A Comic Con Portugal não vive só de autores de banda desenhada a trabalhar no mercado americano. Aproveitando a boleia de alguns autores espanhóis, a Comic Con Portugal confirmou a presença de um peso pesado da banda desenhada europeia, Miguelanxo Prado.
Auto retrato do autorPrado é um bem conhecido público português sendo presença regular em diversos eventos relacionados com cinema e banda desenhada, em especial no Salão de BD do Porto, onde foi presença regular quando a sua carreira ainda estava só no início. Formado em arquitectura, foi na faculdade que começou a publicar banda desenhada em fanzines começando no fanzine Xofre. Em 1989 começa a colaborar com as revistas El Jueves, Creepy, Comix Internacional e outras sem nunca largar os fanzines nos quais assina muitas histórias ao lado de míticos nomes como Das Pastoras ou Pasqual Ferry.
Em 1993 escreve e desenha o álbum Traço de Giz onde revela todo o seu talento sendo um sucesso da crítica e de vendas um pouco por toda a Europa ocidental ganhando, pela segunda vez o Prémio Alph-Art do Salão de Angoulême.
Na década de 90 dedica-se aos desenhos animados onde a sua arte abrilhanta a série Men In Black produzida por Steven Spielberg. No final desta década, em 1998, juntamente com outros gurus da banda desenhada espanhola, criam o festival de BD Viñetas desde o Atlántico na sua cidade natal da Corunha e do qual é director desde então.
Prado volta à BD no final da década para adaptar a história infantil composta por Sergei Prokofiev em Pedro e o Lobo enquanto que termina diversas séries de histórias curtas iniciadas no seu princípio de carreira e que são compiladas nesta altura: Fragmentos da Enciclopédia Délfica, Stratos, Crónicas Incongruentes, Quotidiano Delirante e Tangências, todos publicados em Portugal pela Meribérica/Liber e pela Leya/Asa em diversas reedições.
Nestas histórias curtas que lhe valeram diversos prémios, Prado aborda o seu tema favorito de crítica social. Através do retrato de diversas situações nas quais os seus personagens se encontram e se deparam, o autor leva o leitor a rir-se e a confrontar-se com situações hilariantes e revoltantes para fazer o leitor reflectir acerca de certos aspectos da vida social de todos nós. Mesmo em obras com outra índole como Manuel Montano de temática policial ou Stratos e Fragmentos da Enciclopédia Délfica de índole ficção-científica, a crítica social mordaz continua sempre presente.
Em 2004 é convidado por Neil Gaiman para participar na antologia Sandman: Endless Nights, vencedora do Prémio Eisner para melhor antologia, juntamente com alguns dos maiores nomes mundiais da banda desenhada como Dave McKean, Frank Quitely, Bill Sienkiewicz e Milo Manara, entre outros.
Após esta passagem pelo mercado americano, Prado cria mais um álbum, A Mansão dos Pimpão, que poderia ser mais uma história do Quotidiano Delirante mas que se alonga por 48 páginas de uma família que herda uma mansão no interior galego e que se revela como sendo uma grande carga de problemas e uma mordaz crítica ao “chico-espertismo”, como salienta o autor.
É a história de uma família apanhada entre caciques e corruptos, que retrata a realidade galega, mas que se pode extrapolar a outros sítios, porque isto passa-se em todo o lado.
Nesta altura é também editado Belo Horizonte, uma obra semelhante há que tinha realizado uma década antes sobre Lisboa, Carta de Lisboa, onde ilustrou um texto de Eric Sarner, e que retrata a cidade de Belo Horizonte e os seus contrastes.
Durante estes anos, Prado usa os seus conhecimentos de ilustração e cinema de animação trabalhando em De Profundis, um filme de animação integralmente escrito, desenhado e realizado por si, sobre o qual também cria um livro ilustrado. Nesta obra, Prado volta à temática onírica e marítima, que já tinha abordado em Traço de Giz, numa história acerca de um violoncelista pintor que toca para os cetáceos numa mansão assente num pequeno ilhéu no meio do mar.
Em 2012 é publicado a sua obra de maior fôlego, Ardalén, um portento de 256 páginas ao qual o autor dedicou 3 anos e meio da sua vida justificando-se com a exigência que o meio lhe requerer.
A banda desenhada é uma linguagem lenta. Não há atalhos. Há sempre um espaço em branco em que você tem que ir vinheta a vinheta. Neste eu trabalhei a um bom ritmo, creio que se o tivesse feito com menos anos de experiência teria demorado o dobro do tempo.
Reconhecido talento da BD europeia, ganhou por duas vezes o Prémio Alph-Art do Salão de Angoulême, foi nomeado para os prémios Eisner e Harvey e premiado por diversas vezes para melhor obra, guião e Grande Prémio no Salón del Cómic de Barcelona. Em Portugal o Salão Internacional de BD do Porto granjeou-lhe um prémio em 1988 e Festival de BD da Amadora laureou-o com o Prémio de Honra da Câmara Municipal de Amadora em 1994 e uma Menção Honrosa de Melhor livro estrangeiro em 1997.
Enquanto não é possível privar com o autor na Comic Con Portugal, podemos visitar uma mostra retrospectiva da sua obra, Mar interior, até ao final do ano em Santiago de Compostela.
[box title=”Bibliografia em português”]
- Ardalén (2013, Edições Asa) a sua obra mais recente e publicada no ano passado em Portugal, nomeada para o Prémio Nacional de BD na categoria de Melhor Álbum estrangeiro.
- O Futuro Roubado (2012, Deriva) – texto de Ramón Caride com ilustrações de Miguelando Prado e com a particularidade de estar incluído no Plano Nacional de Leitura.
- De Profundis (2008, Edições Asa) – duas versões deste livro foram publicados uma das quais inclui um DVD do filme de animação
- Quotidiano Delirante – publicado pela Méribérica em 3 volumes e recentemente reeditada pela Asa
- A Mansão dos Pimpão (2006, Edições Asa)
- Belo Horizonte (2006, VitaminaBD)
- Clássicos da BD nº 14 A Arte de Prado (2003, Devir/Correio da Manhã)
- Fragmentos da Enciclopédia Délfica (2000, Meribérica)
- Stratos (2000, Meribérica)
- Crónicas incongruentes (Meribérica)
- Manuel Montano – O Manancial da Noite (2000, Meribérica) com argumento de Fernando Luna
- Traço de Giz (2000, Meribérica)
- Pedro e o Lobo (1997, Meribérica) – baseado na história infantil composta por Sergei Prokofiev
- Tangências (1996, Meribérica)
- Carta de Lisboa (Meribérica) – texto de Eric Sarner ilustrado por Prado
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Nota: a obra de Prado foi publicada durante várias décadas no nosso país, incluindo a publicação de histórias curtas em algumas revistas. Quem quiser contribuir com uma lista mais exaustiva da mesma, pode escrever-nos um email ou um comentário.