No quarto volume de Naruto por Masashi Kishimoto, o autor mantém o equilíbrio entre luta, drama e comédia, unindo-as numa espécie de degradé que permite ao drama introduzir-se na tensão trágica do conflito físico, com um toque ligeiramente cómico na arte a impedir uma carga dramática excessiva. O inverso é igualmente verdade, com uma violência cómica a resvalar para a tensão e perigo antes de surgir novamente o drama, como uma sombra da comédia.
Estes elementos ajudam a tornar quer o arco que culmina neste volume (a luta pela ponte que representa a independência e sucesso do País das Ondas), quer o arco que se inicia (a introdução aos temíveis exames ninja chunin), numa leitura dinâmica que ultrapassa os óbvios estereótipos de uma obra dedicada a jovens adolescentes. Indo além da estrutura do argumento e do seu desenvolvimento, as próprias personagens, que podem ser diminuídas a personagens-tipo nomeadamente nos momentos de comédia caricatural, demonstram momentos de desenvolvimento pontuais mas consistentes deixando o leitor investido na maturação futura das personagens.
O autor mantém o traço detalhado e consistente, utilizando o branco e preto com equilíbrio, e a arte continua a focar-se nos grandes planos das expressões faciais ou corporais e do cenário para ajudar a narrar a história, criando tensão e movimento capazes de permitir ao leitor inserir-se na narrativa. O diálogo alia-se à arte, e devo dar os parabéns à tradução que torna as personagens tão reais impedindo a teatralidade dos diálogos de parecer algo forçada ou de ter um tom “estrangeiro”. A capa, porém, não é das melhores, criando a ideia de algum desleixo ou pressa, quer na cor como no desenho, quando comparada com a contracapa.
Neste volume, as grandes temáticas são, como de costume, a rivalidade e necessidade de evolução na arte do combate, a procura infantil de “ser o melhor”, que cai quando o peso da realidade retira o encanto das fantasias, como no sacrifício de Sasuke pela vida de Naruto. Mas, o peso moral de todas as acções está sempre presente, tornando todas as lutas mortais em lutas morais: serão a vingança cega e a fúria capazes de enfrentar o sentido de justiça e honra? E é esta mesma temática que mais profundamente é explorada neste volume, os sacrifícios e lealdade que advêm dos sentimentos mais fortes, conjugados com a honra de um ninja, cujo trabalho exige a ausência de quaisquer sentimentos.
Mesmo no início do segundo arco deste volume, que alivia a tensão dramática do arco anterior retornando à narrativa caricatural e à obsessão por “ser o melhor”, é a lealdade de Sasuke para com o seu grupo, que Sasuke tanto despreza, que o leva a pressentir o dilema de Sakura e a elevar-lhe a moral.
Por último, gostaria de referir o volume físico: a qualidade média do material está em perfeita sintonia com o espírito da obra. Não se trata de uma obra de arte, mas sim de uma colecção longa que se espera que venha a ser publicada na íntegra com consistência. Gosto em especial que a leitura se faça da direita para a esquerda e que se mantenha a estrutura típica do mangá original.
Para concluir, um volume cativante cuja qualidade narrativa, que atinge o clímax na conclusão do arco no País das Ondas, enfraquece um pouco no final, quando o arco que se inicia introduz seis novas personagens, para não mencionar mais seis vistas só de passagem, todas elas misteriosas e antagonistas, antes de fechar apressadamente com um cliffhanger que supostamente deixará o leitor ansioso por pôr as mãos no próximo volume. Provavelmente, um adolescente poderá discordar desta avaliação, uma vez que estará mais focado nas lutas que se avizinham.
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A PONTE DO HERÓI
Autor: Masashi Kishimoto
Colecção: Naruto Vol. 4
Editora: Devir
Páginas: 184 a preto e branco
Formato: 126×190 mm
ISBN: 978-989-559-233-4
PVP: €9,99
Distribuição: Maio 2014