Fórmulas de Festivais: O BD Fórum

E para hoje fica mais uma visita ao passado. Desta vez, é uma visita a um passado com uma dúzia de anos.

Decorreu entre 1 e 4 de Maio de 2003 a única edição do BD Fórum Lisboa, a primeira iniciativa que se pretendeu próxima do modelo das convenções norte-americanas de ‘comics’. Com muitos livros para venda e muitos autores presentes, o evento teve, nesta primeira edição, que disputar público com o sol, um Benfica-Sporting e o Dia da Mãe. E, apesar de todas as dificuldades, foi uma aposta ganha (mas não repetida).

Antes do mais, diga-se que houve naturais falhas de primeira edição, ligadas sobretudo a uma falta de rotina em tarefas mais “burocráticas” como o acompanhamento de autores e o cumprimento do programa pré-definido. Mas não deixa de ser importante que estes são aspectos mais fáceis de reparar do que a plenamente alcançada mobilização do público. O BD Fórum teve muita gente, e muita gente que vinha para comprar livros.

O sucesso de vendas assenta, no entanto, num esforço por parte das editoras, pois o público que se deslocou ao Fórum foi claramente um público familiarizado com a banda desenhada, e o extraordinário volume de vendas centrou-se sobretudo em duas áreas: as novidades e os saldos. Quer isto dizer que para uma editora como a Verbo, que estava no BD Fórum com o catálogo Tintin que possuía nessa altura, o BD Fórum não traduziu a melhor das apostas.

O BD Fórum demonstrou também a necessidade de regular a forma como se processa uma sessão de autógrafos num evento de banda desenhada.

As editoras que mais apostaram no BD Fórum foram as organizadoras Devir (que na altura contava com José de Freitas) e Vitamina BD. Houve um esforço muito significativo por parte das duas editoras (não só financeiro), em assegurar a presença de novidades a tempo do Fórum, e a presença dos respectivos autores.

Mas o esforço na organização deste tipo de evento revelou-se demasiado pesado para os editores que tiveram de se desdobrar em diferentes papéis. Principalmente por isso, nunca mais houve uma nova edição do BD Fórum.

Por outro lado, não seria fácil conseguir apresentar anualmente um elenco de autores tão forte como o do evento de 2003, que contou com Neil Gaiman como cabeça-de-cartaz, e com outros autores como Luís Royo, Alberto Varanda, Fernando Gonsales ou Barbucci, e novidades editoriais para quase todos.

Se Portugal tivesse um verdadeiro mercado de banda desenhada, esta seria uma fórmula de sucesso junto do público, dos autores e dos editores. Sobretudo, esta seria a fórmula que permitiria aos editores investir na vinda de autores, e recuperar minimamente um tal investimento. De qualquer modo, precisaria sempre de uns ajustamentos, designadamente ao nível da programação, quase inexistente para quem não fosse caçador de autógrafos.

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