Faleceu José Vilhena, ficou a Gaiola Aberta

José Vilhena é o autor incontornável do humor em Portugal. A sua obra, na tradição de Gil Vicente, Bocage ou Bordalo Pinheiro, é uma crónica dos tempos. Umas vezes pela crítica de costumes, outras vezes no olhar sobre a política, outras sobre a Igreja e, quase sempre, sobre a mulher.

Vilhena é dos poucos artistas em Portugal que domina e inclui na sua obra, a arte da escrita, do desenho, da ilustração, das fotomontagens nos seus primórdios, da fotografia, da revista à portuguesa e até numa breve incursão pelo cinema. Umas vezes, a maior parte, seguindo caminho do humorismo, outras, poucas, a da pintura – ‘dulcemente erótica’ como diz Rui Zink.

Cofundador d’ ‘O Mundo Ri’ em 1955, inicia um percurso individual no início de 60 com uma série de livros de bolso humorísticos, que escrevia, ilustrava, editava e distribuía pelo país inteiro, quase sempre pelas tabacarias. Fazem parte da coleção mais de 70 livros, 56 da sua autoria. Com alguns desses livros censurados e apreendidos pela ditadura de Salazar, é preso por três vezes pela PIDE e várias vezes chamado a responder aquando da saída dos livros, que muitas vezes eram vendidos por baixo do balcão, às escondidas. Foi também o responsável pela introdução de autores estrangeiros como Alphonse Allais, Alvaro de Laiglesia, Guy de Maupassant, Goscinny, Gogol, que editou dentro da sua coleção da sua editora ‘Branco e Negro’.

Vinte um dias depois da Revolução de 1974 saía a revista quinzenal ‘Gaiola Aberta’ que marcou, durante os primeiros anos da democracia, as publicações humorísticas em Portugal.

Utilizando vários meios ao seu alcance, como a escrita, o desenho, a pintura, as fotomontagens, a fotografia, etc, Vilhena lança a ‘Gaiola’ à semelhança de outras publicações humorísticas que existiam no estrangeiro, como El Jueves em Espanha, Le Cannard Enchaîné, em França, ou o Mad nos USA. Com a devida distância, obviamente, não por causa da qualidade, mas pelos meios ao dispor de cada uma dessas publicações, Vilhena foi sempre o ‘one man show’. Escrevia, desenhava, fazia as fotomontagens, paginava, e editava esta revista que só cessou a primeira série ao fim de nove anos, quando teve um processo interposto em tribunal pela princesa Carolina do Mónaco.

Depois desse episódio, foi autor e editor de outras publicações do género, como O Fala Barato, O Cavaco, O Moralista e novamente a Gaiola Aberta (2a série).

José Vilhena faleceu no dia 3 de Outubro de 2015 após doença prolongada com 88 anos.

Texto biográfico publicado no site www.vilhena.me, dedicado ao autor e mantido pelo seu sobrinho Luis Vilhena. Informações adicionais no Público e na página de Facebook dedicada ao autor.

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