Da BD na Amadora

A convite do Bruno Campos, inicio hoje um espaço dedicado ao presente e futuro do projecto de banda desenhada da cidade da Amadora. Num momento em que decorre a 24ª edição do Festival Internacional AmadoraBD, a face mais visível do projecto da cidade, e em que todos os “treinadores de bancada” questionam o modelo desenvolvido, é altura de lançar uma reflexão aprofundada.

Em 1990, a Amadora lançou as bases para o seu festival internacional de banda desenhada (hoje denominado AmadoraBD), um evento anual prestigiado que celebra, em torno do livro, esta forma de linguagem. Durante dez anos, a equipa então chefiada por Luís Vargas desenvolveu um trabalho ao qual pode ser apontado um extraordinário feito e uma importante falha. O feito é a credibilização do Festival, aliado ao seu prestígio internacional (supra-local). É inequívoco que o Festival colocou a Amadora no mapa dos grandes eventos culturais, trazendo à cidade um novo reconhecimento. A falha é a falta de um plano de desenvolvimento, e de um suporte que actue junto da população local, para além dos dias do Festival. Desde logo, não há uma banda desenhada com identidade amadorense, apesar da população jovem e multicultural da cidade. Curiosamente, Vargas trocaria a banda desenhada pela educação, e o seu trabalho nesta área revela exactamente o mesmo mérito e o mesmo defeito.

Em 2000 a Amadora inaugurou o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (CNBDI), visando integrar a lacuna atrás referida. Mas para a equipa agora chefiada por Nelson Dona continua a faltar a definição de um plano concreto de actuação que permita ao Festival e ao próprio CNBDI orientar o seu rumo e rentabilizar o seu potencial. Nos últimos anos, tem sido visível uma menor aposta na valia do CNBDI que também motiva alguma preocupação. Mas disso falarei noutra ocasião.

Para já, o certo é que o plano da Amadora para a BD considera as duas grandes bases de actuação que a cidade construiu nos últimos anos: o FIBDA / AmadoraBD e o CNBDI.
O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (AmadoraBD), pretende ser uma festa, uma celebração de uma forma de arte/linguagem/indústria, dirigida a profissionais e ao público em geral, centrada no livro de BD. O festival decorre anualmente, conseguindo, desde 1990, projectar a cidade da Amadora primeiro como capital nacional da banda desenhada, e como importante marco ao nível internacional.

A fórmula do Festival assenta sobretudo em dois factores: as exposições e os convidados. As exposições são, regra geral, dos originais que, uma vez impressos, vêm a compor o livro de banda desenhada, complementados por uma aposta forte na cenografia. O espaço expositivo varia de ano para ano, em função de um projeto de arquitetura aprovado com a definição das grandes linhas da programação. A própria localização do espaço central do evento tem variado: galeria municipal, Associação Académica da Amadora, Fábrica da Cultura, Escola Intercultural, estação de metropolitano de Amadora-Este e Fórum Luís de Camões foram os palcos do evento ao longo de 24 edições.

No que se refere a autores estrangeiros, o AmadoraBD tem a preocupação de complementar a exposição com a presença do autor. Com efeito, a presença de autores nacionais e estrangeiros, tem conferido um lado dinâmico a um festival que, de outro modo, seria uma sala de exposições com pouco de festivo. Assim se dinamizam a atribuição de prémios e um espaço comercial, assim como encontros, apresentação de livros, sessões de autógrafos, seminários, filmes de cinema de animação, concursos e diversas actividades de animação.

Desde 2000, o Festival escolhe um tema central. Este tema não esgota o Festival, mas tem preenchido uma exposição e um caderno especial no catálogo oficial, sugerindo ainda outras mostras e iniciativas, e, normalmente, os concursos. O tema central inspira quase um festival dentro do festival, pois a sua abordagem é feita de uma forma que se pretende o mais completa possível.

Para lá do tema, estão as propostas de editores e outros agentes do mercado, preferencialmente as que apresentam alguma conexão com o tema central.

Finalmente, o Festival promove uma retrospectiva do autor responsável pela linha gráfica do evento, que é um (quase sempre jovem) autor premiado no Festival anterior. Na Galeria Municipal Artur Bual, e durante o tempo do Festival, é apresentada uma exposição de homenagem, num enquadramento mais clássico.

A necessidade de dinamizar o AmadoraBD no contexto de um plano global é uma realidade. A Amadora tem na banda desenhada um veículo privilegiado para dar visibilidade ao trabalho que tem desenvolvido e pretende desenvolver nas mais diversas áreas, da educação à cultura, passando pela juventude e acção social.

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