Manteve-se a ideia de descentralização, procurando que a BD aparecesse um pouco por toda a cidade durante o evento. A Fábrica da Cultura permaneceu, ainda assim, o grande pólo de exposições e acontecimentos, com os restantes espaços do Festival tendentes a encontrar uma identidade temática (os Recreios da Amadora, por exemplo, foram o centro do cartoon). A presença paralela do cinema de animação regressou em grande estilo com o Festival Cinemanimação, em duas vertentes: o cinema (e cinema de animação) de alguma forma ligado à BD, e o cinema de animação. Para o lançamento desta (nova) primeira edição, Jean Giraud / Moebius regressou ao Festival da Amadora, cinco anos depois da sua passagem de 1993.
Mas o Festival de 1998 ficou sobretudo assinalado por decorrer em simultâneo com o primeiro Salão Lisboa, numa coincidência de datas determinada por uma continuidade de iniciativa cultural que o Município lisboeta quis garantir após o encerramento da EXPO 98.
Insólita foi também a passagem de R.K. Laxman pela Amadora. O autor indiano esteve na sessão inaugural do evento mas, a partir daí, não se apresentou em qualquer dos debates e conferências em que estava programada a sua presença.
Na Fábrica da Cultura, a experiência da apresentação em dois pisos de exposição foi consolidada, apresentando estes um maior equilíbrio. No piso inferior, Luís Diferr foi o motivo de uma mostra individual, em torno de “Os Deuses de Altaír”. Um atelier para os mais novos antecedia uma mostra de “underground comix” vinda dos Estados Unidos, com trabalhos de Crumb, Shelton, Griffith e muitos outros. Max Cabanes esteve em evidência com uma mostra do seu trabalho. Heróis em destaque foram “Spirou” e “Garfield”, comemorando sessenta e vinte anos, respectivamente.
Retomando uma tradição de divulgação da BD de outras culturas, o destaque foi para a BD da Índia, com uma apresentação dividida entre a Índia na obra de José Ruy e obras de autores indianos, com destaque para Alexys e R. K. Laxman. A exposição colectiva “Os Jogos na BD”, direccionada para o público infantil, apresentava uma cenografia audaciosa. No piso superior, para além dos trabalhos integrados nos concursos de BD e ‘cartoon’, deram lugar a exposições a coleção Quadradinho, da ASIBDP e as publicações ‘Selecções BD’ (incluindo trabalhos de Boucq e Alberto Varanda) e ‘Mestres da BD’. “Luís Má Sorte” justificava uma pequena mostra. O espanhol Nazário provocava com mais uma exposição para “maiores de 18 anos”. Finalmente, a colectiva “BD Inglesa” dava a conhecer novos (mas consagrados) autores britânicos como Dermot Power, Kevin Walker ou Bryan Talbot. Pela primeira vez, foi apresentada uma galeria-venda de originais de autores portugueses e estrangeiros.
Fora da Fábrica da Cultura, a Galeria Municipal apresentou uma exposição dedicada a Eduardo Teixeira Coelho. Os Recreios da Amadora propuseram as mostras de cartoon “Sem aids com Amor”, da Bienal Internacional de Humor de São Paulo, e Rui Pimentel. O Espaço Delfim Guimarães apresentou “Perdido no Oceano”, a mostra portuguesa que havia marcado presença no 25º Festival Internacional de Angoulême. Finalmente, na Casa Roque Gameiro estiveram originais de “O Mercenário” de Vicente Segrelles.
Os autores presentes foram Luís Diferr, José Carlos Fernandes, Eduardo Teixeira Coelho, Rui Pimentel, R.K. Laxman, Cabanes, Segrelles, Dermot Power, Pat Mills, Kevin Walker, Rafa Garres, Gilbert Shelton, Dethorey, Giroud, Tome, JAL, Boucq, Varanda, Luís Gê, Manara e Jean “Moebius””Giraud.
O Júri distinguiu como Melhor Álbum Português, Zé Inocêncio – As Aventuras Extra Ordinárias de um Falo Barato, de Nuno Saraiva (BaleiAzul) e, como Melhor Álbum Estrangeiro Editado em Portugal, Rever as Estrelas, de Milo Manara (Meribérica-Liber). O troféu Honra distinguiu António Dias de Deus.