O AmadoraBD de 1995 teve um dos melhores cartazes em termos de autores: Milo Manara (Itália), Régis Loisel (França), Lee Hyun Se (Coreia), Iron (Espanha), Jaime Martin (Espanha), Maurício de Sousa (Brasil), Art Spiegelman (E.U.A) e Jean Dufaux (Bélgica) e, entre os portugueses, Luís Louro, Victor Borges, José Garcês, José Ruy, Nuno Saraiva, Alberto Varanda, Victor Mesquita, Carlos Morais e Patrícia Fonseca.
Mas o facto é que este grandioso elenco escondia afinal uma enorme falta. Em 1995, Hugo Pratt tinha confirmado presença na Amadora, depois de ter recusado o convite de Angoulême. Lamentavelmente, o genial criador italiano viria a falecer uns meses antes do início do Festival.
A edição de 1995 é também um marco de alguma polémica, na discussão sobre o público-alvo do evento. O erotismo presente nas mostras dedicadas à obra de Louro (sobretudo com “Alice”) e Manara, situadas em local privilegiado da Fábrica da Cultura, deram muito que falar. Foi a partir daqui que as exposições destinadas a um público adulto passaram a estar sempre devidamente assinaladas.
Os universos de Luís Louro e Milo Manara dominavam a entrada da Fábrica da Cultura, fazendo uma retrospectiva da obra dos autores, mas sobretudo centrados, respectivamente, nos álbuns “Alice” e “Verão Índio”. O habitual espaço para os trabalhos participantes nos concursos antecedia a mostra colectiva de cartoon “20 Anos de Democracia”, e as colectivas de banda desenhada “Moçambique”, “Crianças Terríveis” (de Quim e Filipe a Calvin & Hobbes) e ‘Pedranocharco’ (quase exclusivamente sobre “Paio Peres”). Não muito distantes, estavam três mostras individuais muito bem recebidas pelo público, dedicadas a Didier Comès, Victor Mesquita e Fernando Relvas. O universo das personagens de Maurício de Sousa prolongava o espaço de animação infantil, e antecedia uma das exposições mais ricas de conteúdo: a mostra dedicada a Jean-Michel Charlier.
Mais portugueses em destaque estavam agrupados em nova sequência de três exposições, com a “Filosofia de Ponta” de Nuno Saraiva e Júlio Pinto, a ‘apresentação oficial’ de Alberto Varanda ao público português, e a colectiva “B.D. no Feminino” que, depois das “Mulheres” de 1993, propunha dezasseis autoras contemporâneas de sete países diferentes. “Como pode Nascer Uma BD” foi uma exposição didática apresentada num piso mais elevado, com vista para o animado espaço “Oriente”, onde a banda desenhada coreana sobressaía.
Sob a forma de labirinto, a mostra da obra de Art Spiegelman apresentava um desafio de cenografia. Finalmente, uma colectiva sobre os 15 anos da revista espanhola “El Víbora” dava acesso a uma mostra sobre ‘Peter Pan’, onde os muito trabalhados originais de Régis Loisel ofuscavam os mais discretos Peter Pank de Max.
Sobre todo o (labiríntico) conjunto de exposições, a Fábrica da Cultura propunha como elemento unificador grandes imagens retiradas da obra de Hugo Pratt.
Luís Louro destacou-se entre os autores. A exposição da obra do autor e a sua presença no evento depressa fizeram com que o novo livro “Alice” vendesse mais de cinco centenas de exemplares só no festival! Na sessão de autógrafos de Louro, a fila estende-se até ao autocarro do ano editorial português que se encontrava à entrada da Fábrica. Louro ganhou também o troféu para o Melhor Álbum Português, com O Corvo (Edições Asa).
O troféu para o Melhor Álbum Estrangeiro Editado em Portugal distinguiu A História do Corvo de Ténis, de Fred (Meribérica-Liber) e o Troféu Honra distinguiu Fernando Bento (considerado, com Eduardo Teixeira Coelho, o mais representativo autor da época de ouro da banda desenhada portuguesa).
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