Os 80 anos de O Mosquito

O primeiro número de O Mosquito saiu a 14 de Janeiro de 1936.

A revista chegou a vender 80 mil exemplares semanais no período de maior popularidade, constituindo um sucesso editorial que vai muito além da banda desenhada.

Inicialmente, a revista publicava séries inglesas sem balões (com destaque para a obra de aventuras de Walter Booth) e séries espanholas de humor (de autores como Arnal ou Arturo moreno). António Cardoso Lopes (o Tiotónio, nas cido na Amadora) assina as aventuras de Zé Pacóvio e Grilinho.

Em 1942, no auge da guerra, “O Mosquito” reduz o formato para metade devido à falta de papel e é no decurso do ano seguinte que Eduardo Teixeira Coelho passa a colaborar na revista (com capas, ilustrações e construções de armar). Entre 1942 e 1948, passa a uma periodicidade bissemanal (saindo à quarta-feira e ao sábado).

Em 1946 O Mosquito retoma o formato inicial, publicando as grandes criações de Teixeira Coelho. No ano seguinte, José Ruy começa a trabalhar na publicação (a desenhar e litografar as cores). José Garcês, Jayme Cortez, Vítor Péon e o próprio José Ruy passam a integrar o lote de autores da publicação. É a época de ouro da BD portuguesa (que não vive só de O Mosquito, mas também dos seus excelentes competidores).

A par da BD, estão as novelas de José Padinha, Raúl Correia, Lúcio Cardador e Orlando Marques. Entre os autores estrangeiros, O Mosquito apresenta grandes clássicos espanhóis, como Jesús Blasco ou Emilio Freixas.

Em 1948 dá-se a separação entre Raúl Correia e Cardoso Lopes, marcando o início do declínio da publicação. O Mosquito saiu pela última vez em 24 de Fevereiro de 1953 (abrindo caminho para a televisão) com o número… 1412!

Na época atual, em que existe televisão e internet, não é possível explicar o sucesso de O Mosquito, essa “janela aberta ao mundo e à fantasia”, como um dia escreveu José Ruy (que, muito antes de ser um dos autores da publicação, já era um dos seus maravilhados leitores). Sobretudo se considerarmos que no período em que O Mosquito foi publicado, Portugal era um país com uma elevada taxa de analfabetismo, e com uma censura pouco receptiva à oferta cultural.

No ano em que se comemoram 80 anos sobre o surgimento de O Mosquito, o Clube Português de Banda Desenhada prepara uma homenagem condigna.

Para além de uma grande exposição cheia de raridades, haverá um ciclo de palestras coordenado por José Ruy (graças à sua enorme disponibilidade e generosidade), que destaca os processos gráficos de O Mosquito, os novelistas de O Mosquito, e Os Doze de Inglaterra, uma banda desenhada de E. T. Coelho originalmente publicada n’O Mosquito, que agora é objeto de reedição (em versão restaurada) pela Gradiva.

Para além de homenagear o título de maior sucesso da história da banda desenhada portuguesa, importa refletir sobre o momento atual em que não existem revistas de BD portuguesas, impossibilitando remuneração fixa para os autores, a criação de escolas e estilos de BD, e uma contínua formação dos leitores, fortalecendo o hábito da leitura de banda desenhada.

O atual movimento das “novelas gráficas”, que renovou o interesse pela banda desenhada em países como a Alemanha, ainda não trouxe mudanças significativas na oferta e na procura portuguesas. Tudo somado, os atuais leitores de banda desenhada ficam a dever bastante aos leitores da revista Tintin, e, antes desses, aos leitores d’O Mosquito.

 

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