Fórmulas de Festivais: O Salão Lisboa

Vem aí o Anicomics, inaugurando o ano 2015 em termos de festivais de banda desenhada em Portugal, seguir-se-á toda uma série de eventos de diferentes dimensões e seguindo diferentes fórmulas.

Como sempre, a chegada dos festivais relança a discussão em torno das fórmulas.

Proponho hoje abordar uma das fórmulas de maior insucesso da história dos eventos de BD em Portugal, o Salão Lisboa de Banda Desenhada e Ilustração, que existiu na capital portuguesa no final dos anos 90 e princípio dos anos 2000 (a última edição foi há dez anos).

6slibdNo plano positivo, refira-se que o Salão beneficiou sempre de uma extraordinária cobertura mediática, com destaque para a imprensa não escrita, tradicionalmente menos atenta a este tipo de acontecimentos, levando a informação sobre banda desenhada ao contacto de um público não habitual, o que é manifestamente importante em termos de promoção. João Paulo Cotrim, responsável máximo pelo evento lisboeta na sua melhor fase, foi incansável neste aspecto, desdobrando-se em entrevistas e comentários para a imprensa, colaborando activamente no esforço de divulgação.

Mas no Salão Lisboa faltou, naturalmente, um último passo que não dependia de Cotrim ou da Bedeteca de Lisboa, mas da vontade do público: a visita ao evento. O Salão Lisboa era aquele que ninguém visitava.

Não estava em causa a qualidade do evento, nem o importante papel da Bedeteca na prossecução dos seus fins (enquanto teve dinheiro para isso), nem, como já se referiu, o incansável contributo de João Paulo Cotrim.

Mas a mensagem falhava em dois pontos. Em primeiro lugar, falhava justamente junto do público não conhecedor. Nunca se deu a informação de que se tratava de uma exposição em que eram mostrados os originais em que os autores trabalharam (com os mais diversos materiais) aquilo que depois constitui a página impressa de um livro de banda desenhada.

Em segundo lugar, a mensagem centrava-se na afirmação de que a banda desenhada é uma forma de linguagem válida para a expressão de uma arte adulta, uma das batalhas de sempre da Bedeteca de Lisboa. Mas, mais importante do que dizer que a banda desenhada também é para adultos, é afirmar que a banda desenhada também ainda é para crianças e jovens. Esta é uma batalha muito mais complicada, mas parece ser a única capaz de, em termos de continuidade, trazer novos públicos à banda desenhada.

Ao contrário do Salão, o projecto anual da Bedeteca de Lisboa abrangia, para além das exposições, edições e do Salão Lisboa, uma forte aposta na produção infanto-juvenil (com animações teatrais ligadas à BD, ateliers, exposições itinerantes e acções de colaboração com as escolas), para além da aposta na vertente biblioteca (com especial atenção ao acervo da Bedeteca, e com o desenvolvimento de estudos de levantamento), afirmação internacional, ‘site’ na internet, colóquios, etc.

Dez anos depois da última edição, nada ficou do Salão Lisboa (e pouco ficou do trabalho desenvolvido pela Bedeteca dos Olivais). Nem em termos de festa da BD, nem de formação de autores ou de leitores, nem de dinamização de mercado. A banda desenhada portuguesa nada deve ao Salão Lisboa, o que é lamentável em termos de constatação, mas deve representar uma lição importante para quem procura uma fórmula para um evento ligado à BD.

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