História do AmadoraBD: 2001

A edição de 2001 do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (AmadoraBD) teve início no dia 19 de Outubro de 2001, englobando diversas exposições em diferentes locais da cidade da Amadora.

O núcleo central do evento estava pela primeira vez na Escola Intercultural (Venda Nova). A nova sede, cuja escolha não foi pacífica, sobreviveu à inauguração e, embora perdendo no confronto direto com a Fábrica da Cultura, colheu o parecer favorável dos visitantes. Sobretudo, apresentava um espaço suficientemente compartimentado para não tornar evidente a significativa redução do orçamento do evento.

A Escola Intercultural apresentava o seu espaço dividido em dois pisos. O piso inferior acolhendo o bar, auditório, área comercial, zona de autógrafos, o espaço infantil (englobando o tradicional atelier, um espaço dedicado ao gato Zu e a magnífica exposição de originais do Tio Patinhas de Don Rosa), a exposição de BD francesa contemporânea e algumas pequenas mostras que partiram de propostas editoriais (David Soares, Plessix, Vera Tavares, etc.).

No piso superior estavam os trabalhos dos concursos, e as restantes exposições de banda desenhada: James Kochalka, Miguel Rocha, Confluências e Influências Externas na BD portuguesa (concebida para o espaço da Fábrica da Cultura), Diniz Conefrey, Rui Lacas, Hermann, Heróis da BD, Laerte, Alvarez Rabo e Carne Viva (as duas últimas com acesso limitado a maiores de idade).

Apesar da enorme valorização decorrente do trabalho de cenografia, a qualidade média da banda desenhada exposta decresceu. Não pondo em causa que o conteúdo do álbum em que as pranchas expostas se inserem não seja digno das maiores referências elogiosas, o preto e branco dominava a quase totalidade das exposições e em termos de soluções técnicas pouco havia de verdadeiramente excepcional. A exposição de originais de Hermann destacava-se, em termos de qualidade técnica, sobre todo o resto. A seguir a Hermann e sem qualquer preocupação de ordem, destacavam-se no espaço da Escola Intercultural as mostras dedicadas a Don Rosa, Michel Plessix, Miguel Rocha e a mostra das Confluências e Influências.

Apesar de algum decréscimo na qualidade média das exposições, o Festival teve uma maior atenção mediática. Embora muito menos integrados no Festival de Banda Desenhada do que na edição do ano anterior, os festivais paralelos de cartoon e cinema de animação voltaram a ser bem sucedidos. Joana Campante e o filme A Suspeita, distinguidos nos respetivos festivais, figuraram entre as vedetas maiores do AmadoraBD 2001, enquanto a Festa da Caricatura e a aposta mais genérica na Animação Portuguesa (desde logo com a exibição de uma antologia de curtas metragens realizadas entre 1971 e 2001) confirmaram-se como importantes marcos de popularidade.

Da parte dos autores, o Festival promoveu um leque muito diversificado. A aposta em pouco conhecidos autores alternativos resultou um pouco inconsequente, confirmando que o público português de banda desenhada é um pouco conservador. Em contraponto, as super-estrelas Hermann ou Don Rosa não conseguem grande empatia com o grande público.

No meio fica a virtude dos grandes triunfadores do Festival: alguns portugueses, como Miguel Rocha, José Ruy, David Soares ou Luís Louro, e estrangeiros mais acessíveis como Laerte ou Mattotti. O espanhol Alvarez Rabo é, naturalmente um complemento de um Festival (como o próprio é o primeiro a afirmar), e não um nome de primeira linha.

Hermann era uma lacuna do festival da Amadora na apresentação dos mais representativos autores franco-belgas. O autor já tinha visitado Portugal por diversas vezes, com um gosto particular pelo pequeno Salão de Sobreda, e o seu ambiente familiar. Ainda voltaria a Portugal depois da Amadora, numa visita a Beja.

Na edição de 2001, Hermann marcou presença, e a sua obra foi o motivo daquela que foi para muitos a melhor mostra de originais incluída no evento.

Para além de Hermann, estiveram presentes Marc Pichelin e Guillaume Guerse, Horácio Gomes, David Soares, Don Rosa, José Ruy, Filipe Alves, Pedro Guedelha, Marisa Costa, Patrícia Espinha, Laerte, Lorenzo Mattotti, Diniz Conefrey, Vera Tavares, Rui Lacas, Miguel Rocha, Jan Eliot, James Kochalka, Joana Campante e Alvarez Rabo.

Os Prémios Nacionais de Banda Desenhada distinguiram Tu és a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, de João Fazenda e Pedro Brito (Edições Polvo), como melhor álbum português, apesar de os prémios para melhor desenho e para melhor argumento para álbum português terem ido para Pedro Nora e David Soares em Mr. Burroughs (Círculo do Abuso). Isaac o Pirata – As Américas, de Christophe Blain (Edições Polvo) foi premiado pela Amadora (melhor álbum estrangeiro) antes de receber o prémio de Angoulême.

O troféu Honra distinguiu Geraldes Lino, dinamizador e leitor.

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