Os Galardões Da Galáxia

Mário Freitas, Melo Melowski, Nuno Amado e Pedro Cleto  vestem a pele de quatro mercenários duma galáxia distante, forçados a juntar forças para fugir da prisão que os Prémios Nacionais de Banda Desenhada lhes parecem representar, e acabam por se ver no meio duma confusão de dimensões cósmicas. Eles são… os Galardões da Galáxia!

Para quem já começava a desesperar, pensando que o verão de 2015 não conseguia produzir uma pérola de silly season bedéfila, aí estão os Galardões BD!

Eles são exactamente o que a BD nacional não precisava: uns prémios com designações criticáveis para serem atribuídos cerca de um mês após a atribuição dos prémios com designações criticáveis instituídos pela Amadora. Agora é que não vamos caminhar na direcção de um verdadeiro mercado!

Nos galardões de BD, as editoras não têm de enviar seis exemplares do livro de BD que pretendem ter como concorrente, mas ficam aparentemente obrigadas, se um livro por elas publicado for premiado como álbum do ano (mesmo que nem queiram ser candidatas) a “divulgar durante um ano o galardão atribuído, através, nomeadamente, da colocação no livro em questão de cinta ou autocolante identificativos do Galardão atribuído, de acordo com design a fornecer pela organização”. Pessoalmente, acho que esta ingerência pouco democrática podia ter ido mais longe, obrigando, por exemplo, os leitores de BD a comprar um exemplar do livro no mesmo espaço de um ano, ou os críticos a só dizer maravilhas do livro no mesmo espaço de tempo.

Os galardões assumem-se na continuidade dos Prémios Profissionais de Banda Desenhada (PPBD) que, para além de completamente irrelevantes, foram um fracasso face aos objetivos que se propuseram. Seria então de esperar que o modelo pelo qual são instituídos os galardões permitisse resolver alguns dos problemas que os PPBD não conseguiram solucionar. Mas não. Veja-se, por exemplo, que os PPBD pretendiam contribuir para a edição de BD nacional no estrangeiro, mas os galardões vêm premiar a edição de obra estrangeira em Portugal.

Por outro lado, depois da ruptura que os PPBD anunciavam relativamente ao modelo dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada instituídos pela Amadora, os galardões apresentam apenas três diferenças em relação a estes: o júri é mais numeroso, as categorias são menos e incluem a novidade da criação de curtas de BD, e o galardão do ano (melhor álbum nacional, que só não se chama assim para não se confundir com a Amadora) dá lugar a um prémio monetário de € 2000 aos autores, numa espécie de mistura de Prémios Nacionais de Banda Desenhada com o Concurso Nacional de Banda Desenhada da Amadora. As notas de divulgação acrescentam que os dois mil euros são um “valor a confirmar contabilisticamente”, o que levanta muitas questões: quem são os autores do álbum? Inclui o colorista? O legendador? De que maneira se reparte a verba entre diferentes autores?

Convenhamos que os galardões são uma das ideias mais mal pensadas da história da BD portuguesa. Felizmente, aparecem associadas ao evento Comic Con Portugal, onde se alugam zombies para arrastar presos por uma cordinha e há paradas de soldadinhos de Star Wars, e, portanto, não há o risco de os galardões desacreditarem mais o panorama português da banda desenhada.

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