A ideia parece um pouco estranha, mas é exemplarmente fundamentada quando a vereadora explica que o festival de BD não é um festival destinado a um determinado público-alvo, mas que é antes um festival para todos, e que todos o devem sentir como deles.
A promoção de Beja é, nesse sentido, a promoção de todas as suas freguesias. Seguindo ainda as palavras da vereadora Sónia Calvário, o festival internacional de banda desenhada de Beja promove a cidade e potencia aquilo que é a própria coesão social e territorial, e o turismo cultural que vem registando algum desenvolvimento na região bejense.
Sem falar no nome de um único autor (o que deixou para o diretor do evento, Paulo Monteiro), a vereadora da cultura de Beja mostrou que compreende o que é o festival e, mais do que isso, que o executivo municipal tem um projeto onde o mesmo se integra, dando-lhe um sentido.
Cabe a Paulo Monteiro, diretor do festival e responsável pela programação, concretizar esse projeto de acordo com a orientação desse sentido.
Nesta décima primeira edição, essa concretização assenta em duas linhas fundamentais, bem sublinhadas por Paulo Monteiro na referida apresentação do evento: em primeiro lugar, assegurar uma oferta para todos os gostos. O festival só é para todos (e todos só podem senti-lo como deles) se se identificarem com parte da oferta. Paulo Monteiro não fica pelos autores consagrados em termos de popularidade (Luís Louro ou Ted Benoit), apresentando autores menos conhecidos do grande público e propostas alternativas (mais uma vez, tanto portugueses como estrangeiros). Em segundo lugar, esta edição do festival volta a celebrar um autor de Beja: André Pacheco, distinguido com o Prémio Geraldes Lino 2015, e permitindo relançar a coleção Toupeira com um oitavo número que apresenta “Purgatório”, da autoria do referido André Pacheco. O regresso da Toupeira, num ano em que se completam dez anos sobre o primeiro número da coleção (“Bófias” de Vete), é uma concretização extraordinariamente importante para a BD nacional.
Mas no final de mais esta edição do festival internacional de banda desenhada de Beja, não restarão dúvidas de que, a par da banda desenhada, Beja sai vencedora, e com a consciência de que vale a pena integrar a BD no seu projeto de cidade. Naturalmente, há sempre mais por fazer. Não se sabe, por exemplo, em que medida é que as freguesias aderem a esta intenção de ligação, mas há que criar condições para que a toupeira continue a agitar a planície, e há que valorizar o projeto e o sentido definidos, ou o facto de o executivo camarário ter herdado um festival de BD com história, e ter sabido dar-lhe continuidade por mais do que simples obrigação.
É um exemplo a seguir noutros pontos do país.