É a quarta vez que o autor francês marca presença no festival internacional de banda desenhada da Amadora, contrariando aqueles que criticam a repetição nos convidados internacionais, e aqueles que criticam a presença na Amadora de autores sem obra publicada em Portugal. E ainda bem, por várias razões.
Em primeiro lugar, porque a carreira dos autores não fica estagnada na altura em que fizeram a primeira visita. André Juillard veio à Amadora antes de ser desenhador da série Blake e Mortimer, por exemplo.
Em segundo lugar, porque Sapin demonstra que há mais na relação entre um autor e um festival do que a edição de livros no país do festival.
Em 2010, o livro MKM – Mega-Krav-Maga 1 dava forma às memórias que Sapin e Lewis Throndeim recolheram do Amadora BD (todas feitas de pequenos detalhes que fazem toda a diferença). Agora, Mathieu Sapin prepara um álbum com ação passada na Amadora (à semelhança do que já fez o brasileiro Lourenço Mutarelli).
E para lá do interesse de Sapin em Portugal e na Amadora, há o interesse dos portugueses no trabalho de Sapin e especialmente no género que tem desenvolvido nos últimos anos, o da BD-reportagem. Apesar da carreira bem sucedida do parente próximo que é a BD documental, em que Portugal conta com bons especialistas, a BD-reportagem é, ainda, um género praticamente desconhecido no nosso país.
Mathieu Sapin tornou-se, em pouco tempo, uma das referências obrigatórias do género em França. Primeiro, acompanhando os bastidores do filme Gainsbourg, de Joann Sfar (Feuille de Chou – Journal d’un Tournage e Feuille de Chou – Journal d’un Après-Tournage). Depois, documentando a redacção do Libération (Journal d’un Journal), e depois seguindo a campanha presidencial de François Hollande (num trabalho que foi motivo de exposição no Amadora BD 2012). Em 2015, fez uma BD-reportagem sobre o Palácio do Eliseu.
A diferença entre a BD-reportagem e a BD documental merece alguma reflexão, podendo a originalidade daquela contribuir para a renovação desta.
Na obra de Sapin, destaco dois aspetos: a presença do próprio autor enquanto personagem, de modo a que todo o livro é, para além da reportagem propriamente dita, a história do making-of da reportagem, e a linha gráfica humorística, que em nada prejudica a reportagem sobre temas institucionais ou reconhecidamente sérios.
Mathieu Sapin nasceu em Dijon, em 1974. Frequentou a Escola Superior de Artes Decorativas de Estrasburgo, e trabalhou no Museu da BD de Angoulême. Integra o atelier da Societé Nationale de Bande dessinée com Christophe Blain, Riad Sattouf e Joann Sfar, que recentemente completou dez anos de existência. Da sua obra em banda desenhada, destaque para o super-anti-herói Supermurgeman, nascido nas páginas da revista Psikopat.
Sempre discreto e muito observador (características evidentes nas suas BD-reportagens), Mathieu Sapin evidencia no também um requintado sentido de humor,que no seu trabalho de ficção é muitas vezes acompanhado de referências do universo da BD.
Olá. Não sabendo quem escreveu o artigo, não posso dirigir-me ao autor por nome, mas além de o cumprimentar, gostava de saber qual é a diferença entre “bd documental” e “bd reportagem”, já que isso não fica explícito no artigo. Obrigado!
O auto é o Pedro Mota, por lapso tinha sido publicado como sendo um texto da autoria de aCalopsial.
Muito obrigado pelo interesse.
Na minha perspetiva, a BD documental procura apenas destacar o objeto do documentário: uma personalidade (no caso da BD biográfica), um local ou um acontecimento. Na BD reportagem, o sujeito (reporter) não é invisível.