Em jeito de balanço final

Agora os comentários no Leituras de BD enceraram aqui ficam os últimos apontamentos relativos à passagem da Maria José Pereira pela Asa, aflorando também um pouco do que foi a sua política editorial na Méribérica.

Após ter falado ao de leve sobre alguns pontos negativos da sua passagem pela Asa e Meribérica, Maria José Pereira ainda nos brindou com mais umas participações na secção de comentários, incluindo abordando alguns dos pontos que tinha mencionado aqui.

Caro Bruno Campos: acho que tem a memória completamente baralhada em termos de datas e de quantidades de livros editados pela ASA. Mas eu ajudo com algumas datas: 2002, foi o ano em que entrei para a ASA; só comecei a publicar títulos no 2º semestre; 2004 – foi o ano em que publiquei o Lucky Luke; 2005 – 2º semestre: foi o ano em que comecei a publicar o Astérix; 2005/2006 – foi mais ou menos nessa data que comecei a editar livros com o Jornal Público; Corto Maltese? Penso que só publiquei desde 2010 ou 2011… Quer fazer o favor de ver no colofon em que data foi publicado na ASA o primeiro Tintin ou o primeiro Spirou? E sabe quem fez o catálogo de Bd da Meribérica?

Eu não tinha mencionado datas de edição, e também não mencionei números concretos sobre as edições da Asa em 2002/2003. Não tenho aqui comigo os dados, mas também ninguém adiantou quais eram esses dados correctos ou porque consideravam que eu estava errado. De qualquer modo Maria José acabou por esclarecer o motivo de ter mencionado datas:

“Quem mencionou as datas fui eu. Ao fazê-lo, quis demonstrara as séries “grandes” tanto podiam ter sido editadas pela ASA como por outra editora qualquer (em Portugal, sempre houve editoras grandes e pequenas);”

O motivo porque a Asa conseguiu os direitos da totalidade das séries “grandes” franco-belgas, foi algo que Maria José não chegou a clarificar, tendo o Nuno Amado explicado a situação nas suas alegações finais.

“Mas há uma pergunta que eu posso responder. Nenhuma editora pegou nas séries FB [franco-belga] mais rentáveis (Asterix, Lucky Luke, Spirou e Tintin) por uma razão muito simples, os direitos são caríssimos! Para além das condições impostas por eles, tipo ter de reeditar as séries completamente. Posso-te dizer que também houve uma tentativa da ASA para comprar os Estrumpfes que não foi avante porque o preço dos direitos eram um abuso. A ASA foi a única editora em Portugal com “carteira” para se “chegar à frente” nos casos atrás referidos.”

Algo que não nega os rumores de que existiam outros interessados nessas séries, e que existiram negociações de diferentes editoras durante 2002/2003 para adquirir as mesmas

Colocar Titeuf no meio de Corto Maltese e Asterix foi um exercício hipotético (e consciente) para ilustrar uma premissa: uma série nova da Asa editada em simultâneo com séries populares corre o risco de ser um fracasso comercial, não vingar.  Tinha alguma curiosidade sobre a opinião de Maria José sobre Titeuf, uma série extremamente popular em França que não vingou em Portugal. Estava curioso por saber se Mª José considerava se a serie não tinha vingado por mau timming, falta de exposição ou se é uma série como Largo Winch, que é muito popular em França mas não tem sucesso em Portugal.

A resposta de Maria José não foi muito elucidativa mas algo curiosa…

“-Titeuf – de facto, esta série funcionou melhor em França do que nos outros países em que foi publicada; do Titeuf, o que funcionou melhor em todo o lado foi o Guia Sexual da Malta Nova, que publicámos na ASA na mesma altura em que a BD foi lançada.
– Uma série nova de BD (em todo o lado) só começa a “funcionar” a partir do volume 3.”

Se uma série nova de BD só começa a funcionar a partir do 3º volume, eu fico surpreso com a quantidade de séries não chegaram a ter sequer um segundo volume, quer na Asa quer na Méribérica. Ou A Mª José estava a falar de “funcionar” em termos de gerar novas edições do primeiros volumes com o 3º volume e seguintes, em vez de uma série ser rentável, gerar lucro mas não ter procura suficiente para justificar múltiplas edições. Uma questão que fica para responder em outra altura.

“Sabe quantos anos levei a conseguir editar BD com o Público? 10. Sabe quantos anos levei a conseguir editar mangá? 6. Se calhar o que me distingue, é a persistência.”

Eu não considero que o facto de Maria José Pereira ter demorado 6 anos para editar mangá tem tanto mérito como a Texto Editora ter editado mangá 15 anos antes. Ambas falharam, o mercado não cresceu, aquilo que merece ser analisado é o que levou o mangá a falhar na Asa, é que eu tenho alguma dificuldade em acreditar que nenhuma série vingue em Portugal. (Quer dizer a Méribérica consegui concluir a edição de Akira….)

Neste momento parece que a Devir está finalmente a acertar nas séries de mangá que está a editar, tendo vindo a publicar as séries a um ritmo decente e ampliando o número de títulos que publica.

Pode ser que desta vez o mangá vingue finalmente em Portugal, o mercado vai agradecer essa expansão dos géneros de BD publicados, para além de o mangá permitir a outras editoras publicarem títulos que têm o potencial de de tornar grandes sucesso, como é o caso de Naruto.

“- Trabalhando por conta de outrem, fiz o que faria se trabalhasse por conta própria: tentar equilibrar séries “conhecidas” com séries novas. Se consegui? Não sei.

Na Meribérica, Maria José até consegui equilibrar séries novas com “antigas”, infelizmente na Asa a técnica de atirar barro à parede não funcionou tão bem, em parte devido ao excesso de títulos que  foram editados, que não permitiu a séries novas sobreviverem tirando raras excepções. E quando Maria José começa a trabalhar na Asa o número de séries conhecidas já era muito superior aquelas que existiam no seu tempo na Meribérica.

 Quem estraga o mercado (de BD e não só)? Quem não investe uma lágrima de suor ou o que quer que seja: olha para os livros (como se olhasse para um sabonete ou uma bugiganga) e limita-se a dizer: isso não interessa. Não vende. [..] Cheguei aonde gostaria? Eu sei que não. Falta-me concretizar “a agência de autores nacionais” que alguém alvitrou que iria fazer quando sai da ASA :-)”

“A agência de autores nacionais” parece ser uma piada. Eu não me lembro de a Maria José ser conhecida por vender séries, só por comprar, aliás outro ponto negativo do seu trabalho na Asa seria mesmo nesse capítulo: a incapacidade de vender álbuns de autores nacionais para o estrangeiro.O caso que me deixa mais perplexo é a Asa ter capacidade de comprar o “Merci Patron” do Lacas e depois não ser capaz de vender o “Asteroid Fighters”. Era supostos o Lacas ter mercado em França em particular depois de ter sido premiado…..

Estas minhas análises não são uma ataque ao carácter de Maria José, nem sequer estou a dizer que ela não gosta de BD, acuso-a é de ter defendido uma politica editorial monopolista de modo extremamente agressivo e lesivo para o mercado de BD.Não considero que o monopólio da Asa (assim como o da Meribérica) seja saudável para o mercado de BD, quer no imediato quer no futuro. Se quiserem podem tentar explicar-me porque é que um monopólio de uma editora é mais benéfico para um mercado como o da BD portuguesa.

Não existem monopólios em países como França e Japão, dois dos maiores mercados de banda desenhada. Eu não me lembro de monopólios de BD em Espanha e Itália, no EUA é que não existe mesmo um monopólio de edição com um mercado com 2 grandes editoras num segmento (que são 3 se analisarmos só as vendas de TPB/GN).Um dia gostava de saber a opinião da Maria José relativamente à existência de monopólios.

“Cometi erros? Acho sinceramente que cometi. Faria tudo exactamente como fiz? Decerto faria.” – Maria José Pereira

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