O Melhor da BD Portuguesa 2010-2014

O final do ano é sempre um tempo dado a balanços de pouca utilidade prática, mas muito apreciados. É o género de exercício suficientemente parvo para eu tentar fazer.

Depois de há uns tempos ter feito uma lista dos dez melhores (ou mais importantes) álbuns de BD portuguesa para o período de 2000 a 2009, vou hoje fazer uma lista para o período de 2010 a 2014, isto é, os últimos cinco anos. Qualquer deles dá uma bela prenda natalícia.

Em décimo lugar, A Viagem do Elefante (Porto Editora). Depois de algumas tentativas falhadas de importar o conceito para a realidade portuguesa, João Amaral consegue, com esta adaptação de José Saramago à BD, afirmar a “novela gráfica” portuguesa. Veremos, no futuro, qual o impacto deste livro no panorama da banda desenhada portuguesa, nomeadamente no espaço que a BD consegue conquistar nas livrarias generalistas.

Em nono lugar, o álbum mais nomeado e menos premiado da história da BD portuguesa: Super Pig – O Impaciente Inglês, de Mário Freitas e André Pereira (Kingpin). Para além da reconhecida qualidade, vale por ser o resultado do concurso de banda desenhada do Festival AniComics 2012. Que melhor prémio para um jovem desenhador?

Em oitavo lugar, É de Noite que Faço as Perguntas, de David Soares, Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel Silvestre da Silva e Richard Câmara (Saída de Emergência). David Soares redefine o género da BD histórica portuguesa, descobrindo alguns grandes colaboradores pelo caminho.

Em sétimo lugar, The Dying Draughtsman / O Desenhador Defunto, de Francisco Sousa Lobo (Chili Com Carne). Uma história contada em BD como não poderia acontecer em qualquer outra linguagem, levando o leitor para uma zona de desconforto, mas com coerência e qualidade do princípio ao fim.

Em sexto lugar, Pontas Soltas – Cidades, de Ricardo Cabral (Asa). Ricardo Cabral é uma das grandes revelações da BD portuguesa dos últimos anos, e este é (para quem gosta mais de BD do que de ilustração) o seu álbum mais conseguido.

Em quinto lugar, Eternus 9 – A Cidade dos Espelhos, de Victor Mesquita (Gradiva). Trinta anos depois, Eternus 9 regressa para um segundo álbum. A forma como o autor resolve este lapso de tempo ao nível do argumento é um marco de (merecidamente premiada) originalidade

Em quarto lugar, Dog Mendonça e Pizzaboy III: Requiem, de Filipe Melo e Juan Cavia (Tinta Da China). De repente, a BD portuguesa voltou a ser popular, vibrante e cheia de aventura, e (apesar do já referido esforço de Pedro Leitão) voltou a ter séries com heróis. Muito mérito para o argumentista Filipe Melo que neste terceiro volume vai mais longe do que o apocalipse.

Em terceiro lugar, O Baile, de Nuno Duarte e Joana Afonso (Kingpin). O álbum certo no momento certo, mergulhando mais fundo nas referências portuguesas que relançaram a BD nacional de ficção a partir do fenómeno Pizzaboy.

Em segundo lugar, O Amor Infinito que Te Tenho e Outras Histórias, de Paulo Monteiro (Polvo). Um álbum extraordinário que é como o seu autor, e que permitiu o regresso da Polvo.

Finalmente, em primeiro lugar, Crumbs, de vários autores (Kingpin). Uma antologia que confirma que a banda desenhada portuguesa está muito viva, e que ainda não vimos nada.

Relendo a lista, salta à vista a falta do Osvaldo Medina e do André Oliveira (apesar de ambos integrarem Crumbs). Sendo certo que o Osvaldo já aparecia na lista de 2000-2009, tenho a certeza de que qualquer deles vai figurar na lista dos próximos cinco anos. Há ainda uma série de grandes obras que estão de fora, porque só cabem dez no balanço, e porque não quero repetir autores. Em relação há lista dos dez anos anteriores, saíram muitos autores, mas isso é sobretudo sinal de que entraram outros.

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9 Comments

  1. says: Cesário

    Uma colectânea em número 1 de melhor álbum de BD Portuguesa dos últimos anos? Como pode isso ser? Ao que parece já não é só nos prémios da Amadora BD. >:-)

    Agora muito a sério.

    O HAWK de Oliveira/Medina/Ferreira (parece a lista de arguidos do caso BES, mas estes são bons malandros) merecia mais o primeiro lugar da sua lista.

    Mas pronto, gostos são gostos.

  2. says: Mário Freitas

    Pedro Mota, apesar de constar pessoalmente da lista e ter 3 edições minhas em 10 (duas no top 3), essa tua escolha para 10º lugar faz-me questionar seriamente a tua sanidade mental… Mesmo…

  3. says: Pedro Mota

    Mário: o livro do João Amaral ainda vai abrir muitas portas novas para a BD. É aguardar.
    Cesário: gostei do acrescento. Como referi, são autores cuja falta se nota na lista, e o Hawk é um belíssimo livro.
    (os leitores cujo nome não termina em “ário” também podem comentar, ok?)

  4. says: Mário Freitas

    Pedro Mota. Pode funcionar ao contrário e assustar os que nada sabem sobre a BD portuguesa. Eu não tenho nada de pessoal contra o autor, antes pelo contrário; mas o trabalho dele é incipiente e acho que o tal “abrir de portas”, por si só, nunca justificaria a sua inclusão num top 10 (nem num top 100) dos últimos anos.

  5. says: Pedro Mota

    Bem visto, mas também falta humor na edição. Houve alguma, e boa, mas faltou ambição em relação a grandes fôlegos noutros géneros.
    Ok, depois do Cesário, do Mário e do Dário, acho que ainda há tempo para o Januário.
    Entretanto, por falar em humor, queria deixar claro que a frase que começa com “Em relação há lista dos dez anos anteriores…” teve, em tempos, o correto “à”. Mas o Sr. editor, que troca tudo o que é “há” e “à”, achou por bem “emendar”…

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