Beja com sabor a Brasil

Ecléctico, foi este o termo que Paulo Monteiro usou – e bem! – para descrever o X Festival Internacional de BD de Beja, na sua abertura.

Ecléctico, foi este o termo que Paulo Monteiro usou – e bem! – para descrever o X Festival Internacional de BD de Beja, na sua abertura.

O festival que está a decorrer desde dia 31 de Maio, até 15 de Junho, apresenta uma selecção variada de autores dando a conhecer aos visitantes um espectro vasto de obras, desde de alguns dos autores mais consagrados até aos de jovens desconhecidos a dar os primeiros passos.

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Como tem sido habitual, o primeiro fim-de-semana do festival é o escolhido para apresentações e lançamentos contando com um vasto número de autores presentes. Foi o que sucedeu este ano também, este artigo é centrado no sábado, e em breve existiram mais alguns artigos referentes aos restantes dias, e a exposições em particular. Não será possível um detalhes exaustivos de todos os eventos que decorreram no festival, já que a programação é vasta, mas tentaremos dar uma ideia o mais vasta possível deste primeiro fim-de-semana e das exposições que ainda se vão manter patentes até ao fim da festa alentejana da BD.

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Num dia que contou com apresentações e debates com nomes como David Lloyd (Reino Unido), Étienne Davodeau (França) e os filhos de Guido Crepax (Itália), o país convidado acabou por ser o Brasil, com 5 autores presentes incluindo o popular Laerte.

A América Latina também esteve representada pelo mexicano Tony Sandoval, que tem exposição patente na casa da Cultura, e esteve em Beja para o lançamento do seu mais recente trabalho, Serpentes de Água, editado pela Kingpin Books. Esta já não é a primeira visita do mexicano a Portugal, sendo que é provavel que se torne presença regular em eventos em Portugal, já que foi divulgado que o seu próximo álbum (onde só é argumentista) será também editado pela Kingpin Books, no próximo ano.

Não faltaram também lançamentos de obras nacionais como Tiras do Baralho! editado pela El Pep, e que foi apresentada por André Oliveira e o editor, que se enfrentou adversidades inesperadas para passar a mensagem gravada do desenhador ausente! Embora no fim tenha sido possível aos presentes ver a mensagem gravada por Pedro Carvalho, que não pôde estar presente.

O hiperactivo André Oliveira regressou mais tarde, na companhia de Joana Afonso, para apresentar o segundo número de “Living Will”. Os autores que me desculpem, mas como já falamos tanto desse mini-comic por aqui, e ainda vamos falar de novo, não compareci…

ainda bem que este livro foi importante para ti… e para a Chili.

Marcos Farrojata confundiu a sessão de lançamento de Terminal Tower, de André Coelho e Manuel Neto com uma sessão de apresentação da colecção CCC da Chili Com Carne. Contudo ainda houve tempo para os autores falarem sobre o seu trabalho, que também se encontra em exposição na Casa da Cultura, e sobre o qual voltaremos a falar em breve.

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Fernanda Abreu dizia que o Rio era o “Purgatório da beleza e do Caos”, realçando a dualidade da metrópole brasileira que é o reflexo de um país de contrastes. Os dois dedos de conversa, aptamente intitulados de “Cena HQ” (Histórias aos quadradinhos) contaram com a presença de 4 autores com obras, percursos de vida, e diferentes cantos de um pais vasto na sua dimensão.

André Diniz começa a ser um dos autores brasileiros mais publicados em Portugal, e uma aposta da Polvo que  tinha reservada para o Beja o lançamento não anunciado do seu álbum 7 vidas (Diário de Vidas Passadas), que conta com arte de António Eder.

Laudo Ferreira é a mais recente estreia brasileira em território nacional, tendo o seu álbum Yeshuah – Onde Tudo Está sido lançado pela Devir durante o sábado. Sendo um desconhecido por cá, já tem longo currículo no Brasil onde participou da cena de fanzines na década de 1980 e adaptou para a banda desenhada o filme “À meia-noite levarei sua alma”, de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Sendo também o autor Histórias do Clube da Esquina e adaptado o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

José Aguiar publica no Brasil, através de seu selo editorial: Quadrinhofilia, as séries Folheteen e Vigor Mortis Comics, mas o seu currículo inclui outros trabalhos como Ato 5, Revolta de Canudos e Dom Casmurro. Em França ilustrou a série Ernie Adams para as Éditions Paquet e em Portugal fez capas da série C.A.O.S da Kingpin Books. Para além de autor/editor é também um dos criadores de Cena HQ (evento de leituras dramáticas de bandas desenhadas no teatro), e da Gibicon – Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba.

Klévisson Viana colocou o Pedro Mota a escrever em sextilha e vendeu 600 mil exemplares do Lampião. É também poeta de cordel e editor, e merecia que eu lhe dedica-se mais do que duas linhas.

São 4 pontos de vista distintos que permitiram ficar a conhecer,  um pouco melho, do que é o vasto universo da banda desenhada brasileira. À  noite havia um quinto ponto de vista, do mais veterano autora da comitiva brasileira em Beja. Ana de Freitas recebeu para Dois Dedos de Conversa Laerte Coutinho, o veterano Laerte de Piratas do Tiête, que já leva 40 anos de carreira. Por terras de Vera Cruz a vida pode ser complicada, mas por lá o mercado sempre vai mexendo e, mesmo com contrariedades, os autores vão conseguindo desenvolver um carreira e uma obra.

“Portugal devia olhar para o mar, e não para França”, a frase pertence a Jô Oliveira e foi citada por Pedro Mota numa crónica sobre o intercâmbio luso-brasileiro que o AmadoraBD tem promovido e, cujo bom exemplo também se verifica em Beja.

No AmadoraBD 2013 existiu a colectiva “Seis esquinas de inquietação” que incluía, entre outros, trabalhos André Diniz e Pedro Franz – cuja entrevista foi finalmente publicada! – este ano em Beja temos em exposição o trabalho de 5 autores, existindo um repetente: André Diniz, que também já foi entrevistado por aqui.

É um intercâmbio salutar, não só para o publico português descobrir os autores brasileiros, mas também para permitir que estes descubram o autores nacionais como José Smith Vargas, prémio Geraldes Lino 2014, cuja obra em exposição causou boa impressão na comitiva brasileira.

Como este texto já vai longo, deixem-me só destacar a cenografia de duas exposições: As Aventuras de Zé Leitão e Maria Cavalinho, de Pedro Leitão e O Universo Disney de Fábio Pochet. Os originais nestas duas exposições, que partilhavam a mesma sala, davam pela cintura dos visitantes adultos, o que os obrigava a terem de olhar para baixo ou agacharem-se para ver o trabalho dos autores, contudo esse facto colocava as pranchas ao nível de visão do público alvo destes autores: as criança.

É um pequeno pormenor que sem abdicar da sobriedade, e tratando Pedro Leitão e Fábio Pochet, com o mesmo respeito que os restantes autores, transformou aquele espaço numa exposição para crianças sem ter de recorrer a outros artifícios. Naquele espaço, os mais pequenos podiam ver as exposições sem terem de se por em bicos de pés!

Ecléctico, é mesmo a melhor palavra para descrever o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, que transforma a cidade alentejana na capital da BD portuguesa por 15 dias, apresentando uma vasta selecção de autores nacionais e estrangeiros que permite apreciar a diversidade desta arte bastarda, a que chamamos de banda desenhada.

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