, na soma de FNAcs e lojas especializadas e semi-especializadas (Temas, algumas livrarias, etc…) porque compravam as revistas. Ou seja, durante anos a Devir vendia em bancas, e vendia neste “mercado directo” bastantes exemplares (como lhe disse, em média representavam 1/4 das vendas, mais na fase final – ou seja, a erosão foi fundamentalmente nas bancas, embora também não tenha existido nesse mercado. Para que fique claro, houve durante anos lojas que pediam mais de 30 de cada revista quando saíam, e às vezes 100.

    Quanto à A/Cj, o que me foi dito directamente na altura pela Panini, e suponho que agora, 20 anos ou quase depois, não interessa muito, é que as VENDAS tinham caído dos 20 000 para pouco mais de 3 000 em poucos anos. E quando começámos a vender, os 7 ou 8 000 que vendíamos eram considerados muito bons, na Europa em geral, particularmente por representarem um acréscimo significativo de preço de capa.

    Na verdade, e com a excepção dos grandes mercados, é frequente este género de projectos editoriais irem de editora para editora, serem cancelados, deixar de haver comics, etc… A nossa situação está longe de ser original ou excepcional, infelizmente.

    Quanto a vendas: eu conheço muitos números, mas obviamente só posso falar directamente dos da Devir (que nunca teve qualquer problema em divulgar tiragens E vendas). No melhor momento as vendas da Devir rondaram os 5500-6000 mensais (mais no Wolverine, menos nos outros), e no pior c erca de 3000 – isto em bancas. O “mercado directo” andou sempre acima dos 1000, nos 1400-1500 na melhor altura, nos 1100-1200 no pior. Por isso, claramente o problema foram as bancas. Em parte a deterioração da distribuição que ocorreu na altura foi um dos grandes responsáveis, mas terá havido outros. A erosão das vendas, a incapacidade de fazer uma campanha de marketing que tivesse hipótese de impulsionar as vendas (em parte porque por vários motivos não acreditávamos que fosse compensar, em parte por falta de recursos da empresa), etc…

    Relativamente à informação ou não da Panini, como lhe disse fiz o trabalho numa fase inicial, mas a partir de certa altura achei que não devia continuar a fazer, até porque tínhamos arrancado a fase de trabalho mais intenso da colecção deste ano da Marvel, e deixei de ter cabeça e disponibilidade para isso. Todos os mails que me foram enviados foram reenviados para a Panini, incluindo o seu que enviou ao Ponç e à Yolanda (que eu não conheço e com quem nunca falei). O meu “contrato”, que não passava dum acerto por email, era simplicíssimo: x por pg de comic, mais x por textos de apoio. Depois de ter escrito vários textos (que nunca cobrei, note-se) para comunicados, notas de imprensa, informação ao ponto de venda, etc… que acabaram por nunca ser usados, também achei que não valia a pena continuar a fazer esse trabalho sem que me dissessem claramente que ia ser usado e mo pagassem. Fiz esse trabalho com gosto, e inicialmente até fui eu que propus algumas das coisas, mas numa altura que tinha tempo livre. Depois deixei de ter.

  6. Onde se lê: “ou seja, a erosão foi fundamentalmente nas bancas, embora também não tenha existido nesse mercado.” de via ser, claro, “ou seja, a erosão foi fundamentalmente nas bancas, embora também tenha existido nesse mercado [directo]”.

      1. Na altura significava (para a Devir) FNACs, Temas, lojas especializadas (havia algumas, as mais importantes Mundo Fantasma, Dr. Kartoon, Centésima Página, Sétima Dimensão, talvez um total de 10-15 lojas). Ou seja, os nossos clientes directos, fora bancas, fora livrarias na altura servidas pelo nosso distribuidor, a Sodilivros. Como disse, representavam vendas de cerca de 25% das revistas, e uma percentagem MUITO variável de livros – podia ir até 75% em casos de livros menos comerciais, pouco trabalhados pelo nosso distribuidor, e que não fosse para bancas, até cerca de um terço para livros que fossem para bancas e que o distribuidor conseguisse implantar bem, geralmente casos mais mediáticos, tipo Hobbit, Sin Citys etc… Variou muito consoante os anos, mas isto é um número mais u menos representativo.

        1. says: Bruno Campos

          Estamos a falar de distribuição própria, não estou a ver o que isso tem a ver com “mercado directo”. Nem todas as editoras que têm distribuição própria fazem distribuição nos mesmo pontos de vendas, assim como as condições de venda podem variar. Convém não misturar termos como “distribuição própria” e “mercado directo” (que e um termo que até pode induzir em erro, criando confusão com o “direct market” norte-americano.

  7. Por um critério importante seriam “mercado directo” pela própria definição que esteve na origem da expressão nos EUA (por levarem revistas a firme, sem serem servidos em sistema de venda de “bancas” e usarem pré-encomendas, tipo Mindo Fantasma, 45 de cada, FNAC 300 de cada, Tema 125, Dr. Kartoon 30, etc…).

    Mas nem sequer foi nesse sentido que eu usei, não aproximei demasiado o termo do americano. Na verdade, uma das grandes vantagens da Devir era (e é) o de possuir uma rede de pontos de venda (quase 1000, dos quais uns 250 muito fortes) que não eram livrarias, e que por levarem cartas de Magic, Pokémon, outros produtos e merchandisings vendidos pela Devir etc… podia, também servir leitores em pequenas quantidades, e levar 2-3 ou um pouco mais de cada revista em conjunto com os outros produtos (sem que isso representasse um custo directo para a Devir em termos de envios – representava pelo trabalho de armazém que gerava). Na soma de todos esses pequenos clientes que na altura existiam, incluindo pequenos clubes de jogadores, lojas especializadas em torneios de Magic, papelarias que saltaram fora do sistema de bancas/Midesa, etc… representavam vendas muito consideráveis, e constituíam de facto um mercado directo.

    Por isso, se quiser, entenda “mercado directo” da Devir como uma combinação entre “distribuição directa” e “algum tipo de mercado directo especializado que só existiu para a Devir”, algo a meio caminho. Tanto faz.

    1. says: Bruno Campos

      Isso é distribuição propria, algo que não é exclusivo da Devir (Asa, Gradiva e outras editora também têm), existem até casos de editoras que acabam por desempenhar o papel de distribuidora de editoras mais pequenas.

      Utilizar um termo que se aplicas a uma editora, mas cujas condicionantes mudam ser for outra editora e não se implica a outra é uma boa maneira de gerar confusão no debate. Distribuição própria com pagamentos a firme existem, agora algo que se assemelhe a um “mercado directo” onde a regra é a compra a firme não existe, até porque alguns dos pontos de vendas até trabalham com mais de um tipo de pagamento.

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