E como se tal fosse ainda pouco, foi nesse ano que começou a aposta no aproveitamento de outros espaços da cidade da Amadora: a Galeria Municipal, o Espaço Delfim Guimarães e os Recreios da Amadora.
A aposta do reconhecimento internacional e mediático foi definitivamente ganha, e a crítica reforçou que o festival entrara na ‘idade adulta’. Factores que evidenciaram este reconhecimento foram o forte apoio do Ministério da Cultura francês, um público mais interessado, a exposição de originais de Edgar Pierre Jacobs e a vinda à Amadora do mais “internacional” autor português, Eduardo Teixeira Coelho.
À entrada da Fábrica da Cultura, um enorme contentor apresentava a exposição de Ted Benoît e Van Hamme, alusiva ao regresso de “Blake e Mortimer”, com uma cenografia arrojada. A área mais vocacionada para o público infantil encontrava-se bem definida junto à recepção, dominada pelo dinossauro “Dakar”, de Abrantes e Diferr, mas englobando também um espaço para o gato Garfield, e, no piso superior, os “Schtroumpfs”. Não muito distantes estavam as exposições de José Carlos Fernandes (centrada no “Barão Wrangel”) e a colectiva “Sidaventure”. No grande corpo das exposições, em frente ao auditório estavam os originais da série “Vasco” de Gilles Chaillet. Em frente, impunham-se as cores fortes do universo do álbum “Museum”, do espanhol F. de Filipe.
Já no piso superior, os trabalhos do atelier Gulbenkian antecediam os originais de Kevin O´Neill e de Van Den Boogaard. Mais adiante, estavam os trabalhos dos concursos de banda desenhada e cartoon, e, ainda no piso superior, podiam ver-se alguns originais da “História do Jardim Zoológico de Lisboa em Banda Desenhada” de José Garcês. Descendo ao piso inferior, a exposição de originais de “O Pensador” de Ricardo Blanco antecedia a colectiva brasileira “Amazónia 3000”. A obra de André Juillard foi motivo de uma mostra individual, em que um filme com o autor a trabalhar uma prancha, e a falar da sua obra e das suas influências foi mostrado em vídeo. Num espaço de tendência hexagonal estava o mundo da primeira ‘graphic novel’ portuguesa, “A Arte Suprema”, incluindo páginas do guião. A gigantesca estátua de Horus regressou à Amadora introduzindo a exposição de Enki Bilal. Logo a seguir, estava o espaço multimediático da dupla Schuiten/Peeters, amplo e diversificado, também com um vídeo de suporte. Finalmente, Mézières e Christin mostravam parte do universo de “Valérian”.
Na Galeria Municipal, a exposição sobre a guerra como temática na obra de Edgar Pierre Jacobs foi uma das grandes pérolas do Festival. Foi a primeira vez que os originais foram expostos fora da Bélgica, país natal de Jacobs.
No espaço Delfim Guimarães, esteve uma colectiva nacional com trabalhos de José Carlos Fernandes, Ana Cortesão e Filipe Abranches. O espaço dos Recreios da Amadora apresentou a mostra relativa à obra de Jayme Cortez, e a Lisboa de Miguelanxo Prado.
O elenco de autores presentes é um dos mais impressionantes da história do evento: José Carlos Fernandes, António Jorge Gonçalves, Rui Zink, José Abrantes, Luís Filipe Diferr, José Garcês, Jean-Claude Mézières (França), Pierre Christin (França), François Schuiten (Bélgica), Benoît Peeters (França), Enki Bilal (Jugoslávia), André Juillard (França), Ted Benoît (França), Jean Van Hamme (Bélgica), Jal (Brasil), Gilles Chaillet (Bélgica), Theo Van Den Boogaard (Holanda), Kevin O’Neill (Inglaterra), Miguelanxo Prado (Espanha), Ricardo Blanco, José Ruy, Eugénio Silva, Luís Louro e Eduardo Teixeira Coelho.
Quanto a prémios, o Melhor Álbum Português foi Arte Suprema, de António Jorge Gonçalves e Rui Zink (Edições Asa) e o Melhor Álbum Estrangeiro Editado em Portugal foi A História do Contador Eléctrico, de Fred (Meribérica-Liber).
O Troféu Honra distinguiu Eduardo Teixeira Coelho, ainda o autor mais representativo da época de ouro da BD nacional, e aquele que mais prestigio alcançou além fronteiras.