História do AmadoraBD: 2002

Neste ano de 2002 a Amadora recupera decisivamente toda a sua importância e prestígio nacional e internacional.

No panorama português, o AmadoraBD foi o acontecimento do ano. Foi o ponto de convergência das estratégias de editoras que publicaram um volume impressionante de novidades, o local de encontro dos autores, a ponte entre diversos tipos de profissionais, e a base de todos os projectos de futuro.

Em termos internacionais, a conferência “100 Bandas Desenhadas para o Século XX” (organizada por João Paiva Boléo com a presença de estudiosos de renome portugueses e estrangeiros) e a mostra retrospectiva de Alan Moore levaram o nome da Amadora a diversos cantos do mundo. As exposições “Odisseia” e “Alan Moore” suscitaram o interesse de diversos festivais e museus estrangeiros.

E é preciso não esquecer que o AmadoraBD 2002 aparece numa altura em que as iniciativas culturais e locais estão fortemente condicionadas por limitações de ordem orçamental, e que, desde 2001, a Câmara passou a custear a quase totalidade do orçamento do festival. Num cenário destes, um evento com a qualidade e o equilíbrio da edição 2002 é, naturalmente, ainda mais significativo.

O envolvimento das editoras foi exemplar. Veja-se a forma como a Asa tirou partido da presença de Jacques Martin, a dinâmica da Booktree em torno do novo álbum de Louro, a complementaridade que a Devir trouxe à exposição retrospetiva de Alan Moore, o acompanhamento que a Polvo fez de Christophe Blain, ou o acontecimento que a Witloof fez dos prémios com que o AmadoraBD distinguiu “O Vento nos Salgueiros” e “Ideias Negras”.

Na Escola Intercultural, apesar de a exposição central do evento, A Odisseia – A BD portuguesa na viragem do século, não ter sido conseguida em virtude da cenografia demasiado arrojada, as restantes mostras confirmavam a qualidade da edição 2002 do FIBDA: a cenografia da mostra de Pedro Brito, a originalidade de Christophe Blain, a dignidade e o rigor de O Mundo Clássico de Jacques Martin, o extraordinário detalhe dos originais de Rosinski, a composição e trabalho de cor de Baru, a paixão nos originais de Oscar Zarate e Melinda Gebbie, a fortíssima identidade do universo Fantagraphics (onde se destacavam os brilhantes originais de Charles Burns e Chris Ware), o ambiente do novo trabalho de Luís Louro, etc. Ainda assim, as mostras que englobaram esta edição do festival teriam, certamente, outra dignidade num espaço mais amplo e com mais possibilidades ao nível das soluções.

Fora da Escola, destaque obrigatório para a extraordinária exposição de homenagem a Arcindo Madeira (Galeria Municipal Artur Bual), cuja síntese de um traço solto e eficaz (fortemente enraízado no desenho do natural) não deixa ninguém indiferente, e para a ambiciosa retrospetiva de Alan Moore (CNBDI).

Entre os autores presentes, o tímido Chris Ware foi a estrela maior. Os autores presentes foram Daniel Clowes (E.U.A.), Charles Burns (E.U.A), Chris Ware (E.U.A), Eric Reynolds (E.U.A), Baru (França), Marc-Antoine Mathieu (França), Rosinski (Polónia), Sebastien Ferran (França), Jorge Zentner (Argentina), Rick Veitch (E.U.A), John Totleben (E.U.A), Bruno Madaule (França), David Soares, Paulo Patrício, Luís Louro, João Miguel Lameiras, João Ramalho Santos, José Carlos Fernandes, Pedro Pires, Pedro Brito, Arcindo Madeira, Miguel Rocha Pedro Massano, José Carlos Fernandes, Pedro Pires, Pedro Afonso, André Carrilho, Rui Lacas, João Fazenda, Oscar Zarate (Argentina), Melinda Gebbie (E.U.A), Jacques Martin (França), Christophe Blain (França), José Villarrubia (Espanha), Cosey (Suíça) e Rafael Morales (Suíça).

Os Prémios Nacionais de Banda Desenhada distinguiram O Quiosque da Utopia, de José Carlos Fernandes (Devir) como melhor álbum português. A Canção do Bandido, de Paulo Patrício e Rui Ricardo (Edições Polvo) recebeu o prémio para o melhor argumento, e Arquipélagos, de Dinis Conefrey (Editora Iman) recebeu o prémio para o melhor desenho.

O prémio para o Melhor Álbum Estrangeiro Publicado em Portugal foi para O Vento dos Salgueiros, tomo 2 – Automóvel, Sapo, Texugo, de Michel Plessix (Witloof Edições).

O Troféu honra distinguiu Arcindo Madeira, autor notável da “época de ouro” da BD portuguesa, sendo um dos mais representativos autores de O Papagaio (a revista que estreou o Tintin em Portugal), e marcando definitivamente a imagem da revista com o seu estilo pessoal.

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