Descoberta do dia: Dossier Bedeteca 2000-2009

Isto é um bocado pirataria, mas neste caso justifica-se. Entre 2000 e 2009 a Bedeteca realizou um dossier onde diversas pessoas faziam um resumo do que tinha sido o ano anterior da BD em Portugal. Contudo o declínio da Bedeteca, que se reflecte no seu site, ditou o fim desses dossiers. Actualmente já nem se encontram disponíveis no site dessa entidade.

Felizmente alguém teve a boa ideia de colocar os dossiers realizados online através do Scribd. Apesar de não ser exaustivo é um bom retrato do que foram aqueles 9 anos no mercado da BD.

Ilustrações de Pedro Zamith para o dossier Bedeteca 2005

Apesar de não ser exaustivo é um bom retrato do que foram aqueles 9 anos no mercado da BD.

Para quem não quisera a estar a ler este dossier por completo ficam aqui alguns excertos que dão uma visão do que foram aqueles anos no mercado da BD.

“Witloof, Círculo de Abuso, Nova Comix. Estes três nomes – nomes de três novas editoras dedicadas à causa da BD – bastariam para classificarmos 2000 como um ano feliz no que diz respeito à edição de banda desenhada. A proliferação de pequenas editoras tem várias consequências positivas:aumenta a oferta, dá vazão ao talento dos autores nacionais surgidos na última meia-dúzia de anos e combate a hegemonia da gigante Meribérica, já que casas como a Witloof, a BaleiAzul, a Vitamina BD e, recentemente, as Edições Polvo, começam a penetrar em território que, até hoje, era apenas coutadasua: os álbuns a cores oriundos do mercado franco-belga. Veja-se o caso bizarro de Hermann, que, no espaço de um ano, viu diferentes obras suas saírem para a rua com etiquetas da BaleiAzul, Vitamina BD e Meribérica. Só em Portugal.” – João Miguel Tavares em 2000

fazenda bedeteca 2001
Ilustrações de João Fazenda para o Dossier Bedeteca de 2001

“A Meribérica dominou o panorama da banda desenhada editada em Portugal durante toda a década de 90, em regime de quase monopólio, sobretudo no que diz respeito à BD franco-belga. O seu catálogo é invejável, em quantidade mas também em qualidade, detendo os direitos de inúmeras séries, que, de maneira geral, soube lançar em boas condições. Embora a costela de David que há em nós tenha por hábito resistir ao excesso de força dos Golias, temos de admitir que a grave recessão editorial da Meribérica teve efeitos nefastos no mercado. Afectada pela falência da distribuidora Diglivro, a editora de «Astérix»e «Corto Maltese» acabou com a revista Selecções BD e praticamente deixou de efectuar lançamentos a partir do primeiro trimestre de 2001, o que implicou um decréscimo significativo no número de títulos lançados no decorrer do ano.A oferta só não caiu drasticamente porque a Vitamina BD e, sobretudo, a Devir,aumentaram o número de edições. Resta saber até que ponto esse investimento terá continuidade, e se o público responde de forma positiva à diversificação dos seus catálogos: a primeira abandonou o terreno seguro dos álbuns de encher o olho e atreveu-se pelo campo do preto e branco; a segunda apostou no Brasil, nalguns comics de qualidade americanos e recentemente surgiu com uma reedição de José Carlos Fernandes, em quem promete investirem 2002, o que só lhe fica bem.” – João Miguel Tavares em 2001

“Uma coisa é certa: vivemos um momento histórico. Se daqui a cem anos alguém se dedicar a escrever uma enciclopédia sobre a banda desenhada em Portugal, o ano de 2002 vai estar sublinhado, e em lugar de destaque. Desde que a BD abandonou as revistas para se mostrar em álbuns, nunca tantas editoras lançaram tantos títulos. Foram mais de 150 no espaço de um ano,representando um crescimento de 50 por cento no volume de edição de novidades e de perto de 75 por cento no número de exemplares colocados no mercado. São percentagens com tanto de impressionante como de incomportável. É evidente que esta overdose vem na sequência dos graves problemas financeiros que atingiram a Meribérica/Liber, conduzindo à perda de alguns direitos autorais. Procurando ocupar o espaço vazio, a Asa e a Booktree, cujos departamentos de BD foram formados por antigos funcionários da Meribérica,investiram fortemente na área franco-belga (cada uma lançou perto de 40 títulos), ao mesmo tempo que a Devir continuou a construir um óptimo catálogo americano e editoras de média ou pequena dimensão como a Vitamina BD, a Polvo e a Witloof mantinham ou aumentavam o seu ritmo de edição. Crise?” – João Miguel Tavares em 2002

“No final de 2002, terminei da seguinte forma a avaliação do ano editorial que me foi pedida pela Bedeteca: «O próximo ano vai com certeza ser de recessão.Donde, é aproveitar o tempo de vacas gordas, porque não se voltará a editar tanto e com tanta qualidade tão depressa.» Pois é, caro leitor: sou um incompetente e um futurista falhado. A previsão revelou-se erradíssima. Em 2003 ainda se editaram mais livros, e muitos deles de excelente qualidade. Por outras palavras, a vaca continua gorda. Mas, teimoso como sou, posso pelo menos invocar este argumento a meu favor: mantenho a certeza de que, ou a vaca emagrece, ou morrerá de obesidade.O que é que isto quer dizer? É simples: o mercado editorial português debanda desenhada continua a crescer muito acima das suas possibilidades.Estão-se a editar muitíssimos livros para ocupar espaço em loja, mas para os quais não existe verdadeiramente um público, e a situação afigura-se impossível de sustentar durante muito mais tempo. É possível que a proliferação de editoras e a variedade da oferta tenha sido capaz de alargar o público que consome BD – também em França 2003 foi um ano de recordes na publicação e na compra de banda desenhada –, mas jamais o terá alargado ao ponto de ele ser capaz de absorver todos os álbuns que semanalmente são lançados para as livrarias.”
João Miguel Tavares em  2003

“O ano que agora se encerra parece confirmar as previsões do dossier do ano passado no que à edição de livros de banda desenhada diz respeito. Há um ano atrás, João Miguel Tavares escrevia o seguinte: “Em 2003 ainda se editaram mais livros, e muitos deles de excelente qualidade. Por outras palavras, a vaca continua gorda. Mas, teimoso como sou, posso pelo menos invocar este argumento a meu favor: mantenho a certeza de que, ou a vaca emagrece, ou morrerá de obesidade.” De facto, depois de dois anos (2002 e 2003) fortíssimos em número de livros editados, 2004 parece ter sido o ano da contenção editorial, justificada, talvez, pela crise geral, mas também pelas características de um mercado que não podia continuar a absorver tamanha produção.” – Sara Figueiredo Costa em 2004

“O ano que passou ficará marcado pela extinção da Meribérica/ Liber, depois das ameaças e dos sinais de crise que se vislumbravam. A editora que já publicou Astérix ou Lucky Luke, e que recentemente continuava a deter os direitos de Corto Maltese (para ficarmos pelas séries de maior impacto comercial), vinha perdendo o seu espaço nos últimos anos, com os direitos de vários autores a transitarem para a Asa e com alguma desorganização no catálogo (pese embora as recentes investidas com Akira, ou com Blueberry),tendo acabado por sucumbir às inevitabilidades de um mercado que continua a movimentar-se um pouco à margem do público leitor.A Asa e a Devir consolidaram, no ano que passou, a sua posição dominadora no mercado editorial português, assegurando a quase totalidade das publicações que chegaram aos escaparates das grandes livrarias.”
Sara Figueiredo Costa em 2005

“O balanço é indubitavelmente de crise no que toca à quantidade (e pertinência)das edições, bem como às suas tiragens médias, muito abaixo do que seria desejável para a saúde financeira das editoras.”
Sara Figueiredo Costa em 2006 

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2 Comments

  1. A minha ideia quando comecei a colectar a informação do site da bedeteca era organizá-la num livrito para acompanhar o “hoje, a bd: 1996 e 1999”. Não tinha intenção de piratear, a informação estava online, organizei-a de forma diferente e pareceu-me ser uma boa ideia estar disponível online, especialmente porque poucos meses depois já não estava no site. Se algum dos contribuidores dos dossiês tiver algum problema com esta situação, contacte-me que os tiro imediatamente do scribd.

  2. says: Bruno Campos

    Eu não fazia a mínima ideia de quem tinha colocado o trabalho online, foi uma excelente ideia.Aliás, eu não percebo bem é porque motivo é que um solução prática como esta não é tomada pela própria Bedeteca, existem alturas em que eu tenho vontade de sacar alguns dos textos que eles têm lá nos arquivos…. eu percebo que os cortes orçamentais da Bedeteca, mas existiam maneiras simples e baratas de manterem alguma desta informação disponível online.

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