Fórmulas de Festivais: O AniComics

De entre os eventos de banda desenhada criados a partir da visão de quem acha que sabe fazer melhor, o Anicomics é o maior sucesso.

Com um muito competente trabalho de divulgação e comunicação, e a duração de apenas dois dias, sugere ainda a integração da banda desenhada numa oferta mais abrangente de “cultura pop”.

O público tem respondido com grande entusiasmo, ajudando a construir um ambiente muito próprio que confere identidade a um evento jovem, moderno e dinâmico.

Ao nível da banda desenhada, é um evento à medida de Mário Freitas, o incansável rosto da organização, e da editora Kingpin Books.

Mário Freitas na Launch Party do Anicomics. Foto via Kirane Project
Mário Freitas na Launch Party do Anicomics. Foto via Kirane Project

Se é certo que se pode apontar algum amadorismo à forma como são expostos originais de BD, nada há a dizer da eficácia do evento ao nível da restante programação ligada à banda desenhada, com a presença de autores, sessões de autógrafos, workshops, lançamentos editoriais, lojas (sublinhando-se, este ano, o plural, já que a oferta conta com mais duas lojas para além da Kingpin) e aquilo que me parece merecer maior destaque: a antevisão do ano editorial da Kingpin Books, com a apresentação dos livros a publicar pela editora durante o ano.

Ano após ano, a editora Kingpin aproveita o palco do Anicomics (que inaugura o calendário de salões e festivais) para apresentar o seu plano editorial, sendo que Mário Freitas cumpre este exercício na presença dos autores envolvidos, reforçando a ligação entre os autores e os leitores (que a posterior publicação do livro virá formalizar) e, sobretudo, ajudando a criar uma base de leitores que se identificam com a cultura Kingpin (que acaba por se afirmar para lá da cultura pop). Isso é muito importante em termos de construção de mercado.

Para se ter uma ideia melhor, veja-se a lista de livros e autores que integram a apresentação deste ano: Vil: Fado do Assassino, de André Oliveira e Xico Santos; Kong the King, de Osvaldo Medina; Fósseis das Almas Belas, de Mário Freitas e Sérgio Marques; Solomon: Deluxe edition, de Carlos Pedro. Serão apenas quatro livros (a que haverá que somar Casulo, de André Oliveira e diversos autores, lançado durante o evento) mas não deixam de representar uma boa parte do que o ano de 2015 promete em termos de BD nacional.

Naturalmente, a fórmula do Anicomics só funciona na medida em que permite este destaque (justa compensação para a trabalheira que dá a organização do evento) à Kingpin. A mistura de outras editoras perturbaria a identidade da cultura que, em termos de banda desenhada, acaba por vingar no evento. Mas essa limitação não lhe retira êxito.

O projeto conseguiu afirmar-se como anual, e manter um crescimento sustentado mesmo quando deixou de apostar na vinda de autores estrangeiros.

Sobretudo, é um projeto que não pretende acabar com todos os outros e que, pelo contrário, vive bem em complementaridade com eles, chegando mesmo a mostrar-lhes como é que, com menos meios, se consegue trabalhar bem algumas áreas essenciais para que uma fórmula, seja ela qual for, resulte.

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