A vez de Coimbra

Coimbra tem uma forte ligação à banda desenhada. É a cidade dos argumentistas, divulgadores e investigadores João Ramalho Santos e João Miguel Lameiras, da extinta editora Witloof, e da loja Dr. Kartoon.

No âmbito da Coimbra 2003 – Capital Nacional da Cultura (CCNC), foi apresentada a exposição “Coimbra na Banda Desenhada” (com um magnífico cartaz da autoria de François Schuiten), no Museu da Física da Universidade de Coimbra (um dos cenários do álbum “O Segredo de Coimbra”, do belga Étienne Schréder), fazendo um inventário das referências àquela cidade na banda desenhada internacional (do professor Pedro J. dos Santos de “A Estrela Misteriosa”, até à passagem de Michel Vaillant em “Rallye em Portugal”) e nacional.

Faltava, depois daquele evento episódico de 2003, um evento que colocasse a cidade no roteiro nacional dos acontecimentos ligados à celebração da banda desenhada. É essa a nova aposta da Câmara Municipal de Coimbra que, de 3 a 6 de março, promove a Coimbra BD – Mostra Nacional de Banda Desenhada.

O evento será apresentado na Casa Municipal da Cultura, e pretende, a par da divulgação da banda desenhada, promover outras formas de linguagem, como a ilustração, o cinema e os videojogos.

Embora ainda não seja conhecido o programa definitivo do evento, anuncia-se que incluirá venda de livros, revistas e outras edições de banda desenhada, material de merchandising, exposições de desenhos originais e de estatuetas BD, apresentações de obras, documentários, filmes de animação, tertúlias com autores e sessões de autógrafos.

Naturalmente, Coimbra merece integrar também o roteiro dos eventos nacionais dedicados à banda desenhada, e tem especialistas, como os já referidos João Ramalho Santos e João Miguel Lameiras que têm refletido sobre a organização deste tipo de eventos, podendo contribuir para que esta edição do próximo mês de Março seja a primeira de muitas, e para que Coimbra traga mais algum fator de diferenciação ao panorama português (para além do termo “mostra”), desde logo por – de forma realista e muito positiva – concentrar o seu esforço numa dimensão “nacional”, que, apesar de tudo, tende, nos últimos anos a ser ignorada entre os esforços mais ambiciosos (internacionais) ou menos ambiciosos (regionais).

Considerando a banda desenhada à escala nacional, numa perspetiva integrada, há muita coisa por fazer. É uma dificuldade que o Clube Português de Banda Desenhada, também ele com vocação nacional, tem sentido. Algumas experiências desenvolvidas pela Amadora, como o Dicionário de Autores (1999), o balanço do panorama português feito no âmbito do AmadoraBD (2002) ou o Catálogo de Autores (2003), não tiveram continuidade nem atualização. Faltam espaços que definam o enquadramento do que é a BD portuguesa hoje, e a Coimbra BD pode ser um bom contributo.

Tal como um dia Miguelanxo Prado afirmou na Amadora, a concepção de um festival de banda desenhada representa quase sempre uma opção política (local), sem qualquer relação certa com a vida cultural do país em causa. Por isso Prado chama “miragens” aos festivais, considerando-os como realidade virtual.

Esperemos que Coimbra consiga chegar mais além.

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