Os Vingadores Obscuros de Hickman

Jonathan Hickman utiliza diversos elementos para criar histórias cósmicas e épicas Os Vingadores, mas ao fim de dois números será que o está a conseguir? Uma crítica por Bruno Campos.
Argumento: Jonathan Hickman
Desenho: Adam Kubert
Cor: Laura Martin
Capa: John Romita JR com Klaus Janson e Dean White
Edição: 05/03/2014
Preço: 3,50€

Jonathan Hickman tem uma queda por personagens obscuros – que poderão ser desconhecidas para a maioria dos leitores – tendo recheado o vasto elenco dos Vingadores com várias. Depois de no primeiro número – da edição portuguesa da revista – ter introduzido o elenco sem explorado nenhuma das personagens, no segundo número concentra-se em 3 personagens em particular: Hyperion, Esmagadora e Capitã Universo.

A nível narrativo é uma opção salutar que permite conhecer as personagens de terceira linha fornecendo ao leitor informação e contextualização sobre os heróis desconhecidos. Contudo, ao colocar em destaque um personagem em cada história, o problema do vasto elenco acaba por sobressair. Existem personagens que estão omissas destas páginas, outras que são meros figurantes, chegando a um ponto em que o leitor se questiona do porquê de existirem tantas personagens equipa.

“A Morte E Ressurreição Dos Grandes Titãs” narra a origem de Hyperion, numa história em que que o argumentista tenta transforma-lo em algo mais do que um mero substituto do Super-Homem (personagem em que é inspirado), contudo acaba por falhar nesse objectivo, tornando Hyperion numa personagem mais alienígena que Kal-El. Curiosamente uma origem que na teoria poderia ser uma excelente história – um herói que sobreviveu à destruição de dois mundos – acaba por se revelar algo monótona. A opção por narrar eventos em dois tempos distintos – presente e passado – acabaro por não resultar. A história em que “OsVingadores” investigam uma das “bombas de origem” enviadas para a terra por de Ex-Nihilo, no primeiro número, não serve como complemento ou contraponto às sequências de flashback, parecendo servirem unicamente para o argumentista inserir na narrativa elementos que planeia vir a explorar, num futuro que pode ser próximo ou longínquo.

“Superguardião” narra a como Izzy uma jovem mulher da Terra se tornou na primeira humana a fazer parte da Guarda Imperial de Shia’ar. É outra história que narra simultaneamente eventos presentes e passados, sendo que se os flashbacks sendo interessantes e bem construindo permitindo conhecer a personagem e as suas motivações. A história no presente acaba por ser algo fraca com Hickman a tentar encenar um confronto sideral épico que acaba por ser demasiado monótono. Como tem sido hábito, nestes Vingadores, os eventos são: cósmicos, súbitos e rápidos; a acção sucede-se de tal modo rápida que não existe tempo de criar qualquer empatia com as personagens ou, sequer, pensar que existe uma hipótese de os heróis não triunfarem. Neste caso, os antagonistas não chegam a ser introduzidos, as suas motivações não são nunca desenvolvidas, Sendo meros sacos de pancada para os heróis.

“Zen E A Arte Da Cosmologia”, pretende ser uma história mais introspectiva, introduz-nos a Capitã Marvel. Uma personagem, cujo um conceito original era maior do que a vida, aqui parece reduzida a um cliché de um poder enorme encapsulado numa ser humano catatónico, pronto a ser usado como solução deus ex machina – como sucedeu no primeiro número.A história termina com um cliffanger que parece ser a revelação final que vai dar coesão ás diversas peças do puzzle que Hickman está a montar, contudo ao fim de dois números – que equivalem a seis edições norte-americanas- existem demasiadas peças soltas e falta um rumo claro para o que pretende da série. Sendo essa a principal falha da série: falta de foco narrativo. Existe múltiplos fios narrativos que dispersão a atenção do leitor e são incapazes de criar uma história coerente e cativante, pelo menos até ao momento.

O argumentista pretende criar histórias cósmicas e épicas, contudo utiliza diverso elementos em simultâneo, e nunca chega a criar um elo entre as personagens e o leitor que faço com que este se preocupe com o desfecho que a história irá ter. O que vai prendendo a atenção do leitor é o facto de Hickman se revelar um exímio mestre da arte da arte do cliffhanger: em três histórias, três cliffhangers que até podem não estar ligadas.

A arte de Kubert é boa, dentro do género, mas o artista não me agrada particularmente, trazendo-me sempre à memória as qualidades presentes no trabalho do pai que estão ausentes do seu trabalho, é a maldição da herança de ser filho de Joe kubert. Contudo o mais velho dos herdeiros de Kubert é competente, apesar de existirem alguns pormenores que revelam alguma inconsistência a nível dos rostos e expressões faciais, em particular existem algumas páginas onde se revelam influências nipónicas, que destoam do traço presente nas restantes páginas, quase como se fossem executadas por outro artista…

É um trabalho competente, em particular na primeira história onde a opção pela utilização de uma grelha de 4 vinhetas verticais para as cenas do presente e de 4 vinhetas horizontais para a cenas do passado é um solução eficaz – para dar a indicação do leitor de qual é espaço temporal em que a acção se desenrola – sem recorrer aos habituais tecnicas para identificar flashbacks.

A nível da arte a estrela acaba por ser Laura Martin, a colorista possuí um sensibilidade pop vincada, com um preferência pelas cores vivas, conseguindo encontrar o equilíbrio perfeito entre cores visualmente cativantes e o bom gosto, não tornado as pranchas num festival de cores garridas que agridem a vista, como acontece outras edições de super-heróis. É um daqueles casos em que a cor é mesmo uma mais valia para a arte.
Ao fim de 2 números – que correspondem a seis edições norte-americanas – Os Vingadores de Hickman continuam a viver das promessas de algo épico, que aqueles que conhecem o trabalho do argumentista de outros títulos julgam que ele é capaz de concretizar, contudo tarde em assumir um rumo, a ter uma direcção que o leitor seja capaz de discernir.  Os Vingadores podem tornar-se num série de boas ideias mal desenvolvidas, caso o argumentista não comece a atar algumas pontas soltas e a revelar uma visão mais coesa.

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