O primeiro impulso de quem começa a ler A Pior Banda do Mundo é a de afirmar que não há história: cada duas páginas percorre um instantâneo capaz de resumir uma das facetas de uma personagem nova, como uma espécie de contos cuja associação há-de formar um todo coerente. A insistência aleatória com que vai percorrendo os membros da banda justifica o título da obra, mas algumas outras personagens insistem também em ter tempo de antena repetido.
A ausência de uma história linear seria desapontante se estas facetas ilustradas não nos tocassem como instantâneos da realidade em que vivemos, ampliando exageradamente os absurdos da nossa sociedade – e assim fica o leitor viciado nesta galeria de casos aberrantes. Ainda assim, é com um sentimento de alívio que chegamos ao final deste volume com o primeiro momento de crise a dar início à história da pior banda do mundo: não haverá mais ensaios após x de anos a ensaiar.
Sem história per se, A Pior Banda do Mundo vive da exploração linguística (e o recurso a palavras raramente, se alguma vez, usadas no dia-a-dia pode assustar alguns leitores) das pequenas obsessões, fantasias e neuroses que nos tornam únicos, mas ao mesmo tempo fomentam a incompreensão dos outros e nos afastam da sociedade, colocando-nos à parte. Ao mesmo tempo, porém, explora igualmente as obsessões societais que nos unificam e exploram – como é o caso das indústrias da lipossucção.
Na minha opinião, A Pior Banda do Mundo não tem um desenho agradável, mas a sua caricatura, num tom simultâneamente monótono e saudosista de sépias e preto, é atraente ao mesmo tempo que uniformiza todo o volume, complementando na perfeição o espírito crítico dos instantâneos retratados.
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A PIOR BANDA DO MUNDO VOL 1
Autor: José Carlos Fernandes
Páginas: 192, a cores
Formato: 170 x 240 mm
ISBN: 978-989-559-219-7
PVP :22 €
Editora: Devir
Edição: 2014[/box]
