Étienne Davodeau, Os Ignorantes Dias Com Um Mentiroso

Étienne Davodeau, um dos convidados do Festival de BD de Beja, apesar de ser um autor com uma extensa bibliografia, é quase desconhecido em Portugal.

Texto: João Sequeira | Fotografia: Diogo Campos


[dropcap]É[/dropcap]tienne Davodeau foi um dos convidados do X Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Autor com uma vasta obra publicada em França, por cá limita-se a ter editado – que eu tenha conhecimento – Alguns Dias de Um Mentiroso, pela MaisBD em 1999.

[pullquote align=”right”]A banda desenhada tem destas coisas. Faz muito bem à saúde e toda a gente devia tomar.[/pullquote] A verdade é que não conheço assim tão bem o autor, apesar de apreciar bastante o “Alguns Dias Com Um Mentiroso” mas sobretudo “Os Ignorantes”, que comprei em Espanha – Los ignorantes, Ediciones La Cúpula, 280 páginas, sendo a edição original (Les Ignorants) da Futuropolis – e julgo que não está editado por cá, para variar…

Curiosamente, descobri agora que existe uma edição brasileira e na House of Chick existe uma crítica interessante a essa edição:

Neste livro conhecemos e acompanhamos o próprio artista, Étienne Davodeau, autor francês de HQs, que resolve convidar o amigo vinicultor Richard Leroy para uma troca interessantíssima: sua experiência no mundo dos quadrinhos pela de Leroy no universo dos vinhos. O que acontece é que um não sabe absolutamente nada sobre a paixão do outro, então através de uma jornada de aprendizados, ambos vão mergulhar no conhecimento com muita boa vontade.

[dropcap]E[/dropcap]m Beja estão em exposição originais de “Alguns Dias de Um Mentiroso” e “Les Ignorants”. Ambos os livros são autobiográficos, um género que aprecio bastante, mas “Os Ignorantes” acrescenta um carácter pedagógico que nos incita a curiosidade e nos deixa mais ricos após terminar o livro.

O que o livro nos diz é que somos todos ignorantes em relação a certas matérias e ao mesmo tempo tudo pode ser interessante, dependendo da forma como é feito.

Acho que é um bom exemplo da abrangência de temáticas que podem ser abordadas na banda desenhada. Demonstrando que a BD é para todas as idades e gostos.

Pelo que vi dos originais, creio que Davodeau utiliza canetas isográficas e aguada de tinta-da-china, mas é sobretudo o traço espontâneo e despreocupado que acrescenta um grau de intimidade à história, transformando a leitura num agradável passeio pela banda desenhada e pelo vinho.

Não posso deixar de mencionar a excelente edição de “Los Ignorantes”: o formato, a dimensão, a gramagem do papel, o design, tudo contribui para reforçar e dignificar a obra que encerra.

Em Beja, quando lhe pedi para autografar “Los Ignorantes”, o tipo quase saltou da cadeira a olhar em volta como que a verificar onde estava. Deve ter ficado surpreendido pelo aparecimento em Beja daquela edição. E foi este o mote para começarmos a falar como se nos conhecêssemos de longa data.

A banda desenhada tem destas coisas. Faz muito bem à saúde e toda a gente devia tomar.


[dropcap]A[/dropcap]pesar de ser um autor com uma extensa bibliografia, é quase desconhecido em Portugal. Contudo não é único autor desconhecido por cá. Infelizmente, há imensos autores que têm vindo a revolucionar a banda desenhada, contribuindo com obras de grande maturidade, mas que são completamente desconhecidos em Portugal (talvez não sejam totalmente desconhecidos, mas não são publicados).

Um exemplo disso é o Edmond Baudoin, um autor que admiro imenso, que tem uma obra extensíssima e não tem nem um livro editado por cá.

E não é preciso falar de França: Espanha é mesmo aqui ao lado e vão lá ver quantos álbuns do Baudoin têm editados… Por cá, se não fossem as “pequenas” editoras, não tínhamos acesso a outra banda desenhada que não a do costume (super-heróis, Disney, Tintim, Astérix … etc).

Desculpem lá este desabafo que não tem nada a ver com o Étienne Davodeau , mas este assunto entristece-me.
Por agora podem dar um salto até Beja, para conhecer a obra e verem a exposição que o festival alentejano dedicou a Étienne Davodeau, pode ser que depois alguém se lembre de pegar no seu trabalho para editar por cá outra obra sua…. Ou se não quiserem esperar – uma eternidade – vão a Espanha!


[note radius=”2″]João Sequeira é mais conhecido como sendo o desenhista de ‘Psicose’ e ‘F(r)icções’, tendo esta colaboração sido fruto do acaso, no dia 14 de Junho vai inaugurar uma exposição, em Elvas, com originais seus.[/note]

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2 Comments

  1. says: Pedro Cleto

    Caro João Sequeira,
    O Étienne Davodeau não é assim tão desconhecido em Portugal, pois antes de Beja já esteve no Salão Internacional de BD do Porto (aquando da edição do “Alguns dias com um mentiroso”, que tive o prazer de traduzir), e no Festival de BD da Amadora.
    E tem editados dois outros livros em português, ambos pela MaisBD: “Aqueles que te amam” e “Max e Zoé: O grande disparate”.

    Boas leituras!

    1. says: Bruno Campos

      Daí o ter sido mencionado o “quase desconhecido”, o Max e Zoé ainda tinha uma curta lembrança de que tinha sido editado por cá, o “Aqueles que te amam” é que já me tinha falhado a memória… agora, se eu não estou em engano todas essas edições já foram à 10 anos ou mais… o “Alguns dias com um mentiroso é de 1999″…

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