O Cartaz Internacional da Comic Con 2015

O facto de a Comic Con Portugal ser um evento puramente comercial, e em que a banda desenhada aparece diluída na chamada cultura pop, não deve desviar a nossa atenção dos pontos fortes do evento.

Os convidados internacionais ligados à banda desenhada, para a edição 2015, são: Brian Azzarello, Juan Diaz Canales, Eduardo Risso, Ruben Pellejero, Miguelanxo Prado, Carlos Pacheco, Juan Cavia, Yves Sente, Javier Pulido e Iouri Jigounov. Entre os portugueses, para além do The Lisbon Studio, destaque para os argumentistas André oliveira e Filipe Melo.

Convenhamos que é o melhor cartaz do ano em Portugal, legitimamente capaz de justificar uma visita ao evento.

Parece-me também de saudar o facto de a Comic Con repetir o convite a Miguelanxo Prado, não recorrendo ao fácil critério de não repetir o convite a autores estrangeiros de grande prestígio apenas porque “já vieram”.

São boas pistas de reflexão para a Amadora, a cidade que promove o mais prestigiado festival internacional de banda desenhada que se realiza em Portugal.

Estranhamente, nos últimos anos a Amadora deixou de apostar neste tipo de motivo para visita. Para encontrarmos um cartaz tão forte e diversificado num Amadora BD, temos de recuar pelo menos até 2008, ano em que comissariei a exposição central (com Claude Moliterni), e em que os convidados internacionais incluíam Lee Hong (Hong Kong), Tanino Liberatore (Itália), Dave McKean (Inglaterra), Pat Mills (Inglaterra), Tara McPherson (EUA), Esteban Maroto (Espanha), Kevin O’Neill (Inglaterra), Maurício de Sousa (Brasil), Zoran Janjetov (Sérvia), Cyril Pedrosa (França), Mathieu Sapin (França), Jean-Claude Denis (França), Julio Ribera (Espanha), Fábio Civitelli (Itália), Marco Bianchini (Itália), Jean-Pierre Dionnet (França) e o próprio Claude Moliterni. Nem todos estavam representados nas exposições, sendo que estas também tinham muitos motivos de interesse para lá dos autores presentes: a primeira grande mostra dedicada a Oesterheld em Portugal, e originais de Alex Raymond, Moebius, Druillet, Mézières e tantos outros. Para quem se lembra, havia até uma modestíssima mostra sobre Star Wars, evidenciando que a cultura pop estava um bocadinho longe de casa.

Essa edição de 2008 corresponde à minha noção do que é uma grande festa da banda desenhada, uma noção que não coincide com a linha editorial que tem sido definida e seguida nos últimos anos no AmadoraBD (e que também não coincide com o modelo da Comic Con, claro). As sucessivas reduções orçamentais não explicam tudo. Está sobretudo em causa uma opção ao nível da programação.

Pessoalmente, discordo da opção de apenas convidar autores ligados ao tema central ou em destaque através de exposições. Reconheço que o convite a autores estrangeiros deveria ser, em primeira linha, uma responsabilidade de editores e livreiros (em Angoulême, os autores convidados do festival costumam ser uma meia dúzia, enquanto que os editores convidam centenas de autores), mas parece-me que, ao nível da programação, o festival deveria ter a preocupação de garantir a presença de alguns grandes nomes em cada edição. Preferencialmente, deveria mesmo procurar assegurar, pelo menos, um grande nome da BD francófona e um grande nome da BD britânica ou norte americana em cada fim de semana, mantendo ainda a preocupação de apresentar os maiores nomes de expressão portuguesa. Assim, também os autores podem funcionar como forma de garantir que as pessoas façam mais do que uma visita a um festival que decorre durante 17 dias.

O momento atual com grande número de novidades editoriais justifica esta aposta, como creio que a Comic Con, com todos os seus defeitos, vai demonstrar.

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2 Comments

  1. says: Cesário

    “Preferencialmente, deveria mesmo procurar assegurar, pelo menos, um grande nome da BD francófona e um grande nome da BD britânica ou norte americana em cada fim de semana.”

    Infelizmente o Comic Com parece partilhar das opções do AmadoraBD, visto que todos os convidados internacionais são Espanhóis (ok,o Azarello não é.).

    Parece-me cada vez mais que o Comic Com está feito para atrair espanhois e não portugueses.

  2. says: Sr B

    Esta anunciado Yves Sente (Belga) ainda que na nota de imprensa já não está. Amais de Azzarelo (americano), Risso e Cavia (argentinos), Snejberg (Dinamarqués), Sana (japonês).

    E verdade que há grande presença espanhola (provavelmente a crise obriga) e também há que ter em conta que sem chegar a ser a bd franco-belga o sector dá bd na Espanha ten grandes autores.

    Gostaria concretizar neste momento que há dois autores Galegos, Miguelanxo e José Domingo, e que Galiza tem alma e portuguesa, ainda que legalmente não ou seja ;(

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