Brian K Vaughan na Comic Con Portugal 2014

Eu hoje tinha feito um contra-ponto entre a política de divulgação do AmadoraBD e da Comic Con Portugal. Não sei se alguém lá no Norte me ouviu, mas o anúncio que a organização fez hoje ajuda a reforçar o argumento com o anúncio do primeiro convidado de renome a nível da BD: Brian K. Vaughan.

1923505-brian_k_vaughan_imageApesar de o autor ser praticamente desconhecido do público português – só tem actualmente publicado em Portugal Fábula de Bagdad (Pride of Baghdad), ilustrada por Niko Henrichon, pela VitaminaBD e Dr. Estranho: O Juramento, com Marcos Martin pela Levoir e Público – Brian K. Vaughn é um dos argumentistas mais conceituados da actualidade no mercado norte-americano de banda desenhada, quer a nível de crítica quer de público. A sua carreia estende-se para além da BD e tendo trabalhado em algumas séries de TV como Lost e Under the Dome, série baseada num livro de Stephen King, que foi um estrondoso sucesso de público do canal ABC e da qual foi também produtor.

Nascido em 1976, Brian K Vaughan começou a trabalhar como argumentista para a Marvel e DC Comics em 1996, tendo realizado algumas histórias de personagens como X-Men, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Liga da Justiça. Contudo, é em 2002 que ganha proeminência com a série Y – The Last Man, realizada para a Vertigo Comics, selo editorial da DC Comics, dirigido a um público mais adulto. A série foi co-criada por Vaugh e Pia Guerra.

Y narra  a história de Yorrick Brown e o seu macaco Ampersand após 17 de Julho de 2002, data que, na série, ficou marcada pela morte em simultâneo de cada ser vivo que possui o cromossoma Y (ou seja, todo o sexo masculino), incluindo embriões e espermatozóides, excepto os protagonistas. Aquele que seria o sonho de muitos – ser o único homem num mundo de mulheres – acaba por se revelar uma fonte de problemas para Yorrick, para além de a sociedade entrar em colapso.

A série foi premiada com dois Eisner (o mais consagrado galardão da BD norte-americana) em 2005 e 2007 e levou Vaughan para o mundo da BD. Damon Lindelof, co-criador e produtor de Lost, era um fã de Y e convidou Vaughan para escrever para a popular série. Vaughan foi reponsável pelo guião de 12 episódios e produtor em 29.
Mas antes de chegar à TV, Brian K. Vaughan criou ainda duas séries de BD que ajudaram a cimentar a sua reputação enquanto argumentista de BD: Runaways (com Adrian Alphona) em 2003 para a Marvel Comics e Ex-Machina (com Tony Harris e Tom Feister) para a Wildstorm, que em 2004 era outro selo editorial da DC Comics.

Em 2011 Vaughan foi escolhido por Steven Spielberg para adaptar Under the Dome, de Stephen King, para a TV, com o sucesso já mencionado no artigo. Este cargo de relevo numa área financeiramente mais recompensadora do que a BD, numa altura que o argumentista se tinha afastado desta, podia fazer-nos pressupor que se iria afastar da banda-desenhada. Não obstante, no ano seguinte Vaughan regressa à BD de modo triunfal com Saga, ilustrada por Fiona Staples.

Esta série, a primeira que realiza para a Image Comics, é fruto de uma vontade do autor se dedicar a projectos “creator owned” (da propriedade do autor). Nos trabalhos realizados para as editoras, como Marvel e DC Comics, os autores não detêm qualquer controlo criativo sobre destino de personagens como Batman ou Homem-Aranha, que são propriedade da editora: As excepções existem unicamente na linha Icon da Marvel, ou na Vertigo (e na extinta Wildstorm) da DC Comics onde, de modos diferentes, existe algum controlo criativo (e financeiro) por parte dos autores, como no caso da séries Y – The Last Man, Ex-Machina e Fábula de Bagdad.

Ao editarem Saga pela Image Comics, Vaughan e Staples têm total controlo criativo sobre os destinos da série, assim com beneficios a nível financeiro que não teriam numa das grandes editoras, com contratos em outros moldes.

Saga, cujo primeiro número chegou às bancas norte-americanas em 2012, foi um sucesso retumbante, a nível crítico e de público. A primeira edição esgotou, uma tiragem já de si alta para uma edição independente (e creator owned), tornou-se uma das séries mais vendidas nos Estados Unidos. Para além da boa recepção da crítica, Saga acumula até ao momento cinco Eisners, tendo sido nomeado ainda para um Hugo Award e para sete Harvey Awards.

Saga irá ser editado em Portugal, em data a anunciar, pela G-Floy Studios.

Issue01.03pre

O projecto seguinte de Vaughan seria mais arriscado e corta por completo com o modelo tradicional de editora e comercialização de BD. The Private Eye, criada em conjunto com Marcos Martin (e que foi em parte um dos motivos de criação do aCalopsia) é editada em formato digital pela Panel Syndicate, da propriedade dos autores, num formato digital à escolha do leitor e onde este paga o que quiser, podendo optar por adquirir a revista de borla ou pagando o preço que considerar justo aos autores. Esta série encontra-se disponível em outras línguas para além do inglês, incluindo uma versão em português do Brasil.

Ao todo, entre prémios individuais e colectivos, Brian K Vaughan foi premiado até ao momento com dez Eisner Award, incluindo em 2008 uma atribuição colectiva do “Best New Series” (Melhor Nova Série) por Buffy the Vampire Slayer Season Eight, prémio partilhado com Joss Whedon, Georges Jeanty e Andy Owens. Ao contrário de outras adaptações para séries de TV, “Season Eight” era literalmente a 8ª temporada de Buffy The Vampire Slayer: A história começava onde a série televisiva tinha terminado e narrava os eventos que Joss Whedon tinha planeado para a televisão, caso Buffy não tivesse terminado na 7ª temporada.

Apesar, de como já foi referido, Brian K. Vaughan ser um desconhecido para a generalidade do público português, já que a maioria do seu trabalho é inédito em terras lusas, está longe de ser um autor de segunda linha, sendo claramente um dos autores mais conceituados da actualidade. Para além disso derivado ao seu trabalho em TV até encaixa na perfeição no conceito de evento pop da Comic Con Portugal.

A única questão que se levanta é quando vão começar as apostas sobre a publicação de Y – The Last Man em Portugal, já que Pia Guerra, co-criadora da série, também irá estar presente na Exponor entre 5 e 7 de Dezembro na Comic Con Portugal 2014.

Written By
More from O Editor
Duplo seis sob o signo da Morte
Este mês a Devir edita os sextos volumes das séries “Death Note”...
Read More
Join the Conversation

9 Comments

  1. says: Diogo

    Não esquecer Dr Estranho: O Juramento publicado na coleção anterior da marvel que saiu com o público e que também é do Vaughan.

    1. says: Bruno Campos

      E do Marcos Martin, Stan Lee e Steve Ditko. E já me fizeste rever o texto para adicionar essa informação… mas também tenho desculpa isto foi escrito em cima do joelho!

      1. says: Diogo

        Era essa a ideia, reveres com mais informação 😉 Só me falta confirmar se no tempo das revistas mensais da Devir saiu alguma coisa do Vaughan.

        1. says: Bruno Campos

          Isso não é muito relevante, já que não são dos trabalhos essenciais do Vaughan, mesmo o juramento, não é dos mais conhecidos ou importantes. Têm a curiosidade de ser um trabalho que realizou com o Marcos Martin, com quem está agora a fazer o Private Eye.

          A maioria dos trabalhos que o Vaughan realizou para a Marvel e DC foi histórias curtas para título secundários, o género de material que é dado aos autores em principio de carreira.

          1. says: Diogo Campos

            Encontrei mais um livro em PT “X-Men2 O Filme: Prequelas” onde ele escreveu o comic dedicado ao Wolverine. Pode não ser importante mas como comprador quero saber qual a bibliografia dele em português para poder fazer uma escolha informada sobre o que deva levar para ele assinar. Já me aconteceram dissabores com alguns autores por não saber que livros havia em português e não os ter levado para assinar.

          2. says: Bruno Campos

            Neste caso é fácil, Y (ainda por cima está lá a Pia Guerra) ou Saga, que já deve estar editado nessa altura, ainda por cima é mesmo um trabalho “dele”, não só é creator-owned como ainda por cima são trabalhos pessoais e nos quais investiu bastante…

          3. says: Diogo Campos

            Y não está publicado em português. E só referes os mais famosos dele (diria que ExMachina também lá estará no topo) só que eu falo de ter uma lista exaustiva de obras para não me acontecer outra vez a situação de pensar que não tenho nada do autor/tenho poucos livros e depois descobrir tarde de mais que afinal tinha o livro X em casa e não sabia.

          4. says: Bruno Campos

            Sim, o Ex-Machina está no topo, mas com o Y matas dois coelhos de uma cajadada: Vaughan e Guerra 😉

            E o Saga é por ser recente, e ir ser editado em português, para além disso é um trabalho pessoal, uma ideia que ele tinha desde infância concretizada após o nascimento do filho.

          5. says: Bruno Campos

            E eu ainda estou para ver se ninguém aproveita a presença em Portugal dois autores para lançar o Y, quer dizer, estando em Portugal até não me admirava, mas era a altura ideal.

Leave a comment
Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *