O lado negro dos Vingadores de Hickman e Epting

O lado negro dos Vingadores, de Jonathan Hickman, revela-se mais sedutor. É uma crítica ao 3º número de Os Vingadores onde se estreiam os Illuminati na pele de Novos Vingadores.
Argumento: Jonathan Hickman
Desenho: Steve Epting
Arte-Final: Steve Epting e Rick Magyar
Cor: Frank D’Armata
Editora: Panini
Edição: 02/04/2014
Preço: 3,50€
Republica: New Avengers Nº01-03

Depois de nos primeiros dois números ter publicado a revista norte-americana “Avengers” o 3º número de “Os Vingadores” inicia a publicação da revista “New Avengers”, cujo grupo recebeu a denominação de “Novos Vingadores” na edição portuguesa.

Esta série ao ser relançada, sob o selo Marvel Now, foi recriada por Jonathan Hickman utilizando os membros do grupo Iluminatti. Este grupo vem trazer ao de cima aquele que pode ser o maior problema para os novos leitores das edições Marvel portuguesas: o desconhecimento de eventos anteriores da telenovela interminável que é o Universo Marvel. Neste mundo em que todas as histórias e personagens estão interligadas, isso pode ser um factor de desmotivação para novos leitores pegarem nas revistas. Curiosamente é a interligação das diversas personagens dentro de um mesmo universo ficcional que é um dos grandes atractivos (para a maioria dos leitores) das aventuras destes heróis.

O editorial de José de Freitas, para enquadrar os novos leitores, indicando os dados relevantes para a compreensão da história. Esse editorial acaba quase por ser desnecessário, por mérito do argumentista que consegue colocar na narrativa (quase) toda a informação necessária para a compreensão da história. Embora a minha opinião possa ser um pouco parcial, devido ao facto de ter alguns conhecimentos dos eventos anteriores a esta história.

Hickman apresentou os Novos Vingadores, como sendo a antítese de Os Vingadores, enquanto um seria a luz os outros seriam a escuridão, curiosamente até em termos narrativos as séries estão em pólos opostos.

Enquanto em Os Vingadores falta foco; a narrativa é pouco coesa; as motivações da personagens estão quase ausentes; em os Novos Vingadores temos um fio narrativo claro; as motivações pessoais dos personagens são expostas e é possível compreender os seus objectivos pessoais; os pontos de convergência e divergência das elementos da equipa, o que cria uma dinâmica de grupo interessante, ao invés de Os Vingadores onde a maioria dos elementos parece estar lá só porque sim.

Os Illuminati, que agora são os Novos Vingadores, são um grupo criado por Brian Michael Bendis, nas páginas de New Avengers, como um ferramenta para reescrever o passado da Marvel à sua maneira. Fundados por Homem de Ferro; o Professor Charles Xavier; Raio Negro; Namor; Reed Richards e o Dr. Estranho, este grupo funciona como “uma espécie de Clube Bilderberg dos super-heróis, um pequeno grupo de líderes e heróis influentes, que se reúnem nas sombras do Universo Marvel para trocar informações e “puxar os cordelinhos” do mundo.” É o grupo que tem, também, o condão de ser uma apropriação de uma corporação de um conceito da contra-cultura, os illuminati, popularizado por Robert Anton Wilson em “The Illuminatus Trilogy”.

Apesar de “Os Vingadores” não abordar nenhuma temática da contra-cultura tem claras influências a da ficção-científica, como realidades paralelas – algo que também não é inédito nas histórias de super-heróis, sendo que uma das mais famosas sagas da DC Comics é precisamente “Crise nas Terras Infinitas”.

Para quem já estava a ficar saturado do trabalho de Hickman nos números anteriores de Vingadores, este número é refrescante! O mistério introduzido é estimulante; as explicações pseudo-científicas claras; as personalidade e motivações dos personagens estão bem definidas, existe um conflito multi-dimensional bem delineado onde é possível ficar a saber o que está em jogo, o que poderá vir a acontecer. Este número tem o condão de em uma vinheta ser mais claro sobre o evento que parece ser o foco do trabalho – que Jonhathan Hickman está a desenvolver em “Os Vingadores” – que as 6 histórias previamente publicadas, nas duas revistas anteriores.

A arte de Steve Epting (com a colaboração de Rick Magyar) é competente embora prejudicada pelas cores de Frank D’Armata. As opções do colorista por tons escuros mas brilhantes (em conjunto com o papel da revista) criam um efeito que é por vezes agressivo para a vista. A utilização de cores “planas” e mais suaves teria sido um opção preferível. A utilização da cor para criar volume entra (por vezes) em choque o a arte de Epting, onde o negro não serve só para criar sombra, mas também volume.

Os Vingadores Nº03, é uma história de super-heróis, com laivos de FC, interessante que serve para recuperar a fé nos Vingadores de Hickman.

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