Exposição do “ostracizado” Carlos Alberto [actualizado]

Inaugurou ontem, dia 3 de Outubro, a exposição “60 anos da História de Portugal em cromos”, da autoria de Carlos Alberto, na Biblioteca Nacional Portuguesa.

Inaugurou ontem, dia 3 de Outubro, a exposição “60 anos da História de Portugal em cromos”, da autoria de Carlos Alberto, na Biblioteca Nacional Portuguesa.

figura15Esta exposição comemora os 60 anos da primeira edição da História de Portugal em cromos, em Outubro de 1953, uma colecção de 203 cromos vendidos em envelopes-surpresa, que teve edições sucessivas até 1973. Esta mostra inclui os originais da capa da caderneta e de alguns cromos, várias edições das próprias cadernetas e os respectivos envelopes-surpresa, e ainda diversos impressos e publicações que reproduziram ilustrações da colecção.

O autor da colecção é Carlos Alberto Santos, hoje um reputado pintor especializado em temas históricos, estando representado em colecções privadas e museus em Portugal e no estrangeiro. O seu trabalho esteve patente em 44 exposições individuais e 50 colectivas.

Nascido em 1933, começou o seu percurso artístico muito jovem como  desenhador. Em 1953, após três anos de trabalho, completou a História de Portugal para a Agência Portuguesa de Revistas.  A publicação desta colecção constituiu o maior êxito da conhecida editora  no campo do cromo e tem hoje um estatuto mítico nas memórias dos que a coleccionaram durante os 20 anos em que foi vendida.

figura08bCarlos Alberto no início da sua carreira realizou alguns trabalhos de Banda Desenhada tendo colaborado com publicações como: Camarada, Mundo de Aventuras, Pisca-Pisca ou Jornal do Cuto, mas, cedo abandona a BD pela pintura o que não o impede de regressar ocasionalmente. Em 1969 realiza uma história curta sobre Vasco da Gama: “O Almirante das Naus da Índia”, publicada no Pisca-Pisca. Em 1972 publica “Camões – Sua Vida Aventurosa”, a que o Mundo de Aventuras dedicou duas edições simultâneas: um número especial com uma versão reduzida. Esta história  seria posteriormente reeditada pela Asa num álbum a cores.

Este trabalho é por muitos considerado o apogeu de Carlos Alberto enquanto autor de Banda Desenhada, incluíndo o próprio. Sobre essa obra Jorge Magalhães escreveu o seguinte:

“O Camões de Carlos Alberto tem os traços fulgurantes do aventureiro e do épico, do estudante boémio e do poeta, do apaixonado e do trágico. Um retrato à escala humana e heróica, com destras pinceladas de um bem doseado realismo, realçando o equilíbrio plástico e a maturidade do artista, no estilo clássico e romântico que caracteriza a sua obra; uma excelente BD, em suma, tanto no plano gráfico como de ficção histórica, que é unanimemente considerada o melhor (de longe) trabalho de Carlos Alberto neste domínio  – mas também o seu «canto de cisne», o seu adeus quase definitivo a uma Arte que não o satisfazia plenamente.”

Em 1976 ilustra os contos de Zakarella de Roussado Pinto para a revista homónima,  no final da década de 80 ilustra a história curta “A Filha do Rei de Nápoles”, publicada no álbum colectivo “Contos das Ilhas”, escrito por Jorge Magalhães e editado pela Asa, sendo esta a última BD que publica.

Existem algumas pessoas que, por desconhecimento ou ignorância, consideram Carlos Alberto um autor esquecido pelo meio bedéfilo, outros não hesitam em aventar teorias da conspiração, apesar de existirem provas em contrário. Contudo, a verdade é que a sua parca produção, na área de banda desenhada, em comparação com outros autores da sua geração, não impediu que a qualidade do trabalho de Carlos Alberto fosse reconhecida e homenageada nos Salões de BD de Sobreda, Moura, Lisboa, Viseu e Amadora.

A exposição “60 anos da História de Portugal em cromos” é comissariada por Leonardo De Sá e João Manuel Mimoso. Leonardo de Sá tem escrito à longos anos sobre BD, tendo comissariado diversas exposições incluindo uma retrospectiva do trabalho de Carlos Alberto na Casa Roque Gameiro em 2005, incluída na programação do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. João Manuel Mimoso, coleccionador de cadernetas de cromos é o responsável pelo site dedicado à obra de Carlos Alberto, onde é possível encontrar informações sobre as diversas vertentes do artista assim como alguns dos seus trabalhos.

A exposição será acompanhada de um catálogo em formato e-book e e inclui um encontro com o autor Carlos Alberto Santos e com os organizadores da mostra, no dia 18 de Outubro.

“60 anos da História de Portugal em cromos” vai estar patente na Biblioteca Nacional de Portugal,  Campo Grande Nº 83, até ao dia 31 de Outubro.

Actualização: Por lapso encontrava-se indicado no texto que Carlos Alberto tinha desenhado BD da Zakarella, quando na realidade só ilustrou contos e realizou as capas, fica aqui um pequeno esclarecimento de Leonardo de Sá relativo a essa situação:

A Zakarella nunca foi uma banda desenhada. A personagem aparecia antes nas curtas novelas escritas pelo Ross Pynn [aliás, Roussado Pinto] e *ilustradas* pelo Carlos Alberto Santos, e dava portanto título à publicação. Ou seja, a revista “apenas” publicava os excelentes comics de terror dos magazines norte-americanos Creepy e Eerie, da Warren Publishing (mais algumas historietas curtas do espanhol Alfonso Figueras), mas nunca chegou a incluir BD portuguesa.

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