Relvas redescoberto

Em 2010, o projecto de animação Fado na Noite fez com que Relvas regressasse a Portugal (e à Amadora), o que permitiu toda uma redescoberta do seu universo de autor.

Em 2010, o projecto de animação Fado na Noite fez com que Relvas regressasse a Portugal (e à Amadora), o que permitiu toda uma redescoberta do seu universo de autor. Por ocasião do Festival de Beja de 2011, o BDJornal nº 27 apresentou um extenso dossier sobre o autor, e a editora Pedranocharco publicou a versão portuguesa de Li Moonface. A Amadora começou por uma grande retrospetiva na Galeria Municipal, em 2012. Nesse mesmo ano, Sangue Violeta foi distinguido com o Prémio Nacional de banda Desenhada “Clássicos da 9ª Arte”. Em 2013, o AmadoraBD apresentou a mostra Relvas a Três Tempos, justificada pelo prémio de Sangue Violeta, e com uma excelente selecção de originais da responsabilidade de João Miguel Lameiras, e, sobretudo, o CNBDI enriqueceu a sua colecção de originais com alguns trabalhos do autor residente na Amadora, e que é seguramente um dos mais talentosos, originais e importantes autores da história da BD portuguesa. Esta aquisição de originais permitirá certamente uma maior presença da obra de Relvas em diferentes tipos de mostras promovidas pela Amadora, dando continuidade a este processo de (re)descoberta.

Nascido a 20 de Setembro de 1954, Relvas vinha de curtas passagens por fanzines (O Estripador, O Gorgulho) e jornais (como a Gazeta da Semana), tendo também publicado na revista Fungagá da Bicharada. Mas poucos conseguiriam prever algo como O Espião Acácio, a série com que se estreia no Tintin. A originalidade desta crónica humorística inspirada pela leitura da Ilustração Portuguesa assenta tanto no humor desconcertante (com uma surpreendente regularidade ao longo de quase uma centena de páginas) como no traço personalizado do autor, num todo completamente distante da oferta comercial franco-belga que dominava a publicação. Relvas não facilita e, para além de proclamar definitivamente o anti-herói, vai levar esta crónica da Primeira Guerra Mundial para lá da fronteira com a ficção científica desafiando também o conceito de série que caracterizava a revista Tintin. O autor torna-se uma referência obrigatória na história da BD portuguesa ao fazer suceder ao Espião Acácio uma série de histórias dos mais diferentes géneros e registos gráficos. O traço comum, para além da assinatura do autor, será uma maior atenção a personagens simplesmente humanos, em contraste com os heróis tendencialmente clássicos que (apesar de notórias excepções) dominavam ainda as páginas da revista. Quando a revista Tintin termina, inicia uma longa colaboração com o jornal Se7e, mantendo um veículo regular para a publicação das suas muitas e variadas histórias. No Se7e, Relvas regressa ao humor, com Sangue Violeta ou Karlos Starkiller. Em 1985, começa a publicar a cores, redefinindo, com os seus lápis de cera, a imagem do jornal.

A passagem para o formato álbum não é bem sucedida e, aos poucos, o autor distancia-se dos leitores, de Portugal e dos álbuns que por aqui se publicam. Diretamente na Internet ou através do sistema print-on-demand, vivemos desde 2006 toda uma nova fase de diversidade e renovação criativa que o leitor português desconhece: Palmyra, Ink Flow, O Urso vai a Espanha (a sua primeira novela), Costa, The Green Fish, Li Moonface, Kriks The Perfect Worker (com Nina Govedarica), The World of Miss Li… Para este ano, o autor anuncia um novo trabalho, Nau Negra.

As primeiras pranchas de Nau Negra
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