Tal como sucede com tantas iniciativas anteriormente lançadas pela Amadora em torno da banda desenhada, espera-se que esse interesse pela atualidade tenha desenvolvimento já a partir deste ano (preferencialmente, já agora, de forma mais integrada na linha editorial do festival).
E parece que assim será. Na escassa informação já disponibilizada sobre o AmadoraBD 2015, verifica-se que a preocupação em dar continuidade à nota de atualidade está presente, escolhendo os comissários daquela exposição central de 2014 (Luís salvado e sara Figueiredo Costa) para organizarem a tradicional mostra sobre o ano editorial português. É uma boa solução, interessando que o AmadoraBD consiga apresentar-se verdadeiramente integrado no momento atual da banda desenhada nacional. É que este é um momento particularmente movimentado em termos editoriais, e é na relação com o livro de BD que a Amadora tem conseguido afirmar o seu festival.
Questiona-se se o AmadoraBD poderia tentar ir mais longe, refletindo, de algum modo, o momento atual da BD no mundo, para além do que se passa no panorama português.
Parece-me um desafio em que a Amadora (apesar da exposição central de 2014) tem vindo a perder protagonismo, já que tem sido enfrentado por outros, com assinalável sucesso.
A Comic Con Portugal anuncia para a sua edição de 2015 alguns dos protagonistas pelos grandes acontecimentos do ano da cena europeia e norte-americana: no que respeita à primeira, Dias Canales e Ruben Pellejero são os autores responsáveis pelo regresso de Corto Maltese, e, na segunda, Brian Azzarello é (com Frank Miller) um dos argumentistas que irá concluir (até ver) o projeto “Dark Knight”.
Consultando a lista dos premiados deste ano com o prestigiado Troféu HQMix, encontramos Laudo Ferreira Jr. (distinguido – pelo seu trabalho no terceiro volume de Yeshuah – como desenhador brasileiro do ano), André Diniz (com destaque internacional por 7 Vidas) e Marcelo Quintanilha (por Tungsténio, como argumentista brasileiro do ano). Um traço comum aos três autores premiados é que passaram pelo Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja nos últimos dois anos. Se lhe somarmos Rafael Coutinho, distinguido em 2014 e presente no Amadora BD, temos um outro traço comum, agora aos quatro: todos tiveram trabalhos publicados em Portugal nos últimos dois anos. E se lhe somarmos o premiadíssimo projeto Graphic MSP (que integra Gustavo Duarte, que também já passou pelo AmadoraBD), com distribuição em Portugal, podemos concluir que, ao contrário do que acontecia há alguns anos e em resultado do esforço de diferentes agentes (festivais, editores e distribuidores), existe, em Portugal, um conhecimento muito maior do momento atual da banda desenhada brasileira.
Assim, em termos internacionais, o espaço que sobra para assumir algum protagonismo em termos de atualidade, é reduzido. Andando à velocidade da edição portuguesa, e mesmo considerando que esta velocidade acelerou muito neste ano de 2015, o AmadoraBD corre sempre o risco de, na vertente internacional, ficar virado para o passado.
Existem, ainda assim, alguns pontos de interesse a partir dos quais a Amadora já deu alguns primeiros passos, com pouca e tímida continuidade, e que podem ser mais trabalhados no que respeita ao momento presente, porque não há dúvidas de que serão importantes no futuro, desde logo a banda desenhada africana de expressão portuguesa e a banda desenhada chinesa.