Enquanto se preparam os últimos detalhes para a aberturas deportas da 26ª edição do AmadoraBD aos visitantes, Nelson Dona, o seu director, serviu de guia à visita da imprensa pelos bastidores do núcleo central do festival internacional de banda desenhada da Amadora. Esta visita ao Forum Luís de Camões, na Brandoa, permitiu uma antevisão do festival organizado e financiado pela Câmara Municipal da Amadora que, ao longo de mais de um quarto de século,se tornou num evento cultural de referência para banda desenhada nacional com projecção internacional.
Nelson Dona, director do Festival, e António Moreira, vereador da culturaO tema da edição deste ano é A Criança na BD. Comemora o centenário dos personagens Quim e Manecas, criadas por Stuart de Carvalhais, e que representam para a banda desenhada europeia “uma vanguarda absouota”, de acordo com o director do festival. É uma obra considerada por alguns historiadores como o elo de ligação que faltava entre a BD anos 10 e a dos anos 20 do século XX, sublinhando que os elementos utilizados para definir o que é banda desenhada contemporânea já se encontravam presentes na obra deste autor português, realizada a partir 1915.
Devido a este “centenário de vanguarda, tão importante para comemorar”, cujos protagonistas são crianças, a organização decidiu realizar um trabalho centrado em todas as crianças que protagonizam histórias de banda desenhada. Ao mesmo tempo homenageia um autor português que mantém hoje importância em termos gráficos e “narrativos”.
A cenografia do Forum Luís de Camões foi concebida como alusão à imaginação infantil, reflectindo a forma como as crianças foram vistas ao longo da história da banda desenhada.
A Câmara Municipal da Amadora desafiou a equipa de arquitectura a encontrar “formas baratas, expeditas, – fáceis de montar e desmontar mas sendo interessantes do ponto de vista plástico”, a equipa de projectistas decidiu trabalhar com cartão no evento, sendo “um elemento muito usado ao longo de todo o festival”.
As crianças também protagonizam reflexões profundas
Este ano o festival realizou uma parceria com a Unicef, , com o intuito de trabalhar a questão da carta dos direitos da criança, assinada em 20 de Novembro de 1959. O festival mostra diferentes visões do que é ser criança através das personagens infantis, reflectindo a sua evolução temporal. Contudo, a exposição comissariada por João Paiva Boléo e Pedro Moura, não se encontra organizada por ordem cronológica, mas por ordem temática.
Os personagens do seculo XX e XXI cruzam-se em espaços dedicados às tropelias e à vida familiar, seguindo-se um núcleo dedicado a três séries fundamentais do século XX que revelam a maturidade da ideia de criança na BD: Peanuts, Mafalda e Calvin e Hobbes. Apesar de não contar com originais de Bill Waterson, este núcleo apresenta uma reproduções “que são facsimiles, autorizados pelo próprio autor, [um] processo que do ponto de vista logístico e jurídico foi uma carga de trabalhos”, de acordo com organização.
A exposição A Criança na BD apresenta também diversos originais de Little Nemo de Windsor Mckay, Peanuts de Charles M. Schulz , Hergé, Franquin e Maurício de Sousa, provenientes de diversos museus e coleccionadores privados do mundo inteiro.
Para além das pranchas originais, algumas das quais, de acordo com Nelson Dona, ”são muito raras mesmo”, irão estar em exibição algumas publicação igualmente raras Aqui o destaque irá para aquelas que foram publicadas durante os períodos da primeira e segunda guerra mundial, uma época em que o papel era particularmente frágil e, tal como as tintas, escasseava. São publicações dos mais diversos formatos que permitem conhecer a evolução dos processos de publicação da própria banda desenhada.
Uma fundação de crianças
Nesta edição dedicada às crianças estas também terão obras expostas, através da exposição Os quadrinhos da Fundação Casa Grande
A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri é uma ONG cultural e filantrópica fundada em 1992 em Nova Olinda, em Cariri do Ceará, uma cidade brasileira degradada com graves sociais sociais graves de exclusão social e de de pobreza geracional. Com o intuito de mitigar estas problemáticas, a fundação realiza um trabalho que visa dotar as crianças com competências extra-curriculares em diversas áreas artísticas, como os quadrinhos (banda desenhada) que, normalmente, são baseados na própria cultura local e identidade dos habitantes daquela região. Desenvolvem também trabalhos na área do cinema, dinamizando uma rádio e uma televisão que são administradas por crianças, numa perspectiva pedagógica de aprender brincando
Como curiosidade salienta-se que a directora do museu da fundação tem 11 anos, tendo iniciado o seu mandato com sete anos. O director da gibiteca (bedeteca) tem 17 anos, e vai deixar o cargo em breve porque irá fazer 18. O seu lugar será ocupado por outra criança, enquanto passando este a ser formador. A biblioteca (de literatura) tem como directora uma menina de sete anos, e o director do teatro tem só quatro anos.
A exposição patente no Fórum Luís de Camões apresenta trabalhos de dois autores de 16 e 15 anos, Filipe Silva e Tainara Menezes.
A Batalha de Pedro Massano
Vencedor do Prémio Nacional de Banda Desenha para Melhor Desenho Nacional em 2014, Pedro Massano será também homenageado pela Câmara Municipal da Amadora com Troféu de Honra da cidade, sendo o único autor com uma exposição individual no piso zero do Fórum.
A exposição apresenta originais e estudos preliminares de A Batalha – 14 de Agosto de 1385, o álbum premiado no ano transacto, trabalho desenvolvido durante sete anos, três dos quais dedicados a pesquisa e investigação e os restantes a desenhar.
Pedro Massano, para além de autor de BD, também tem desenvolvido trabalho académico deinvestigação e teorização. Um dos primeiros autores portugueses a escrever sobre banda desenhada, é autor de um dos primeiros manuais de como fazer BD, editado em Potugalno final do século XX. Representante da BD portuguesa “realista” de carizhistórico-didático que marcou uma época da BD nacional, iniciou a sua carreira na revista Visão. Esta marcante revista de ruptura, editada por Vítor Mesquita no pós 25 de Abril de 1974, publicou números.
Sobre o autor e a sua obra podem ler a crónica que o comissário desta exposição, Pedro Mota, lhe dedicou a semana passada.
Carrocel de autores na área comercial
Ao contrário do que é usual, este ano a área central encontra-se no piso zero do Forum Luís de Camões com uma uma versão mais “abstracta”, um carrocel colocado “ao centro e no fundo”, para os os autores realizarem as sessões de autógrafos. A organização pretendeu “brincar um bocadinho com a ideia de feira popular”, um elemento “que tem muito a ver com o universo de Quim e Manecas”, e com a década de 1910, conceito que também foi inspiração para o cartaz desta edição.
Na área comercial vão estar presentes as editoras e livrarias Babel, Chili Com Carne, Devir, Dr. Kartoon, JJ, G. Floy, Kingpin Books, Leya, Levoir e Polvo.
Do auditória ao Ano Editorial
A área central do piso -1 do fórum é ocupado pelo auditório e a exposição O Ano Editorial 2014-2015.
O auditório desta edição é completamente diferente daquele que existiu na última edição do evento. As alterações que se verificaram foram realizada com o intuito de facilitar a entrada e saída de visitantes, de modo a que não se sintam constrangidos. Como indicou Nelson Dona, “é uma característica portuguesa não participar muito nos colóquios, ter vergonha de fazer perguntas”,pelo que a organização promove esse aspecto do festival através de uma área maior e mas descontraída.
O festival existe em primeiro lugar para mostrar as novidades, para confrontar as novidades, para confrontar artistas e daí nascerem novos projectos.
Foi deste modo que Nelson Dona introduziu a exposição do Ano Editorial, onde vão estar presentes um obras editadas entre a última edição do festival e a actual. É um número elevado, reflectindo um mercado que – como indicou Sara Figueiredo Costa, co-comissária da exposição com Luís Salvado – está em crescimento, um pouco em contra-ciclo com a realidade nacional no geral e, em particular, no mercado da edição do livro.
A banda desenhada, a nível de edição, está a funcionar um pouco ao contrário do mercado, em geral, dos livros que depois de uma fase de boom decresceu. Enquanto existiu esse [crescimento do] mercado generalista a [edição de]banda desenhada esteve muito retraída, agora que estamos em crise – nomeadamente no sector do livro – a BD, em termos de edição, voltou a crescer em Portugal.
Este último ano confirmou tendências que já vinham de anos anteriores. Registou-se um aumento de títulos publicados sobretudo por editoras de pequena e média dimensão. Já as editoras generalistas têm sido mais conservadoras, seguindo uma estratégia de edições pontuais.
Para além da edição de autores estrangeiros, as pequenas e médias editoras de banda desenhada, como a Polvo ou Kingpin Books têm vindo a desempenhar um papel muito importante na edição de autores portugueses, a qual tem vindo a crescer de modo sustentado.
A exposição irá também dar destaque a outra faceta da edição que nos últimos anos tem sido importante para o crescimento do mercado de BD em Portugal: as colecções de BD publicadas com jornais, como a colecção da Novela Gráfica e Poderosos Heróis Marvel, editadas pela Levoir e o jornal Público, e a colecção Ric Hochet, editada pela Asa também em parceria com o Público.
São livros que não fazem o percurso normal dos livros que são editados para o mercado, não vão directamente para as livrarias, são vendidos em quiosque com o jornal, isso deu um folêgo imenso à edição de banda desenhada.
A banda desenhada infantil também irá estar em destaque, apesar de não ser considerada por Nelson Dona como “muito representativa em termos de número de edições, começa a ser um filão ao qual os editores dão uma atenção que já não se davam à alguns anos”. Os reflexos dessa aposta estão no surgimento de revistas de banda desenhada como a Winx, a defunta Simpsons Comics e as revistas da Disney, editadas pela Goody, como salientou a comissária e jornalista.
Títulos que são vocacionados para o público infantil ou juvenil e que voltaram a cumprir o papel que já à muito tempo não era cumprido por ninguém: disponibilizar banda desenhada para o público mais novo ler
A exposição irá ainda dar destaque às edições que existem na internet, quer às que só existem em formato digital quer às que têm edição impressa posterior.
Uma retrospectiva com pugilismo
Realizada em parceria com o Goethe Institut, a exposição O Pugilista + retrospectiva de Reinhard Kleist apresenta a obra do autor alemão, cujo primeiro álbum publicado em Portugal será lançado nesta edição do festival pela editora Polvo. O Pugilista narra a vida de Harry Haft, o qual “aos dezasseis anos de idade, é enviado para Auschwitz. Forçado a lutar contra outros reclusos, para diversão dos oficiais das SS, mostra extraordinária força e coragem e determinação para sobreviver.”
Reinhard Kleist irá estar presente no AmadoraBD para a apresentação do livro e sessão de autógrafos. Também estará no Musicbox para uma sessão de desenho ao vivo durante um DJ set com temas de Nick Cave e Johnny Cash.
O trintão do Monaco
Não podiamos deixar de estar nesta comemoração com Louro e Simões.
O Amadora BD associa-se às celebração do 30º aniversário do Jim Del Monaco com uma exposição retrospectiva onde poderão ser vistas pranchas originais do último álbum, bem como de outras histórias publicadas ao longo das suas três décadas.
Jim Del Monaco é uma série de oito álbuns, onde se cria todo um imaginário de uma personagem e um universo, o qual só estávamos (e ainda estamos) habituados a encontrar na BD estrangeira. O personagem criado por Louro e Simões foi um dos destaques, em 1992,na primeira edição em que o Amadora BD teve a designação de festival. As duas primeiras edições (em 1990 e 1991) foram designadas de Salão.
Apesar de o programa expositivo do festival já estar fechado em Junho, a organização do Amadora BD quis participar na celebração do aniversário de Jim Del Monaco. Uma série que “representa de facto um alteração grande na relação do público português com a sua BD”, embora sem ter tido o seguimento – por outros – que merecia para marcar mudança de paradigma, ao invés de ser só um caso isolado no sucesso, “formato” e longevidade.
Comic Jam
Esta exposição é dedicada à Tertúlia BD de Lisboa, criada por Geraldes Lino, que também celebra este ano o seu 30ª aniversário.
O título da exposição é derivado à comic jam realizada na tertúlia que, por norma, é uma BD de uma prancha com seis vinhetas. A primeira é da autoria do convidado especial e as restantes cinco são feitas outros cinco autores, criando uma BD colaborativa de improviso.
Vão estar em exposição 36 dessa colaborações, para além de estarem disponíveis para consulta outras que foram realizadas ao longo dos anos.
A exposição, comissariada por Bruno Caetano, inclui também os rabiscos em toalhas de mesas desenhadas nas tertúlias por diversos autores que por lá passaram ao longo dos anos, incluindo alguns bem conhecidos, e algumas publicações que tem sido editadas pela Tertúlia BD.
Para além da exposição de Pedro Massano, no piso, zero existem mais cinco exposições de vencedores dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada no piso -1.
Uma Oliveira prolífera
André Oliveira tem uma exposição retrospectiva com pranchas originais de vários dos ilustradores que têm colaborado consigo, incluindo Osvaldo Medina,que ilustrou Hawk , o álbum vencedor do prémio de Melhor Argumento em 2014.
O argumentista, que foi uma das razões para ir ao Festival internacional de BD de Beja, em Junho, é agora motivo para ir ao AmadoraBD 2015, edição do festival em que vai lançar mais três álbuns (Vil – A Tragédia de Diogo Alves, Tormenta e Milagreiro) e o quinto número do mini-comic Living Will.
As Insónias de Álvaro No Presépio
Álvaro, “um autor auto-didacta que se auto-edita”,que dispensa apelido apesar de o ter, é Santos embora de santo nada tenha. Foi graças ao humor pouco católico de No Presépio.., com argumento de José Pinto Carneiro, que venceu prémio de Melhor Álbum de Tiras humorísticas em 2014.
A exposição que lhe é dedicada inclui pranchas desse e de outros álbuns, os quais serão reeditados pela sua editora, Insónia, durante o festival.
O universo único de Sandoval
Apesar da obra de Tony Sandoval não ser recomendada para crianças, elas são um dos elementos que caracterizam os mundos oníricos e fantásticos do autor mexicano. Justifica-se assim como apropriada a presença da sua obra num festival em que as crianças são o tema. O destaque é fruto do prémio de Melhor Álbum Estrangeiro em 2014, pelo álbum As Serpentes de Água, editado pela Kingpin Books.
O mundo que uma criança cria
Escrito por Luisa Soares e ilustrado por Vera Tavares, Lôá Perdida no Paraíso foi o vencedor do prémio de Melhor Livro Infantil em 2014. É um conto “onde Deus é substituido por uma criança, uma menina, e que cria o mundo a partir de um lápis”. Nélson Dona considera que é capaz de “colocar questões espirituais que são universais, do ponto de vista humano, retirando toda a carga religiosa do ponto da reflexão teológica.”
Na Zona de Desconforto
Apesar de Marcos Farrajota, editor e presidente da Chili Com Carne considerar que “os prémios da Amadora são uma confusão total”, a editora e associação sem fins lucrativos marca presença com uma exposição colectiva dedicada à Zona de Desconforto, obra vencedora do prémio de Melhor Álbum Nacional em 2014
Apesar de não ter comentado as declarações de Farrajota, o director do festival sublinhou as polémicas que a atribuição do prémio suscitou no ano passado.
A polémica, advinda da ideia que o festival da Amadora nunca iria atribuir um prémio à Chili Com Carne, prova de que nada é impossível desde que a qualidade o justifique.
Labirintos e passagens secretas
No piso subterâneo do festival existem ainda as exposições dos concursos de BD e Cartoon, Concurso Municipal e Concurso de BD Escolhe Viver, dinamizados pela Câmara Municipal da Amadora e Iniciativa da AbVie.
O projecto de cenografia do AmadoraBD incluí “escadas cegas”, um escorrega, tuneis e passagens secretas , sitios “escondidos” que tem peças expostas e actividades mas, salienta Nelson Dona, “isso será algo que só as crianças ou quem quiser colocar-se no lugar de uma irá descobrir”. Também a elas dedicado é o espaço AmadoraBD Júnior, onde se realizarão ateliês infantis e oficinas com autores.
A dispersão de um festival
Em banda desenhada a obra de arte final é o livro, que o festival pretende promover.
Esta edição do AmadoraBD manteve o orçamento de 500 mil euros, valor que é afecto directamente à programação e produção de todo o festival, que conta ainda com “série de [outros] serviços que a Câmara também assegura”.
O director do Festival fez questão de salientar que cada vez mais o festival da Amadora não é só um festival só da cidade da Amadora mas, também, da área metropolitana de Lisboa.
Já não era à muito tempo pelos visitantes, é um festival que é visitado principalmente por pessoas de toda a área metropolitana e, dentro de toda a área metropolitana, por mais pessoas da cidade de Lisboa do que da cidade da Amadora.
Esta relação da área metropolitana com a cidade da Amadora realiza-se através do festival e em muitos casos não se faz em mais nenhum condição. E cada vez mais o festival, a Amadora, está presente fora de portas.
O festival está presente na Bedeteca na Amadora, na Galeria Municipal Artur Bual (Casa Aprígio Gomes) onde decorre o Amadora Cartoon, Biblioteca Camões, Casa da Cerca (Almada), Estações Ferroviárias do Cais sodré, Benfica e Agualva-Cacem. O programa inclui também a exposição Lisbon Calling, a qual inicia na residência do embaixador dos Estados Unidos, apenas para alguns convidados e jornalistas, mas estará patente ao grande público no Ponto das Artes, na LX Factory.
Nélson Dona não considera que esta dispersão do festival por diversos locais possa retirar impacto ao núcleo central, no Fórum Luís de Camões, tendo defendido esta opção estratégica – de há vários anos – da Câmara Municipal da Amadora, que é muitas vezes criticada.
[Esta opção] permite por um lado que as pessoas que não estão tão atentas ao festival ou que, por alguma razão, não estão tão disponíveis para vir à Amadora [possam] ver essas exposições de banda desenhada em outros sitíos; por outro lado o espaço no Fórum Luis de Camões (como em ou outro local qualquer) é em si mesmo finito. Existe ainda outra coisa, do ponto de vista museugráfico, está estudado que é a capacidade de uma pessoa de reter informação num determinado local.
Portanto, nós aqui estamos no limite da capacidade de um ser humano normal ver exposições e, como sabem este festival não se vê (no forum) numa hora. As pessoas precisam de tempo e algumas das pessoas precisam de vir cá mais do que uma vez, o que é óptimo.
O director do festival salientou também que existem exposições de referência, -como a Ricardo Cabral (Viagem desenhada em Almada) e Richard Câmara (El Cuadernista: notas de um quotidiano entre Lisboa e Madrid na Biblioteca Camões), autores que já estiveram em destaque no AmadoraBD, e ”não faria sentido, tão depressa, repetir esses autores aqui na Amadora, mas faz todo o sentido levá-los a outros espaços para que[outras] pessoas tenham contacto com esses autores, e a partir daí até terem vontade de descobrir outras coisas aqui na Amadora.”
Mas não são só autores nacionais que ficam de fora do núcleo central do AmadoraBD, o grande nome internacional desta edição do festival também se encontra em outro núcleo do evento.
A Grande Guerra de Tardi
[Um] autor chave para perceber esta desumanidade que foi a primeira guerra mundial.
A exposição Putain de Guerre – A Guerra das Trincheiras de Jaques Tardi é realziado num contexto mais alargado, tendo surgido na sequência das celebrações do centenário da Primeira Grande Guerra, às quais a Câmara Municipal da Amadora se associou com uma grande exposição – Portugal e a Grande Guerra. Patente até 11 de Novembro na Academia Militar da Amadora, é realizada em parceria com a Academia Militar, Assembleia da República e o Instituto de História Contemporânea.
A exposição de Tardi é dedicada a dois álbuns sobre a primeira guerra mundial, tendo a Câmara Municial da Amadora optado por a exibir em conjunto com a exposição Quim e Manecas vão à Guerra – Stuart Carvalhais na Bedeteca da Amadora – Biblioteca Fernando Piteira Santos, “um espaço em frente” à Academia Militar.
O trabalho de Tardi sobre a primeira guerra apresenta um “olhar sobre a vida dos soldados e não sobre as grandes movimentações militares ou os grandes estrategas, não ele olha para os soldados e para a sua vida absolutamente desumana “. A primeira grande guerra marcou o fim da relevância do confronto homem a homem, devido à à introdução de vários factores tecnológicos novos, dois deles que alteram tudo para sempre: as armas químicas e o avião, o qual alterou por completo todas as estratégicas militares.
A aviação militar portuguesa nasceu na Amadora, no local onde é actualmente a Academia Militar, que há época era o grupo de aviação Esquadrilhas da Marinha. AForça Aérea Portuguesa formou-se posteriormente, nos anos 50 do século XX. É na Academia Miliar que se realiza a exposição sobre a primeira guerra mundial, ficando as de BD sobre o tema localizadas na Bedeteca que, como Nelson Dona salientou, fica mesmo ao lado.
Jaques Tardi vai estar na Amadora para participar com Dominique Grange no espectáculo Putain de Guerre! – cuja tradução portuguesa é A Puta da Guerra! – nos Recreios da Amadora, no dia 24 de Outubro, sábado, às 21h30. Os bilhetes para o concerto custam 10,00€ comprados antecipadamente e 12,00€ na data do evento. As receitas reverterão a favor do Conselho Português para os Refugiados.
Apesar da presença do autor no espectáculo estar confirmada, a organização ainda não sabe se Tardi irá estar disponível para autógrafos. A vinda do autor é um facto a registar, uma vez que não costuma viajar e raramente está presente em festivais.
O Presente e o Futuro
Apesar de a edição deste ano ainda estar a ser ultimada, a organização já está a trabalhar em ideias e projectos para as edições dos próximos dois anos, com comissários nomeados, mas deixando sempre margem para situações – como a exposição de Jim Del Monaco – que possam surgir e ser concretizados, com uma menor antecedência.
A 26ª edição do festival internacional de banda desenhada da Amadora abre as portas – no Fórum Luis de Camões, na Brandoa – na sexta-feira, dia 23 de Outubro. Os bilhetes para as crianças até aos 12 anos são gratuitos, o bilhete normal tem um custo de 3€ e o bilhete para estudantes, reformados e pensionistas custa 2€.