O fim do Imaviz Underground

O Imaviz Underground surgiu em 2013 e pretendia ser um projecto para reabilitar o Centro Comercial Imaviz, contudo após alguns sinais promissores o projecto chegou ao fim.

No site O Corvo é narrado algumas das peripécias que têm acontecido.

Lojas às escuras e de portas fechadas, casas de banho indisponíveis, lixo por recolher, seguranças a patrulhar os desolados corredores do espaço comercial e impedindo o acesso dos lojistas ao contador da eletricidade e, por fim, a PSP chamada ao local para tentar dirimir um conflito de contornos confusos. Apenas duas lojas tinham electricidade, mas evidenciava-se um clima de tensão generalizada. Era este o cenário com que se depararia, a meio da tarde desta segunda-feira (2 de Fevereiro), quem entrasse no Imaviz Underground, em Picoas. É o aparente fim de linha para um espaço que havia ressuscitado no Verão de 2013.

Por isso, a grande maioria dos lojistas ainda presentes no que resta do antigo Centro Comercial Imaviz, em Picoas, estão a abandoná-lo por sentirem não ter condições para continuarem de porta aberta. Na sequência de diversos episódios semelhantes, quando ontem chegaram ao centro, quase todos os comerciantes tinham a electricidade cortada. Além disso, no local estavam dois elementos de uma empresa de segurança, alegadamente a mando de um dos empresários ali instalados – que será senhorio de alguns estabelecimentos e sócio da discoteca Metrópolis, que funciona na cave -, que impediam que a electricidade voltasse a ser ligada. Isto apesar de todos os lojistas garantirem ter as contas da luz em dia.

As declarações que constam do artigo motivaram um esclarecimento da gerência do Metropolis Club, com a sua versão dos acontecimentos.

Deparámo-nos com uma reportagem sobre a situação actual do Centro Comercial Imaviz, em que acusam o Metropolis Club de boicotar o funcionamento do centro comercial impedindo lojistas de terem acesso à electricidade.

Para além das afirmações enganosas que se encontram na reportagem, o Metropolis funciona enquanto lojista e não proprietário do espaço, logo sem o poder de decisão que é referido na reportagem.

Contudo, a situação de abandono e desentendimento entre lojistas e proprietários do centro já se arrasta há largos meses sem nunca se conseguir um acordo.

Em relação às diversas contas de electricidade em atraso devido ao não pagamento de condomínios e falta de administração, foram verificados vários cortes de energia, nomeadamente no dia da passagem de ano, como verificado por muitos dos nossos clientes. Nessa ocasião, apesar de o Metropolis ter efectuado o pagamento da maior parte da conta, ainda que esta seja partilhada por todos aqueles que funcionam no centro, não foi possível a abertura do nosso espaço, tornando-se no episódio mais trágico deste arrastar recorrente até à data. Mais informamos que durante os últimos meses tem sido o Metropolis a arcar com a maior parte das contas de electricidade de modo a garantir o funcionamento do centro comercial.

Para além desta situação em concreto, o mesmo tem acontecido a cada mês, e o pagamento à EDP é algo que não interessa à maioria (leia-se 95%) dos lojistas nem proprietários, não efectuando qualquer tipo de pagamento à mesma.

Por estas razões, e pelos milhares de euros de prejuízo que o Metropolis e outros lojistas e proprietários já tiveram devido a esta situação recorrente, dá-se o caso de, neste momento, só ter acesso à luz quem realmente quer continuar a trabalhar, contribuindo para o pagamento de algo que é comum a todos.

Visto que na própria reportagem se menciona que há algumas lojas com electricidade, o que é verdade, esse facto deveria ser repensado por aqueles que a lêem no sentido de se aperceberem que se trata de um testemunho tendencioso.

Escrever sobre o assunto ignorando os factos, é fácil, especialmente quando a intenção se prende com difamação.
Este comunicado não serve para culpabilizar ninguém, apenas queremos informar os nossos clientes acerca da situação real.

Entretanto na página de Facebook do Imaviz Underground é feita uma detalhada história do projecto.

Estávamos nos primeiros meses de 2013, quando um grupo de amigos e conhecidos, equacionaram a ideia de unir esforços, num espaço comum, onde iriam juntar os seus negócios. Esta ideia surge pelas boas relações entre as pessoas, bem como, pela possibilidade de conjugar esforços numa altura de crise, tão difícil de ultrapassar.
Foi-nos feita uma abordagem, no sentido de implementar o projecto no Centro Comercial Imaviz, em Picoas. Boa localização, mas um aspecto abandonado e um pouco assustador, que só com muito trabalho e entreajuda seria superável.

Após algumas reuniões e ou troca de emails, com pelo menos dois dos proprietários de lojas ali localizadas, e com um dos administradores do condomínio, chegámos a um acordo para tentar revitalizar aquele, outrora, emblemático espaço de Lisboa.

Foi assim que projectos de negócio com mais de uma dezena de anos de actividade, se mudaram de malas e bagagens para aquele espaço. Estávamos em finais de Maio, inicio de Junho de 2013, quando visitámos os espaços que se viriam a transformar em lojas. Todas as lojas do núcleo inicial se juntaram no Piso -1, dai a designação de “Underground”. A Glam-O-Rama Rock Shop, “nasce” da conceituada loja de discos Carbono, situada até então na Amadora à qual se juntam a MONGORHEAD e a Clockwork Store , ainda com o bichinho ganho nos anos 90 com o projecto que existiu no Centro Comercial Portugália e do qual fizeram parte, até a especulação imobiliária (?) ter dado cabo dele.
Naquele Piso -1, existiam apenas duas lojas abertas, estando outra já pensada para uma loja de apoio, a outro negocio já existente no espaço, e por isso indisponível para ser ocupada. Estabelecidos os acordos e os contratos de arrendamento, e expostas as ideias do que poderíamos fazer em prol do local, aceites por todos os envolvidos, metemos mãos á obra.

Pinturas, reparação de chão e paredes, instalações eléctricas, decoração de montras e espaços, assim se passaram os meses seguintes.

De imediato começámos a divulgar a ideia e a contactar outras empresas que nos pudessem ajudar a todos, a completar o espaço, muito rapidamente se conseguiu completar o Piso -1, onde nos chegou a ser confessado “Antes ninguém queria alugar lojas no -1, agora ninguém quer ir para o Piso 0”!

Assim chegou a Svee Guitars , loja de reparação e construção de guitarras personalizadas, a DROP D . loja de instrumentos musicais e escola de música e a My name is MUER†E , com as suas roupas e acessórios personalizados. A tudo isto se juntou, entretanto, o BIKER CAFE .

Já no Piso 0, onde existiam uns 5 negócios quando chegámos ao Imaviz, criámos uma Galeria que passou a ser ocupada com exposições de arte, fotografia etc de artistas nacionais.

O espaço teve inauguração oficial em Setembro de 2013, numa festa que durou 12 horas e que levou ao Imaviz o número de clientes que o espaço não tinha fazia anos. Toda esta actividade chamou a atenção da comunicação social, que passou a visitar o espaço regularmente no sentido de fazer reportagens sobre a reabilitação que estava a ser feita e para saber mais sobre os projectos nele inseridos.

Com tudo isto passámos de lojistas a, também, “agentes imobiliários” uma vez que nos foram confiadas as chaves de diversas lojas para as quais fomos conseguindo pessoas. Juntaram-se a nós, a Dark Doll Alternative Clothing , um escritório de promoção de eventos, o Cabeleireiro Sweet e tudo isto fez com que outra dezena de negócios e serviços ocupassem lojas do Imaviz.

Apesar do muito interesse demonstrado pelas mais diversas entidades e empresas, não nos foi possível conseguir mais espaços para quem os desejava, pois ou não se conseguia contactar os proprietários dessas lojas, ou os valores pedidos eram elevados.

Eis que chegam as primeiras dificuldades. Avarias nas casas de banho, problemas de manutenção e limpeza, ausência total de extintores e segurança são apenas algumas que podemos enumerar. Ao solicitarmos resolução para esses problemas junto dos dois administradores do condomínio, dois lojistas do Imaviz, e de pelo menos um dos proprietários das lojas, é-nos passada a informação de que não há dinheiro para fazer face a essas despesas. Não nos deixámos abalar e decidimos, nós, alguns lojistas, arranjar alternativas para gerar receitas para ajudar nessas despesas. Foi assim que nasceram as habituais feiras, nos corredores do Imaviz. Feiras essas que mostravam arte, fotografia, pintura, artesanato, moda, acessórios e todo um sem fim de actividades de criadores e artistas alternativos.

Esta dinâmica, levou-nos aos noticiários, jornais e revistas do País, sendo um destaque no programa do José Pacheco Pereira no seu Ponto Contra Ponto e alem disso fomos nomeados pelos leitores da revista Time Out Lisboa para o prémio de melhor projecto / ideia do ano de 2013, que acabámos por perder para o recem inaugurado museu do Sport Lisboa e Benfica.

Foi com o dinheiro que juntámos nas diversas actividades que conseguimos pintar de branco todo o Piso -1, preparando assim as paredes para receber um dos nossos objectivos seguintes, que era dar cor ao local. Para isso convidámos artistas que embelezaram algumas zonas com a sua street art, tais como This Is Not Texas, Nicolae Negura- Cucubaou, PHARAY SIZZ, Noid.

Entretanto, e já impulsionados por alguns problemas de funcionamento do CC Imaviz deram-se algumas saídas de lojistas, no primeiro semestre de 2014, que foram prontamente “substituídos” por outros. Assim se Junta a nós a El Pep books e o Aloha Café , entre outros.

Não obstante de todos os esforços, por nós realizados, e de todas as contas por nós pagas, a gestão do condomínio fracassa, ou não chega sequer a fracassar dado que a sua ausência da realidade do CC Imaviz é total, enquanto local que funciona das 8h da manhã, até ás 20 horas todos os dias da semana.

Cada vez mais nos é exigido dinheiro. Dinheiro para luz, para água, para limpeza, para economato e para outras despesas que seriam normais e aceitáveis se as coisas aparecessem realmente feitas.
Não faz sentido pedir dinheiro para pagar a luz, se as contas são pagas meses a fio por uma agência bancária existente no local, a cada corte eminente que aparece mensalmente.

Não faz sentido pedir dinheiro para pagar água, quando os lojistas têm que se juntar para a pagar quando esta é cortada.

Não faz sentido ter uma empregada de limpeza, que os lojistas pagam, e que diz que não limpa melhor porque não lhe pagam a tempo e horas, e somos nós os lojistas que temos que limpar os espaços comuns, casas de banho incluídas para dar um ar aceitável e limpo, quer para nós quer para quem nos visita.

Não faz sentido pagar economato quando a Administração do condomínio, se recusa a passar recibos dos valores que recebe dos lojistas.

Apesar de nada disto fazer sentido, nós pagámos as contas “rascunho” que nos foram apresentadas para serem pagas, às quais ainda hoje esperamos a emissão dos devidos recibos de pagamento.
A tudo isto teremos que juntar a questão, “Se quando o Imaviz tinha meia dúzia de lojas abertas as despesas eram pagas, porque motivo agora com mais do dobro das lojas em funcionamento o dinheiro não chega?!”

As nossas perguntas tornam-se incómodas. Os nossos constantes pedidos de recibos pelos valores que pagamos tornam-se incómodos. Os telefones de administradores e proprietários “desligam-se” e deixamos de ter “administração” se é que ela alguma vez existiu. Entramos em auto-gestão. O espaço passa a ter que ser aberto e fechado por nós. As luzes acesas e desligadas por nós. Todas as áreas comuns limpas por nós. Não se iludam com o “nós” porque o “nós” somos meia dúzia, que nada mais fazemos a não ser tentar manter digno um espaço onde temos os negócios que nos sustentam a nós e às nossas respectivas famílias.

Se não há administração, as contas mensais não nos chegam, quem as recebe não nos apresenta valores a pagar e só depois dos cortes de luz, que entretanto passaram a ter outro peso pois a agencia bancária que habitualmente suportava este pagamento se “fartou” e mandou construir um ramal eléctrico para fornecimento de energia apenas para a sua loja, aparece alguém a pedir dinheiro no valor X ou Y para se pagar a factura sem que nos seja apresentado qualquer recibo com o qual possamos justificar a nossa despesa, ou até mesmo para provar que pagámos. Chantagem? Extorsão? Outro tipo de crime? Legal não será com certeza.

Estamos no final de 2014, mês de Novembro, mais um corte de Luz, primeira semana de vendas da altura do Natal, mais de uma semana sem luz no Imaviz. Após o pagamento da mesma, fechaduras mudadas, impedimento de entrada no Imaviz que apenas a diplomacia do “ se não forem eles a abrir o local e a fazer a manutenção do mesmo isto não funciona” levou a que nos fosse entregue novamente as chaves do local.

Continuámos a tentar fazer o melhor que sabemos e podemos para manter o espaço vivo, mas é complicado lutar com quem apesar de se demitir das suas responsabilidades não se demite de prejudicar o Imaviz e os seus lojistas com as suas atitudes e ausência de diálogo.

Não se compreende como se acusa alguém de não querer pagar seja o que for, quando não lhe é apresentada uma conta, uma factura, ou um recibo do valor a pagar. E mesmo assim, as pessoas se dispõem, através de email enviado, a pagar o que se tiver que pagar para manter o Imaviz aberto.

Todas as acções tomadas, na substituição de fechaduras, no impedimento de aceder ás lojas, no pagamento selectivo de contas etc, são, pensamos nós, ilegais alem de humana e moralmente injustas para quem tanto fez pelo espaço. Estas decisões só podem ser tomadas em assembleia de condóminos, devidamente convocada e com as decisões lavradas em acta, o que se aconteceu não foi devidamente comunicado a quem de direito e com a antecedência legalmente prevista.

É igualmente de estranhar que durante todo este tempo não tenha havido dinheiro para necessidades tão básicas como papel higiénico, e agora aparece dinheiro para contratar um turno de segurança, que impede ilegalmente os lojistas de acederem ao quadro de energia para ligar as luzes dos seus locais de trabalho, alegando ausência de pagamentos de contas que nunca foram apresentadas.

Nada nos move contra ninguém, não podemos é deixar de estranhar que algo move alguém contra nós, depois de nos terem convidado a ir para aquele espaço.

De estranhar também a saída de quase TODAS AS LOJAS que estavam no Imaviz antes de nós, e de todas as que para lá foram durante este período em que ali temos estado. Com a nossa eminente saída, só lá ficará quem de alguma forma tem sido, quem sabe, o principal responsável de toda esta situação. (??!!) E tudo voltará a ser como antes, com um Imaviz abandonado e vazio, apenas com espaço para os preservativos nos WC, com os vómitos e dejectos nos corredores e com o regresso das baratas que entretanto tínhamos conseguido eliminar…

Vemo-nos num outro UNDERGROUND por ai algures, em breve!

As lojas de banda desenhada Mongorhead e El Pep Galery & Store têm previsto a abertura de novos espaço em novo local.

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