Rescaldo quente da Comic Con Portugal

No rescaldo do evento, pode-se afirmar claramente que a Comic Con Portugal foi um sucesso algo inesperado. As expectativas foram baixas ao início, tendo subido conforme foram confirmados os convidados mas sempre com um burburinho de fundo: “será que vai ser mesmo assim como dizem?”.

De facto não correu conforme se esperava, pois a afluência foi superiorao que se previa – 30 mil visitantes em vez de 20 mil – tendo gerado imensas queixas acerca do tempo perdido em filas e da falta de traquejo na gestão das mesmas mas, no geral, que outro comentário se pode fazer senão de que foi um sucesso!

Tendo estado presente sexta e sábado, concordo que as filas eram muito exageradas mas algo que é compreensível devido ao sucesso inesperado que foi o dia de sábado. A solução para grande parte das queixas que se fizeram, e ainda se fazem sentir, será mesmo tomar as providências devidas para aproveitar ao máximo o evento.

Há muito a melhorar neste aspecto, mas nada de que não se estivesse à espera num evento deste género que, à partida, se sabia que ia atrair milhares de pessoas. E que género de evento é esse? Uma convenção à boa moda norte-americana, em moldes que nunca se viu em Portugal.


Uma comic con como as que conhecemos combina cinema, jogos, BD, animação, muito cosplay e todo o género de actividades que compõem uma verdadeira feira de entretenimento de cultura pop. Neste caso pode-se dizer que, apesar de alguns defeitos, o tratamento e destaque dado à BD foi semelhante às restantes áreas. E esse destaque mediu-se nas diversas filas de autógrafos, especialmente a de Brian K. Vaughan, na falta de stock das livrarias presentes e no feedback extremamente positivo dos diversos autores presentes na Artist’s Alley.

Na Europa, daquilo que conheço e vou vendo, não existe um evento que tenha igual respeito e dê igual destaque à BD, TV, cinema, jogos cosplay, workshops, etc. precisamente porque se focam em determinadas áreas servindo as outras como complemento. Nas convenções inglesas, nos salões espanhóis de comics ou mangá e eventos do género focam-se, maioritariamente, na BD com pequenas áreas reservadas para outras artes e afins. O público-alvo é definido logo à partida e toda a programação é pensada com esse público.

Na CCPT não, aqui a BD tem o mesmo respeito, destaque e espaço que as outras áreas, salvaguardando as devidas diferenças de necessidade de espaço para acolher o público de, por exemplo, um actor comparado com um autor de BD obviamente. Nota-se uma evidente aposta nos artistas de cinema/TV para atrair as massas, mas tendo ligações a outras áreas – que em outros eventos serviriam como complemento,-  que aqui são peças importantes de um mosaico que se quer que seja, acima de tudo, um evento de cultura popular. Nisto a CCPT destaca-se dos demais eventos, fazer um exercício de comparação torna-se infrutífero, devido a ter um pouco de tudo sem cair na armadilha de ser uma manta de retalhos. A CCPT construiu com sucesso, na sua primeira edição, um ambiente muito característico onde todas as peças se encaixam bem.

Elementos a melhorar existem sempre e além dos já mais que falados problemas logísticos, a zona infantil, a zona de jogos de tabuleiro e a zona de exposições de BD terá que ser repensada para futuras edições. Havia espaços subaproveitados enquanto que outros não tinham um momento de descanso estando sempre pejados de pessoas. A zona infantil terá que ser melhor articulada com as restante pois estava desligada parecendo que não se passava lá nada. A zona de jogos de tabuleiro – situada ao lado da zona infantil – estava deserta, foi sobredimensionada para o uso que teve, enquanto as mesas na zona comercial (dinamizadas pelas bancas presentes) estavam apinhada de jogadores e transeuntes. Por fim, as exposições de BD mereciam um melhor tratamento nem que não fosse pelo facto de estarem mal sinalizadas – as reproduções eram de obras de Javier Rodriguez e Marcos Martin mas a sinalização indicava Marcos Martin e Carlos Pacheco – numa zona de trânsito mas que merecia uma reconfiguração, para dar mais destaque às obras expostas.

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No geral, como já foi mais que repetido por essa internet fora, há arestas a limar mas o saldo final é extremamente positivo. Termino citando um comentário de Jorge Coelho (desenhista português que trabalha para a Marvel e Boom) que resume muito bem o evento.

Já fazia falta um evento como a Comic Con Portugal e um evento desta dimensão no Porto.  Todas as desculpas para nos deslocarmos á Invicta são boas. E verifico, perdoem-me os rótulos, que temos um Festival “Indy” em Beja, um Festival “Europeu” na Amadora e uma Comic Con no Porto. Parece-me muito bem.

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