Pistas para o AmadoraBD 2016

Terminada a edição de 2015 do AmadoraBD, questiona-se em que termos deve a cidade da Amadora preparar o próximo ano.

A estrutura base do evento deve assentar na fórmula já consolidada: uma exposição central, algumas exposições relativas aos prémios nacionais de banda desenhada de 2015, e algumas exposições dedicadas a efemérides significativas.

Para além destas, era muito importante que existissem exposições relativas aos mais importantes lançamentos previstos, à semelhança do que este ano aconteceu com o regresso de Jim del Mónaco, ou com O Pugilista.

Relativamente à exposição central, deverá ser melhor trabalhada a articulação do espaço desta com o do espaço de stands e autógrafos. Se a opção de levar stands e autógrafos para o piso superior foi muito bem recebida, o certo é que a exposição central perdeu dignidade na disposição do espaço, algo que pode ser corrigido. Sobre o tema, importa escolher algo que, mais do que ser apresentado sob a forma de exposição, possa ser discutido. Esse espaço de discussão costumava existir nas páginas do catálogo. Este ano, não houve catálogo físico, e não houve qualquer outro veículo de discussão. Nem todos perceberam a importância de Quim & Manecas, ou a perspetiva de refletir sobre a criança na BD tendo o adulto como destinatário, por exemplo.

Ao nível dos prémios, justifica-se uma exposição Marco Mendes (não confinada a Zombie), uma exposição Nunsky (não confinada a Erzébet), uma exposição Papá em África e, se se mantiver o ritmo criativo evidenciado este ano, justifica-se uma nova exposição André Oliveira.

Finalmente, ao nível das efemérides, há que considerar que o festival conta agora com a complementaridade da atividade do Clube Português de Banda Desenhada (CPBD). A atividade do CPBD permitirá assinalar devidamente duas importantes efemérides: os 80 anos de O Mosquito, e os 40 anos do próprio Clube. Em termos internacionais, merece especial atenção o 70.º aniversário de Lucky Luke. Convém não esquecer que o “cow-boy que dispara mais rápido do que a própria sombra” está na origem da dimensão internacional do Festival, e do projeto da cidade da Amadora em torno da banda desenhada. Angoulême vai promover uma grande exposição dedicada ao criador Morris, pelo que se espera que a Amadora consiga igualmente homenagear devidamente aquele que foi o primeiro convidado internacional do festival português.

Falando de convidados internacionais, seria bom que o festival contrariasse a estratégia que tem seguido nos últimos anos, de apenas convidar autores ligados a exposições. A presença de autores estrangeiros tem uma dinâmica própria, e é um elemento de festa que pode ser tão importante como uma exposição.

Justifica-se manter um espaço dedicado ao ano editorial com a mesma dupla de comissários.

Finalmente, era importante que a área infantil refletisse algumas soluções que surgiram este ano a propósito do tema, já que, entre passagens secretas e labirintos e jogos, as crianças tiveram uma oferta mais diversificada do que a tradicional área para desenhar.

Em termos globais, justifica-se uma planificação mais atempada e participada do AmadoraBD.

Retomo uma ideia que avancei numa das minhas primeiras crónicas: “a Amadora poderá sempre contratar o festival num modelo “chave na mão”, mas teria que haver uma entidade privada (eventualmente uma associação de autores e outros agentes) que oferecesse garantias de cumprir determinadas obrigações de resultado, e que pudesse trabalhar numa articulação muito próxima com o executivo municipal, para que o resultado final não desvirtue o projecto da cidade. A existência de uma tal entidade poderia sempre facilitar algumas questões que são simples para um privado mas que são muito complicadas para uma entidade pública, como a aquisição de originais ou de uma viagem de última hora, por exemplo.”

Neste momento, estou convencido de que essa entidade existe, está sediada na Amadora, e chama-se Clube Português de banda Desenhada. Embora não esteja ainda prevista uma parceria a este nível, englobando uma programação que passe pelo AmadoraBD, tanto a cidade como o Clube só têm a ganhar se caminharem nesse sentido.

 

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