Breve História da BD (Parte 2 de 2)

Os anos 70, na sequência da criação de “Corto Maltese” por Hugo Pratt em 1967, marcam uma abordagem do romanesco pela banda desenhada.

Nos Estados-Unidos, enquanto os “comic-books” deixam os stands e passam para as leis próprias do ‘direct market’, Will Eisner e Jules Feiffer introduzem a ‘graphic novel’, histórias de banda desenhada sem a  limitação comercial das 24 páginas dos ‘comic-books’. Na Europa aparece a revista (A Suivre).

No início da década de 80 dá-se um enorme ‘boom’ nas revistas especializadas, mas no final da década já se sente uma crise generalizada deste tipo de publicações. De qualquer modo, a banda desenhada começa a fazer-se respeitar, os autores ganham um estatuto profissional, surgem os salões e festivais.

Em 1986, na América, a publicação de “Maus” de Art Spiegelman, “The Dark Knight Returns” de Frank Miller e “Watchmen” de Alan Moore e Dave Gibbons volta a levantar a questão do posicionamento da BD no seio das artes literárias e nas estantes das livrarias.

Duas grandes baixas devem ser consideradas, olhando o percurso da banda desenhada pós-68: o público infantil e o público feminino deixaram completamente o plano da igualdade. Excepção que confirma a regra é a ‘manga’ japonesa, também ela cada vez mais uma parte integrante do novo discurso da BD.

Mas os anos 80 e 90 caracterizam-se sobretudo por um decisivo renovar da linguagem da banda desenhada. Novas possibilidades técnicas e gráficas levaram os autores de banda desenhada aos museus e galerias de arte (Schuiten, Loustal, Mattotti), e a redescobrir a sua abordagem estilística (Sienkiewicz, Prado, Andreas), e levaram a banda desenhada para além do género, evidenciando uma ambição narrativa sem precedentes (Gaiman, Miller, Peeters, Moore).

No ano 2000, a banda desenhada não pára de inventar a sua própria linguagem.

Considerada durante muito tempo como um parente pobre da ilustração e, sobretudo, da literatura, a banda desenhada é hoje uma forma de expressão respeitada, uma das mais modernas e originais linguagens específicas do nosso tempo.

A linguagem da banda desenhada parte da linguagem da ilustração e da caricatura, absorvendo as noções inerentes à técnica do desenho, à perspectiva, à modulação da linha, à aplicação da cor, à utilização dos diferentes materiais e à deformação expressiva.

Depressa absorve o enquadramento e recorte temporal da fotografia, a composição, planificação e equilíbrio das artes gráficas, o tempo da música e do cinema, a estrutura da narrativa; a gestualidade e palavra do teatro; o movimento do cinema de animação, e a montagem cinematográfica. No século XXI, começa a libertar-se do papel, descobrindo o suporte digital.

Para lá de tudo isto, mantém a sua especificidade de linguagem.

Em várias entrevistas, Alan Moore destaca o peculiar relacionamento entre texto e imagem como o verdadeiro fascínio da banda desenhada, linguagem que apela simultaneamente ao lado direito do cérebro (o subconsciente ligado à imagem) e ao lado esquerdo (verbal, racional). Levando ainda mais longe esta ideia, o consagrado analista Thierry Smolderen defende que a banda desenhada não é representada no “papel”, mas numa superfície mental multidimensional disponibilizada pelo leitor a partir do contributo do autor (“estereo-realismo”).

No novo milénio, a banda desenhada tende a consagrar autores que assumem a responsabilidade pelo argumento e pelo desenho, mais do que as colaborações argumentista / desenhador que marcaram muita da evolução da BD no século XX. Autores como Chris Ware ou Joann Sfar marcam a identidade do momento atual da banda desenhada, que ainda apresenta a manga jaonesa como grande protagonista.

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